Ouviu-se um grito. Branca de Neve acordou, os olhos lentamente se ajustando à escuridão. Levou um tempo para lembrar onde estava. O fogo estava apagado. Sentiu que algo em sua mão: era o medalhão de osso, o mesmo que Eric tinha lhe mostrado horas antes. Olhou ao redor do deque de madeira e no interior da cabana de palha, onde Anna e Lily dormiam. O caçador tinha ido embora.
Examinou a aldeia, O ar se enchia de fumaça. A casa levantada do outrolado brilhava com uma estranha luz. Duas das mulheres perscrutavam o exteriorda pequena janela na lateral, uma delas cobrindo a boca em horror. Branca deNeve circulou o deque, finalmente vendo o que elas viam, O céu estava cheio deflechas incendiárias. Arqueiros estavam posicionados na encosta acima da aldeia,delineados pelo céu estrelado.
Dentro de segundos, a primeira flecha chegou. O míssil de fogo acertou umacasa próxima à de Anna. O teto pegou fogo, as chamas se espalharam econsumiram a pequena estrutura. A mulher mais velha, que havia enfaixado aferida de Eric, correu para fora da cabana. Seu vestido de linho fino pegava fogonas costas. Ela tentou tirá-lo, mas era inútil. Enquanto corria, as chamas crescerame seus cabelos pegaram fogo. Gritou quando pulou do deque de madeira e sumiuno pântano abaixo.
O exército de Finn estava se aproximando. Branca de Neve podia ver seusrostos agora, brilhando à luz do fogo enquanto se aproximavam das margens dopântano. Alguns conduziam seus cavalos pelas águas rasas. Continuaram atirandoflechas nas casas. Outros subiram nos barcos, desatracando-os nas águas paradas.Bem abaixo, um homem com uma faca pulou para uma escada de madeira ecomeçou a subir até a cabana de palha. Uma mulher, com uma longa trança, jogoulenha sobre ele do deque acima , tentando retardar seu progresso. Em seguida,Branca de Neve o avistou.
Finn conduzia seu cavalo, que estava atrás das árvores.Ergueu seu arco, lançando urna flecha em uma cabana das proximidades.
- Encontrem-na! - gritou.
Branca de Neve escorregou para trás da cabana, tomando cuidado para nãoser vista. Moveu-se rapidamente.
- Eles estão aqui! - gritou, disparando para a sala . Correu em direção aAnna, sacudindo-a para que acordasse. - Os homens da rainha estão aqui.
Anna esfregou os olhos. Olhou para Branca de Neve, incrédula. Quando sesentou, uma flecha atravessou o telhado e se alojou no colchão ao lado da cabeçade Lily. O colchão de lã pegou fogo. Branca de Neve correu para a menina, quedormia, puxando-a da cama e colocando-a sobre o ombro. Estava prestes a correrquando Anna gritou. Branca de Neve virou-se. Atrás dela, em pé no deque, estavaum dos homens de Finn. Ele sorriu quando seus olhos se encontraram, revelandoum dente da frente faltando. Era tão alto e largo que tomava a porta inteira,tornando impossível a passagem. Então, sem qualquer aviso, ele correu em direçãoa elas.
Sem pensar, ela arrancou a flecha do colchão e cravou a ponta flamejante nacoxa dele, parando de enfiá-la apenas quando encontrou o osso. Ele soltou umgrito lancinante e desabou no chão, as chamas se espalhando para as panturrilhase para a cintura, até que metade do corpo estava queimando. Ele se contorcia dedor.Branca de Neve o observava, horrorizada. Não conseguia parar de olharpara o rosto deformado. Lágrimas se espremiam pelo canto dos olhos dele. Acabana se encheu de um fedor de carne queimada. Ele se dobrou ao meio, afumaça presa em seus pulmões. Por um momento, temeu estar condenada.
Anna a segurou pelo braço.
