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Quando Finn voltou, Ravenna estava curvada, com uma mão apoiada naparede para se manter em pé.

Ela não ousava se olhar no espelho. Não queria vero que seu rosto se tornara. Havia linhas profundas nos cantos da boca e dos olhos,podia senti-los. A pele do pescoço pendia flácida, cedendo sobre sua gargantilhade diamantes. 

- Tenho algo para o que a aflige - disse Finn. Ravenna olhou para a garotadiante dela. — O que é mais belo do que uma rosa? — Finn perguntou. 

Rose lutou para se libertar de Finn. Sua pele era de uma bonita cor decreme. Tinha grandes olhos azuis e cabelos louros. Ravenna sorriu, amando tudonela. Ela era tão jovem, não tinha nem 17 anos. Era tão... Perfeita.

- O que você vai fazer comigo? — a garota perguntou. Ela se contorceu,tentando novamente se libertar.

Ravenna caminhou em sua direção, seus passos ecoando na imensa sala depedra. Precisava daquilo mais do que tudo. Não apenas para restaurar suajuventude e sua energia, mas também para restaurar sua capacidade de liderar oreino.  "Sim" pensou enquanto levava a mão ao pescoço da garota. " As pessoasprecisam de sua rainha."

Fechou os dedos em torno da garganta da jovem. Rose abriu a boca paragritar, mas não saiu nenhum som. Ravenna podia sentir a essência da juventudeda garota se derramando, um poço de energia esperando para ser desfrutado. Arainha se inclinou para trás, deixando a energia fluir da boca de Rose para a dela,enchendo-a de energia e juventude dos dedos dos pés até o alto da cabeça. Sentiusua pele se esticar. A mão que segurava a garganta de Rose parecia mais jovemagora, as manchas de idade haviam sumido. Seus ombros não estavam maiscurvados. Ravenna ficou ereta, sentindo o poder pulsar. Viveria para sempre dessamaneira, manteria a beleza da juventude.

Quando tudo acabou, Ravenna soltou sua presa. Rose caiu de joelhos. Suasmãos agora estava m retorcidas. Seu rosto estava murcho e enrugado, o cabelocrespo e cinza. Debruçou-se no chão, as costas curvadas. Parecia ter quase 80 anos.Todos os traços da bela jovem que ela fora haviam ido embora. 

Ravenna fitou seu irmão exultante. Até ele estava mais jovem, rejuvenescidopelo novo poder da irmã, O feitiço que sua mãe usou para conectá-los era maisperceptível agora: Finn estava com uma pele radiante e seus olhos brilhavam comuma nova luz. Ele estava ainda mais forte do que antes. Seus músculos eramperceptíveis até sob a camisa de linho.

Ela não sentiu pena da garota. Sentiu apenas o poder, a doce embriaguezque vinha toda vez que ela tomava a juventude de alguém. Não havia nada quepudesse detê-la. Era mais esperta do que os homens mais inteligentes do reino,mais forte do que os mais ferozes guerreiros e mais bela do que todas as donzelasque vieram antes dela.

Entrou na sala do espelho, queria apenas ver seu reflexo. O homem-espelhopoderia confirmar o que ela já sabia ser verdade . Desejava ouvir sua voznovamente, a fim de ser confortada por sua magia. 

— Espelho, espelho meu — começou —, quem é a mais bela de todas? —olhou para a superfície brilhante. Seu pulso acelerou quando o espelho se derreteuaos seus pés e se transformou na estátua de bronze. Seu próprio rosto a olhava devolta no semblante liso e sem detalhes de seu reflexo.

 - Minha rainha — o espelho disse —, você desafiou a natureza e lheroubou seu mais belo fruto. Mas, hoje, há alguém mais bela do que você. Ela é arazão do seu poder declinar.

Quem poderia ser mais bela do que ela? Ravenna não havia consumido ajuventude das meninas mais radiantes no reino? Para que tudo aquilo? Ela fechouos punhos. Não havia ninguém mais bonita do que ela, ninguém mais poderosa oujovial. O espelho estava errado, tinha de estar. Agitou-se, com raiva. A grandezaque sentiu depois de conquistar Rose havia desaparecido rápida e completamente. 

- Quem é?! Me dê o nome dela! — sibilou entre dentes. 

Seureflexo a fitou. 

- Branca de Neve — disse o espelho. 

— Branca de Neve? — Ravenna repetiu e engoliu em seco. — Eu deveriatê-la matado quando era uma criança. Ela é a causa da minha ruína? 

O espelho trouxe os dedos ao queixo e o acariciou como se estivessepensando.— Entretanto, ela também é o seu tesouro , minha rainha. Foi sábio tê-la mantido por perto, pois a inocência e a pureza que podem destruir tambémpodem curar. Tenha o coração dela em sua s mãos e você nunca mais precisaráconsumir juventude. Você nunca mais enfraquecerá ou envelhecerá. Imortalidadesem preço...

Ravenna olhou para suas mãos, tentando imaginar como seria nunca maisvê-las novamente como as havia visto há apenas alguns minutos: enrugadas ecobertas de manchas de idade. Como seria nunca mais ter respirações curtas,nunca mais sentir o peso da idade sobre ela?

Como seria viver eternamente?

Soltou uma risada baixa, o som de sua risada a estimulou e ela caiu nagargalhada, chorando de tanto rir. Branca de Neve, é claro! Apenas Branca deNeve poderia lhe dar esse presente. Havia uma razão em tê-la salvado, ela sempresoube. Havia uma razão em estarem conectadas. E, agora, essa razão lhe havia sidorevelada... 

- Finn — gritou ela, o riso a consumindo. — Traga Branca de Neve aqui!Ela continuou rindo, a leveza da ideia a confortava. Fechou os olhos e aslágrimas escorreram por seu rosto. Poderia viver eternamente. Só tinha de matarBranca de Neve e tomar seu coração. Tudo era tão simples, tão óbvio. Como nãohavia percebido antes? 

Quando finalmente abriu os olhos, estava sozinha na sala. O espelho eracomo qualquer outro espelho, seu reflexo revelava a sala vazia, O homem-espelhose fora , mas suas palavras ainda ecoavam em seus ouvidos: "Imortalidade sempreço."

Branca de neve e o caçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora