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Os soldados de sombra formaram uma nuvem sobre eles. Um deles avançouna direção de Eric. O caçador cortou o peito do soldado com o machado, Ohomem quebrou como vidro, os fragmentos minúsculos explodindo de seu centro. Em segundos, o homem ficou inteiro de novo, os fragmentos se unindo. Eleavançou em Eric novamente, balançando sua espada brilhante

Branca de Neve nunca havia visto nada parecido. Os guerreiros de sombraestavam atacando seu exército. Ao seu redor, os homens caíam, incapazes de semanterem contra o ataque selvagem. As sombras não mostravam sinais decansaço. Seus rostos eram estranhos e sem traços característicos. Todos osferimentos que sofria m rapidamente se curavam. Quando eles se moveram,dirigindo as espadas contra o exército de Branca de Neve, ela sentiu os olhos dealguém sobre ela. 

Olhou para a varanda do terceiro andar. Lá, Ravenna estavapostada, o manto de penas negras cobria seu corpo. Sorria assistindo ao ataque doexército mágico, os guerreiros da escuridão vencendo a batalha.

Branca de Neve não hesitou. No canto, perto da escada, os corpos estavamempilhados. Resistentes à dor, os guerreiros de sombra estavam matandorapidamente. 

Eles lancearam um de seus soldados com as espadas, depois seviraram para outro. Ela correu para uma das sombras, bloqueando-a com seuescudo. O guerreiro negro tropeçou, dando-lhe tempo suficiente para correr. Balançou sua espada contra outro soldado e o quebrou.

 Continuou serpenteandopelo pátio, a batalha crescente em torno dela, quando finalmente chegou àescada . Disparou pelos corredores silenciosos, assustada com o som de suaprópria respiração ofegante.

Desembainhou sua espada enquanto se dirigia para o segundo lance. Era amesma ala do castelo onde seu pai vivera todos aqueles anos antes de se casar comRavenna. Agora estava diferente, porém. As cortinas estavam rasgadas. O longocorredor estava escuro, sem tochas para iluminá-lo. A cômoda estava tombada delado, a madeira tomada pelo bolor. 

Ao lado dela, havia uma porta entreaberta, o quarto brilhando com umaestranha luz. Atentou-se para a sala do trono da rainha. Uma cadeira coberta dejoias repousava encostada na parede. Espadas polidas estavam penduradas acimadela. Havia também uma caixa de madeira cheia de coroas ornamentadas comrubis enormes. Branca de Neve segurava a espada à sua frente, observando tudo.Atrás de outra porta, ao lado de um espelho de bronze maciço, estava Ravenna.Branca de Neve reconheceu seus olhos no reflexo deformado.

- Isso termina hoje - disse Branca de Neve, seguindo em frente. - Eu vim por você.

Ravenna virou, um leve sorriso nos lábios. 

- Então, minha rosa está de volta - disse rindo. Olhou para a espada deBranca de Neve. - com um espinho. Veio vingar o pai, que era muito fraco paralevantar sua espada. 

Puxou uma adaga repleta de joias do manto, girando-a emsua mão. Branca de Neve subiu os degraus e ficou diante de Ravenna, fitando seusolhos azuis penetrantes. A ira cresceu em seu peito. Como Ravenna ousava falarde seu pai, o homem que ela havia assassinado?

- Por meu pai - disse Branca de Neve, segurando sua espada no ar - , peloreino e por mim. 

Saltou em direção à Ravenna , mas a rainha disparou paralonge. Ela se esgueirou pelas costas, circundando Branca de Neve por trás. Brancade Neve virou e golpeou contra ela novamente. Ravenna se moveu muito rápido,contudo, e avançou a passos largos para o outro lado da sala

Passos soaram no corredor de pedra. Branca de Neve viu Eric e William naentrada da sala do trono. Ravenna levantou o braço. Com um estalo de seu dedo, ocandelabro do teto acima deles se quebrou. Os cacos de vidro caíram, as peças setransformaram em fadas da escuridão. Elas avançaram em direção aos homens eos mantiveram longe de Branca de Neve. 

Quando Ravenna estava convencida de que não mais seriam perturbadas,virou para a garota com seus olhos azuis e a estudou. Aquela criança, que elahavia salvado há tantos anos, havia voltado agora para matá-la. A ironia daquelasituação era quase insuportável. Ravenna não desejara que a garota morresse, masnão tinha escolha. O espelho já havia dito: ou era a sua vida ou a de Branca deNeve. E ela já havia se divertido com essa rixa o bastante.

Branca de Neve avançou sobre ela com a espada desembainhada. Quandoestava a trinta centímetros, Ravenna a fez tropeçar e a garota caiu de bruços nochão. 

Sua espada patética deslizou, cruzando a sala para o lado mais distante.Ravenna pairava sobre ela, os olhos fixos no peito de Branca de Neve, O coraçãoestava tão perto e, dentro de poucos minutos, ela o seguraria em suas mãos. 

Dessavez ela não seria interrompida. 

Isso é tudo o que a vida tem para oferecer — Ravenna sibilou. Fitou osolhos castanhos enormes de Branca de Neve, quase sentindo um pouco de pena dagarota. — O tempo passa. A esperança morre. Mas nem tudo está perdido. Pois,pelo menos agora, uma de nós viverá para sempre... 

Ravenna levantou a adagaenfeitada com joia s que havia confeccionado dez anos antes, na noite de seucasamento. Era tão fácil agora como fora então. Soltou um suspiro e a levou nadireção do peito de Branca de Neve, quando a garota a parou com o antebraço etorceu seu pulso. A dor rasgou no peito de Ravenna e ela soltou um grito,sacudindo-se com o impacto. 

Olhou para baixo, para o espaço macio onde as costelas se encontram. Agarota havia cravado uma faca nela. Uma pequena faca sem corte. Ravenna arfou,mas podia sentir o sangue em seus pulmões. Sentiu como se estivesse se afogando.Era impossível respirar. Ravenna, então, caiu no chão, com o assoalho frio depedra batendo contra suas costas.

A esperança nunca morre — Branca de Neve sussurrou. 

A garota seajoelhou ao lado da rainha, embalando a cabeça dela entre as mãos, enquantoRavenna tentava desesperadamente respirar. Era inútil. O sangue escorria por seupeito e se empoçava no chão. Sua visão estava turva. Não era assim que as coisasdeveriam acontecer. Mas uma minúscula parte dela dizia que aquilo era o correto,a garota estava apenas fazendo o que a própria Ravenna havia feito anos antes,vingando sua família.

 De onde estava deitada, Ravenna via as fadas da escuridão na sala do tronodesaparecerem. Quando elas se transformaram em pequenas nuvens de fumaça,soube que estava acabado. Estava morrendo, o último dos seus poderes mágicos,sumia.

Branca de neve e o caçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora