Algumas poucas horas se passaram e o alarme para que levantassemos tocou.
Gregory e Marco acordaram como de costume. Reclamando. A cama de Kristy estava vazia.
- Onde está Kristy? - perguntou Gregory como se eu tivesse a obrigação de saber.
- Por que eu deveria saber?
- Porque você é namorada dela.
- Não sou ...
Fui interrompida quando vi Kristy entrando com sangue na boca, hematomas pelo corpo.
- Kristy... O que ... Aconteceu? - perguntou Marco meio boquiaberto. Eu a olhava paralisada. Meu coração doía ao vê-la daquela maneira.
- Não vai perguntar o que houve Meggae? - questionou Gregory.
- Saíam os dois daqui. - Disse Kristy.
- Mas... Nós... - Gregory foi interrompido com um grito de Kristy.
- Saíam já daqui.
Os garotos sairam, foram para o refeitório.
Eu me levantei e fui até perto da grade do quarto onde ela estava parada, toquei seu rosto com cuidado. Ela estava muito machucada.
- Isso vai passar. - ela disse pressionando mais minha mão no seu rosto como num gesto de carinho.
- O que houve?
- Você não se importa. Por quê quer saber?
- Quem disse que não me importo?
- Por quê foge de mim então?
- Estou fugindo agora?
- Agora não, mas você sempre tenta escapar.
Eu retiro minha mão do rosto dela.
"As vezes eu tenho medo de você querida."
- Por quê você tem medo?
- Veja só, quem você é?
Ela abaixa a cabeça. Então dá um passo a frente, seu corpo fica bem perto do meu. Ela me encara e diz devagar e quase num sussurro.
- Eu sou quem você quiser que eu seja.
- Não é assim que funciona.
- Claro que é.
Eu dou um passo para trás.
- O que houve com seu rosto? Seus braços?
- Meu pai.
- Seu pai? Teve contato com ele? - fico com os olhos arregalados.
- Claro. - ela diz virando de costas para mim. - Ele é meu pai.
- Por quê ele fez isso com você?
- Porque fiz um pedido a ele.
- Que pedido.
- Por quê isso interessa tanto?
- Porque você está completamente machucada.
- Ele é o Diabo querida. Não precisa de motivos para me machucar.
Vou até minha cama, me sento lá. Rasgo um pedaço da minha blusa e mesmo sem água tento limpar o sangue fresco do canto da boca dela. Kristy é mais alta que eu, por esse motivo a coloco sentada. Ela parece estar triste.
- Kristy?
- Sim, diga.
- Você tem algum medo?
- Por quê essa pergunta?
- Por quê você sempre pergunta o por que das coisas?
- Porque sim.
- Então, responda. Você tem algum medo?
- Posso te contar uma pequena história?
- Pode. - eu a encaro fixamente, ela me dá um sorriso bobo e eu ligeiramente penso : "como eu amo esse sorriso." , então ela abre um sorriso maior.
- A muito tempo atrás, muito tempo mesmo, eu estava andando pela rua, os bondinhos passavam na avenida, eu estava com toda a fúria que meu pai havia me dado. Eu nem sabia de onde vinha tanto ódio. Meu pai infernizava minha cabeça dizendo: "mate alguém, soque a cara desses seres repugnantes, vamos filha, quebre alguma coisa." Eu andava sem rumo, então vi uma mulher, uma mulher linda, baixa, magra, cabelos longos, olhos grandes, a mulher mais perfeita de todas, ela vinha em minha direção, passou por mim e eu sentia o aroma dela, um cheiro gostoso de flores, eu a segui, ela subiu em um prédio eu esperei para saber se ela ia sair, mas ela não saiu, então eu fui embora, eu não tirava a mulher da cabeça, estava em fase de adaptação dos meus poderes, não conseguia ouvir os pensamentos dela, mas eu comecei a segui-lá, um dia eu a vi com um homem, vários anos se passaram e ela ficou grávida, teve uma filha, uma garota linda assim como a mãe, essa menina cresceu, eu acompanhei seu crescimento, ela ficava cada dia mais bela, mas eu nunca me aproximei, ficava de longe observando. Então essa garota se casou e teve uma filha, mais linda que ela, então eu também acompanhei o crescimento dela, mas um dia eu parei de segui-lá, tinha coisas para fazer, durante só um dia, e, depois desse dia eu fui atrás dela, mas ela entrou numa clínica clandestina, mas não saiu de lá, não com vida, então eu fui atrás dos motivos pelo qual ela morreu. A sua morte doía em mim, doía muito, então eu percebi que tinha medo, medo de perde-la, então contatei meu pai, disse que queria ir para o purgatório (aqui onde estamos)... - ela explicou dando ênfase. - Eu ia procurar essa garota aqui dentro e então eu ia mostrar como a amo e o quanto eu tinha medo de perde-la. Era meu único medo, ela era diferente das outras duas que eu tinha visto. Ela tinha algo melhor. Então quando eu vim pra cá eu entro no quarto e aqui estava ela, a garota, não tive que procurar, nossos destinos já estavam escritos. E como eu a amo. Meggae.
Eu fico um tempo em silêncio. Lembrando se já havia visto Kristy quando eu estava viva, e sim, eu já havia visto.
- Isso tudo é verdade Kristy?
Ela me beija, sua boca gélida vai ficando quente e eu sinto o desejo daquele beijo, ela passa a mão no meu rosto com toda a delicadeza do mundo. Droga. Eu a amo. Eu amo também. Ela para de me beijar e então diz:
- Pedi para o meu pai te deixar ir para o céu.
Aquelas palavras se repetem na minha cabeça, então ela continua:
- Ele disse que se todos os dias eu apanhasse e sentisse todas as piores dores do universo, ele a deixaria ir.
- Você não pode fazer isso, olha o seu estado, está muito machucada.
- Eu te amo Meggae, não posso deixar que fique aqui.
- Por você eu quero ficar.
"Eu amo você Kristy Rapper. "
Ela me dá um sorriso de alívio.
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Durma anjo pecador.
HorrorQuando as portas do meu inferno se abrirem, tema , pois nem o pior dos demônios irá escapar da minha fúria.