Capítulo 3 - Deixa eu cuidar de você?

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Mesmo com muita resistência e mentindo que ficaria bem sozinha, Donna concordou que Harvey a levasse até seu apartamento. Mais uma vez ele insistiu e subiu com ela.

- Harvey, eu vou ficar bem! Você ouviu Addison, está tudo bem, eu só preciso descansar - Insistiu Donna pela quinta vez.

- Donna, eu ouvi, mas não custa nada eu te fazer companhia - choramingou Harvey que na verdade só queria uma desculpa para ficar mais tempo com ela nesse dia estranhamente louco.

- Tá bem - bufou a ruiva - você se incomoda de ficar sozinho enquanto eu vou tomar um banho rápido?

Harvey negou com a cabeça e já foi se acomodando no sofá, tirou o paletó e a gravata e desabotoou alguns botões da camisa. Pegou a receita que a médica prescreveu e passou o olhar. Gravou a dieta prescrita como se fosse uma das leis com as quais trabalha, fez algumas ligações e foi direto para a cozinha de Donna.
Enquanto isso, há alguns metros de distância, Donna se despia sem pressa processando cada momento do dia de hoje - "E olha que ele mal começou" - pensou a ruiva entrando na água quente e forte de seu chuveiro. Deixou a água cair por cada pedaço de seu corpo branco e cheio de sardas e, pela primeira vez, pôs as duas mãos em sua barriga para sentir um pedaço dela e de Harvey que ali crescia. Permitiu-se chorar. Não tinha bem certeza, qual a razão daquelas lágrimas, mas deixou que elas rolassem bochecha abaixo e se misturassem com a água do chuveiro. Deixou-se demorar no banho até ter certeza que tinha deixado todas as lágrimas escaparem, pois a última coisa que ela precisava era chorar na frente de Harvey. 
Paulsen saiu do banho e foi em direção ao seu closet, escolheu a roupa mais confortável que achou: uma calça folgada de moletom cor cinza e uma blusa de seda da mesma cor; enxugou  o cabelo com a toalha de forma rápida e os deixou secar naturalmente. Pôs um robe branco por cima da roupa e saiu na direção do barulho que incrivelmente vinha de sua cozinha.
Donna piscou duas vezes para ter a certeza do que estava vendo: Harvey Specter em sua cozinha com a camisa um pouco aberta e para fora da calça, totalmente concentrado cortando algumas frutas. 

- Hey - falou o advogado - espero que não se importe mas eu abasteci sua geladeira de frutas e ate já preparei uma porção para você comer agora - disse Harvey colocando os morangos recém picados numa tigelinha de vidro transparente que já estava abarrotada de outras frutas em cubos - Ah, e já providenciei as vitaminas, estão logo ali na mesa -  ergueu o queixo apontando na direção.

- Ok?! Mas… - Donna ficou sem palavras - Como? Eu não demorei tanto assim, demorei? 

- Não muito, enquanto você banhava eu fiz algumas ligações e compras - explicou Harvey saindo da cozinha levando a tigela e um garfo até a ruiva - Coma! Pelo que li, você precisa sempre comer antes de tomar essas vitaminas e, aquela do frasco vermelho, vai te deixar sonolenta.

Donna demorou alguns segundos para digerir o que estava acontecendo. Durante esses anos ela sempre cuidou de Harvey, sempre se antecipou às necessidades dele, e, pela primeira vez, os papéis se inverteram e ela estava completamente impactada com isso. "De uma maneira boa", ela pensou. Recebeu a tigela e o garfo e se sentou no sofá de uma maneira bem relaxada, ela foi seguida por Harvey. 

- Você vai comer estas frutas agora, tomar as vitaminas e descansar, você entendeu? - ordenou Harvey.

- Sim, entendi - respondeu Donna mordendo um dos morangos cortados em cubos e se permitiu dar uma gargalhada.

- O que foi? 

- É que olhando para os morangos agora, é impossível não lembrar que por causa deles, estamos assim e aqui agora - disse a ruiva em um tom divertido olhando para Harvey a poucos centímetros dela.

- Você se arrepende? - cutucou ele erguendo uma sobrancelha.

