Carta 1

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12.03.2020
📍Fundo de mim

Querido mundo,
De certo não tens culpa das minhas angústias, não te culpo por não gostar daquilo em que te tornaste. No mais fundo de mim anseio que voltes àquilo que foste um dia, belo e puro. Que odeio estes perdidos e cada vez que vagueio na rua só vejo almas más e sujas e cordas nos pescoços alheios. Me sinto deslocada, invisível impotente, que faço eu aqui? Escrevo cartas a uma sociedade pútrida e desejo que em algum momento me escutem. Não vai acontecer.
Apelo aos deuses que tragam a luz a este fundo do mar, e que tragam os ventos e levem o ódio pelo ar. Não sei quem sou. Pouco talento para ser poeta demasiado pensadora para ser patética. Eu não devia estar aqui. E cada vez que me olho no espelho, não gosto do que vejo, foco então no meu propósito mas não sei mais se tenho um. Digo te mundo, que queria ser melhor mas não consigo porque não me deixas viver e continuo a não te culpar porque meus padres assim me fizeram ser. E apregoo e peço e esperneio e quero sem dúvida levitar daqui, mas se já és sujo comigo imagina sem as minhas palavras amadoras que vagueiam por aí. E acredito pois na tua mudança e quero de certeza ver te tornares melhor a cada dia, mas isso por agora não acontece. Que inspiro todos a escrever e serem filósofos, porque médicos são importantes mas artistas fabricam diamantes. E o amor e o romance estão esquecidos, tu só vês desejo carnal e patifaria, que meus antepassados ao verem isto chorariam e onde andas tu Afrodite ? Onde andas tu e tuas filhas ?
E escrevo eu assim,mando palavras para os ares, espero que voem e levem a beleza aos desertos e aos mares. Não sei o que escrevo, esfaqueio palavras feias no papel, e queria ser uma rosa num canteiro e ajudar uma abelha a fabricar o mel, porque seria útil e bela e teria espinhos para me defender, presentearia os amados e significaria a paixão ardente, e se alguém me cortasse secava e morria e me matava, pois os humanos são assim, destruidores  e insensíveis.
Porém rosa não sou, sou uma mera sonhadora, que sonha com o bem da humanidade e com versos todas as noites. Acordo inspirada para escrever mas olho pela janela e não me diz nada, tanto fumo e tanta chaminé sem falar das feias estradas.
A lua me dá consolo, queria com ela ficar todo o dia. Mas ela vai embora descansar, porque não aguenta tamanha sujeira e covardia.
Assim acabo esta carta, mas tenho muito mais a dizer,
Que ardas em chamas e voes daqui,
Com esperança para o mundo:

•BlastedMoon

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