- Venha - gritou, apontando para a porta. Branca de Neve avançou,voltando-se uma última vez para ver o soldado. Ele arfava, com as mãos tentandodominar as chamas crescentes.
Correram escada abaixo, quase dois degraus por vez. Branca de Neve sejogou no pântano com Lily em seu ombro. A menina começou a chora r quandoavançaram pela água barrenta, que alcançava o peito de Branca de Neve. Haviaapenas caos ao redor delas. Muitas das palafitas estavam em chamas. Fumaça ecinzas enchiam o ar. Destroços em chamas caíam do alto, mergulhando nas águasrasas do pântano e se extinguindo com um assobio
Anna apontou para a praia adiante . Algumas das mulheres já haviamchegado lá e agora corriam para as árvores. Branca de Neve as seguia pela lama,movendo-se tão rápido quanto podia. Atrás delas, ouviram os berros e os gritosdas outras mulheres. Uma menina mais jovem do que Lily segurava a mão de suamãe e quando elas pularam do deque de madeira.
Branca de Neve mantinha osolhos na margem à frente, não queria olhar para trás.
- Onde ela está? - um dos homens gritou.Quando finalmente chegaram à terra, suas roupas e
suas roupas estavam encharcadas.Branca de Neve avançava, seguindo o restante das mulheres, quando umcavalo cruzou seu caminho.
Um dos mercenários pulou dele. O homem era maispesado do que os outros, com um papo que se derramava sobre o colarinho de suacamisa. Desembainhou a espada e seguiu em sua direção.
- Corra! - Branca de Neve gritou, passando Lily para os braços de Anna.Branca de Neve apontou para o bosque. Se o distraísse, elas teriam temposuficiente para fugir. Dirigiu-se para onde o homem pudesse vê-la claramente.Segurou a adaga em sua mão direita, tomando a posição que o caçador havia lhemostrado, um braço para cima e o outro parado, apenas esperando o inimigo seaproximar.
O mercenário veio até ela. Branca de Neve segurou a adaga no alto, olhandoem seus olhos negros. "Um...", pensou, observando-o se aproximar "Dois, três‟Quando ele estava a um palmo, ela o cortou com a adaga. Ele se envergou paratrás, com uma pequena ferida aberta no peito e riu. Então, deu-lhe um soco noestômago. Ela caiu no chão, não conseguia respirar.
Ele ergueu a espada. Branca de Neve o olhou, ofegante, esperando a lâminadescer em seu pescoço. Então, uma flecha passou zunindo e atingiu o soldado umpouco acima de seu coração. Ele soltou um grito horrível enquanto cambaleavapara trás. Deixou cair a espada e não tentou arrancar a flecha.
Branca de Neve se sentou. A três metros de distância, estava um jovemsoldado, o arco ainda em suas mãos. Era alto e magro, com queixo quadrado e asmaçãs do rosto salientes. Tinha cabelos castanhos ondulados e grossos, que caíamsobre seus olhos, e uma sutil covinha no queixo. Ficou ali, olhando para ela, comum leve sorriso nos lábios. Ela notou a maneira como ele empurrou o arco porcima do ombro, de modo a pendurá-lo nas costas. Havia algo muito familiarnaquele gesto. Ela o reconhecera, mas de onde?
A fumaça se levantou em torno deles. O fogo se espalhou para algumasárvores. As mulheres gritavam à medida que corriam em direção às montanhas, Ojovem tentou falar, mas Anna correu e agarrou Branca de Neve pelo braço.
- Vamos! — sussurrou. — Não temos muito tempo. Apontou para asmargens lamacentas, de onde os homens de Finn estavam avançando.
Saíram correndo. Uma flecha flamejante caiu no chão ao lado delas. Emalgum lugar, uma criança chorava, os soluços geravam calafrios pelo corpo deBranca de Neve. Ela seguiu Anna pela floresta, correndo tão rápido quanto suaspernas podiam. Olhou por cima do ombro uma última vez, para as árvores quequeimavam, mas o rapaz havia ido embora.