- Hum - balbuciou Donna e antes de responder, comeu algumas outras frutas, deixando aquele silêncio durar uma eternidade - Não…. Não me arrependia antes…. Bem… você sabe...e agora… é que não me arrependo mesmo - e corou.

- Eu também não me arrependo! retrucou Specter rapidamente, desviando o olhar e roubando com a mão algumas das frutas da tigela de Donna.

- O que você disse para Jéssica? 

- Que você não estava se sentindo muito bem e que precisava que eu ficasse com você - e olhando nos olhos de Donna, Harvey disse - mas você sabe que eu direi a verdade a ela em breve, não é?

- Eu sei, Harvey.

Os dois ficaram em silêncio até que Donna terminasse de comer todas as frutas. Em seguida, Harvey se levantou e foi até a mesa redonda e preta da sala pegar os frascos de Vitaminas e um copo com água, entregando-as à Donna que as engoliu sem pestanejar.

- Agora que já fiz tudo que você mandou - falou Donna revirando os olhos - você pode voltar pro escritório e trabalhar, sabia?

- Sabia… mas eu não vou! Tirei o dia de folga também e vou ficar aqui! - respondeu com firmeza.

- Harvey….. não precisa.

- Donna…. Durante esses anos você cuidou de mim, agora, é a minha vez. Deixa eu cuidar de você? - disse ele sem tirar os olhos da ruiva sentada ao seu lado - Digo… de vocês! - O coração de Harvey disparou, mas ele não quis demonstrar nenhuma emoção a mais - Agora, a senhorita vai descansar.

Donna não conseguiu formular nenhuma frase decente, achava que se falasse algo provavelmente choraria, então ela apenas balançou a cabeça concordando com ele, logo em seguida, levantou-se e caminhou sem pressa em direção ao seu quarto. Ela realmente precisava dormir, estava um tanto estafada. Harvey estava logo atrás dela, como um general que fiscaliza seus subordinados. Ela se deitou do lado direito de sua cama, não sabia o porquê mas só dormia do lado direito, e Harvey se acomodou na poltrona que ficava ao lado esquerdo. Ficaram em silêncio por um tempo.

- O som do coração, Donna - disse Harvey olhando para um ponto fixo na parede

- Eu sei! Tornou tudo bem real - disse Paulsen, e foi a última coisa que ela lembra de ter dito antes de piscar os olhos várias vezes tentando se manter acordada.

Harvey ficou observando Donna adormecer, a respiração compassada dela o trouxe uma sensação de tranquilidade e memórias. Memórias de 3 meses atrás quando ele dormiu ali, ao lado dela, e acordou primeiro para a observar. 

Algumas horas depois, Donna abriu os olhos piscando forte, e sua visão apesar de ainda embaçada reconheceu a imagem dele no sofá ao lado. Estava com outra roupa, calça de moletom preta e camisa de gola V da mesma cor, usava um óculos meio aredondado também preto e se encontrava bem concentrado digitando algo no notebook que mantinha nas pernas.

- Por quanto tempo eu dormi? - indagou Donna sentando na cama e esfregando os olhos.

- Digamos que por muitas horas - respondeu Harvey em tom jocoso - mas não se preocupe é bem normal no começo da gravidez.

- Hum! - foi o que a ruiva conseguiu dizer.

- São quase 5 da tarde Donna, fui em casa, almocei, descansei, troquei de roupa, trouxe alguns materiais de trabalho e você só roncou a tarde inteira.

- Eu não ronco não! - retrucou Donna fazendo Harvey cair na gargalhada.

- E bem, como você se sente? 

- Bem descansada para falar a verdade.

- Ótimo! Donna… - falou Specter compassadamente olhando pra ela - vou precisar jantar com um cliente hoje, mas me prometa que qualquer coisa vai me ligar!

- Prometo, Harvey! Pode ir tranquilo, estou...estamos bem.

Harvey fez Donna prometer pelo menos umas 4 vezes que ligaria se precisasse de algo, e antes de deixar o apartamento 206, recolheu seus pertences espalhados pela sala e mostrou a ela onde estava o jantar que ele havia pedido e as outras vitaminas que ela precisava tomar. Saiu como se tivesse deixado um pedaço dele para trás, " e de certa forma deixei", sorriu ao pensar nisso. Foi para casa trocar de roupa e voltar a ser o Harvey Specter dos negócios. O homem de terno.

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