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Quando acordo no meio da noite, costumo ir à janela do meu quarto, olho para o céu, e o mesmo céu que amo parece estar entristecendo a cada dia. Pego o meu telescópio e consigo ver algo além daquela melancolia noturna; Consigo ver um espaço onde é calmo, vazio, silencioso e ao mesmo tempo tão vivo e cheio de surpresas como esperamos que realmente fosse a nossa vida.
Lembro de uma noite que meu avô disse exatamente essas palavras:
- Bernardo, está vendo aquele grupo de estrelas ali? É uma constelação. Não qualquer constelação, mas a constelação de Libra, a balança que segurada pela constelação de virgem representa a justiça, o equilíbrio, que nós, seres humanos esquecemos de ter em várias ocasiões de nossas vidas.
-Vovô, por que o senhor está me assustando?
-Não, meu querido. Não quero o assustar com as complicações do mundo adulto. Cometemos devaneios, somos pressionados muitas vezes a fazer o que não queremos, usamos uma máscara que podemos nos tornar qualquer pessoa que quisermos. Explicou o meu avô com a maior tranquilidade que poderia existir sentado sobre o gramado observando o céu estrelado.
- Como se fosse um poder de se transformar em qualquer pessoa no mundo?
-Não, não... Meu avô sorriu se aproximou de mim, que estava inquieto querendo descobrir o rumo desta conversa, me deu um abraço apertado, como se fosse o último abraço que ele me daria na vida, se ajoelhou na minha frente e disse:
-Bernardo, apenas viva a cada momento!
Vamos nos igualar as estrelas, elas também nascem, criam uma chama própria que ao decorrer da vida vai aumentando, criando experiência e toda vez que olhamos para ela, o seu brilho está maior, mais intenso até chegar uma hora em que essa chama vai se enfraquecendo, e ela não poderá mais manter seu brilho por muito tempo até que se apaga. Isso acontece conosco também, aprendemos e passamos por tantas coisas nessa vida, que aumentam nossa luz, mas chega momento em que temos que ter mais cuidados, pois nossa luz vai se enfraquecendo.
-O que o senhor quer dizer com isto vovô?
-Quero dizer, que eu estou como aquela estrela. Ele apontou para uma singela estrela que seu brilho estava quase sendo coberta pela imensidão da noite...
- Aquela estrela está me representando neste momento, logo eu irei deixar de brilhar, mas não se preocupe que eu sempre estarei com você, em seu coração. Agora feche os seus olhos e estenda seus braços, tenho uma surpresa para você.
Naquele momento, fechei os olhos, e o que mais desejava era que meu avô não ficasse como as estrelas, um dia sem mais nem menos deixar de brilhar. Não queria o presente, queria apenas continuar com o meu avô naquela colina, me contando sobre as constelações, me ensinando sobre o espaço. Queria eternizar os meus sete anos de idade em apenas uma noite.
Ao abrir os olhos na minha frente estava um telescópio. O objeto favorito do meu avô, que toda noite observava o céu e ninguém entendia o que tanto meu avô, estava procurando na imensidão do espaço.
- Bernardo, meu neto! Te entrego o meu objeto mais precioso. O objeto em que depositei todas as minhas esperanças e sonhos. Quero que prometa que irá usar este telescópio todas as noites, que será a memória que terás de mim. Você promete?
E eu prometi!
Com um olhar misturando uma saudade precoce e a emoção de ganhar o "tesouro" do meu avô. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, como se estivesse dado um filho seu para caridade.
Ele me deu um último abraço apertado, cochichou no meu ouvido "Meu neto querido eu o amo, e tenho orgulho do bebê que você foi, do menino que está sendo e tenho certeza que terei orgulho do homem que se tornará, estarei sempre contigo".
A partir deste dia, nunca mais fui o Bernardo que tentava ser. Meu exemplo de vida, tornou a ser o meu avô. E com ele eu tento descobrir até a onde eu consigo depositar a minha fé, minha esperança, e colocando o amor que Deus me proporcionou em um objeto. Mas não um objeto qualquer, e sim um objeto que ganhei de alguém muito especial, foi dele que ganhei o meu TELESCÓPIO.
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Telescópio
FantasiAviso: Capítulos disponibilizados semanalmente, todo sábado. Bernardo é uma criança que ganha de seu avô em estagio terminal, um presente que ele usará como amuleto emocional por toda sua vida. Na adolescência, um fato que muitos podem até chamar...