Branca de Neve disparou pela floresta. Mantinha os olhos no chão, saltandosobre troncos caídos e serpenteando entre os cogumelos, tomando o cuidado paranão levantar o perigoso pólen. Arbustos espinhosos cortavam suas pernas. Umgalho chicoteou seu braço e fez um vergão vermelho e dolorido. Mesmo com todoo pavor que sentia, ela continuava correndo sem olhar para trás.
Entrou em um campo de flores vermelhas. A terra tentava puxá-la parabaixo. Arrancava um pé, depois o outro, até que conseguiu cruzá-lo . Começou adescer uma encosta que terminava em um longo riacho coberto pelo nevoeiro.
Mas eles a encontraram. Entraram na Floresta Sombria e arriscaram morrersó para capturá-la. E haviam trazido aquele homem terrível, com suas calçasmanchadas de suor e álcool. Nunca havia visto alguém tão sujo. Quem era ele? Epor que havia aceitado entrar na Floresta Sombria? Ela podia entender por queFinn a seguira. Ravenna o controlava, lhe dizendo o que fazer, o que dizer, comose comportar. Ele nunca teve escolha. Os guardas simplesmente faziam o que lhesera dito. Mas o caçador, era assim que eles o chamavam, não era? Por que veio atéaqui, arriscando sua vida, se ele não precisava fazê-lo ? Ele mencionou algumacoisa sobre sua esposa e isso era tudo do que Branca de Neve se lembrava, Orosto dele ficou pálido quando Finn disse alto o nome dela. "Ela está sendomantida como prisioneira? Era esse o controle da rainhasobre ele?"
Branca de Neve continuou a descer a encosta escarpada. As trepadeirasfinas, que se agarravam nas laterais do morro, enroscavam em seus tornozelos,prendendo-a à terra. Ela as arrancava e se aproximava do riacho. Quando quaseo havia alcançado, uma mão pesada pousou em seu ombro. Outra cobriu sua boca,a impedindo de gritar. O caçador fedorento a puxou para si, um dedo sobre oslábios para pedir silêncio. Quando ele não viu mais sinal de resistência, a soltou,sua face se desmanchando em um sorriso de alívio
Ela sentia repulsa do sujeito: ele havia tentado entregá-la para Finn! Estavatrabalhando com os soldados de Ravenna para que pudessem arrancar seucoração. Mas e agora? Ela sabia que ele a havia deixado fugir, que ela já poderiaestar morta se ele assim o desejasse. Por que ele mudou de ideia? E por que aindaa seguia? A incerteza aumentava sua ira.
Então, ela girou seu punho para trás e lhe deu um soco na boca o mais forteque conseguiu. Ele perdeu o equilíbrio, ela o empurrou e ele colocou os dedos naboca, sentindo o sangue em seu lábio.
- Pode correr - ele ladrou quando ela seguia em direção à margemlamacenta. - Você não conseguirá escapar, mas o aviso foi dado. Então minhaconsciência está tranquila. - Ele deu de ombros.
Esse caçador era profundamente irritante, mas ela parou e ficou olhando oriacho mais de perto. Estava cheio de enguias. Seus corpos escuros se contorciamsob a água. Havia tantas delas que a água estava negra. Engoliu em seco sentindoque talvez, só talvez, ele estivesse certo. Temeu ir adiante.
Ficaram quietos por ummomento até que o caçador perguntou.
- Por que a rainha a quer morta?Ela virou e notou os seus olhos cinza pela primeira vez. Ele tinha braçosmusculosos e um tórax largo. Seus cabelos cor de palha desciam até os ombros.Percebeu que ele havia sido ferido na luta. O sangue tingia sua camisa e seespalhava pela roupa de couro.
- Você está machucado - sussurrou quando o viu pressionar a ferida. Eleacenou, ainda esperando que ela respondesse. Branca de Neve olhou para o chão.Ela quer todas as jovens do reino. Rouba sua juventude e beleza... Eu vi o queacontece com elas.
- Mas você escapou — disse o caçador. - Por quanto tempo ficou presa?
Branca de Neve olhou para a Floresta Sombria, assegurando-se de que nãohavia ninguém os espreitando no nevoeiro.