Era hora de irmos comer, o inferno não era um lugar tão ruim, mas algumas pessoas diziam que aqui não era o inferno, não ainda.
Quando a refeição do dia foi anunciada Kristy agarrou minha mão e disse que era para eu a seguir, eu o fiz. Lá no fundo eu sabia que tinha medo dela, ela era linda, mas tão assustadora.
Chegando no lugar das refeições ela passou na frente de todos na fila puxando a minha mão. Acho que todos ali sabiam de quem ela era filha, então não fizeram nada a respeito.
Depois de pegarmos a comida ela nós guiou até uma mesa, num dos cantos mais limpos do refeitório, apesar de que naquele lugar a limpeza não era uma virtude.
Eu tinha a mania de comer e ficar imaginando o que cada um ali havia feito para vir parar aqui, mas hoje eu havia aberto uma exceção, porque além do mais eu me sentia incomodada quando Kristy me encarava da maneira como ela fazia nesse exato momento.
- E então, boneca, por que veio parar aqui? - perguntou ela mexendo aquela gosma que eles chamavam de comida.
- Acho que você deveria saber, além do mais você é filha do dono desse lugar, talvez deva saber de tudo, assim como ele. - respondi encarando a comida.
- Ser grosseira comigo não ajuda muito na nossa relação bonequinha. - ela disse agarrando meu maxilar com força e me forçando a olhar para ela.
Eu dei um tapa na em sua mão , mas ela apertou ainda mais o meu queixo, meu maxilar começava a doer.
"Se você acha que por que é filhinha de papai vai poder fazer isso comigo está muito enganada."
Ela soltou meu queixo e disse num riso engraçado:
- Já aprendeu que posso ler seus pensamentos, boa garota, use isso conta mim.
- Não tenho essa necessidade. - falei passando a mão no rosto onde eu tinha plena certeza que estava vermelho e com a marca das unhas enormes dela.
Empurrei a comida para a frente, num gesto de quem não ia nem experimentar aquilo. Ela empurrou de volta.
-Coma.
Empurrei novamente para a frente.
"Me obrigue."
Pensei cruzando os braços e fazendo careta.
- Não me faça fazer isso. - ela disse mastigando o pouco que restava da comida dela. - Não seja to- la a ponto de querer que eu te force a comer.
- Pare de me intimidar, isso não é tão legal como você acha que é. - falei a encarando.
Ela pegou minha comida e com a colher fez gesto de um aviãozinho, assim como meus pais faziam quando eu era criança e não queria comer.
- Pare Kristy. - falei brava.
- Só se você comer. - ela disse rindo.
- Pare de ser idiota, isso não funciona mais. - minha expressão facial só piorava a cada " VRUUM" que ela fazia com aquela colher perto da minha boca. - Pare. - falei agora quase gritando.
Ela então enfiou a colher quase na minha garganta e riu alto. Engoli forçadamente e dei um tapa no rosto dela.
Me levantei da mesa, ela foi mais rápida que eu, se levantou num pulo e me agarrou pela cintura.
- Não faça isso. - eu disse a ela.
- O que você vai fazer para impedir? - ela perguntou me olhando nos olhos.
- Na... Nada . - falei gaguejando e encarando os lábios tão negros dela.
Ela me beijou, foi melhor que os beijos anteriores, ela parecia gostar daquilo. Eu também a beijei num gesto único.
Todos no refeitório pararam de comer para nos olhar, eu podia sentir isso.
- Você é tão linda. - ela disse arrumando meu cabelo depois do beijo.
Eu estava com vergonha, então me soltei dela e fui para o quarto, eu a vi de canto de olho, ela arrumava o cabelo e me olhava mordendo o canto da boca.
Quão linda ela é, pensei sumindo do campo de visão dela.
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Durma anjo pecador.
HorrorQuando as portas do meu inferno se abrirem, tema , pois nem o pior dos demônios irá escapar da minha fúria.