Camisa branca, agora manchada de vermelha pelo sangue que escorria do nariz dele. A noite estava bonita, sem nuvens, com uma brisa agradável e eu observava Johnny o segurar pela camisa para tentar apartar mais uma briga que se meteu com um cara qualquer. Eu olhava de longe com um sorriso no rosto, típico.
Doyoung era o trombadinha da faculdade, o cara mau. Se achava criminoso malvado, mas aos meus olhos era patético. Homens. Segui meu rumo para a sala me sentando no lugar de sempre, no fundo. Tirei meus cadernos da mochila e comecei a rabiscar um desenho aleatório quando um falatório se fez alto pelo corredor. Doyoung entra na sala e se dirige para sua carteira - também no fundo da sala - do lado contrário ao meu, sem dizer uma palavra. Sua camisa ainda estava manchada de vermelho, mas seu nariz já não sangrava mais. A sala estava silenciosa, mas ninguém se atrevia a lhe dirigir o olhar, pois não queria arranjar confusão gratuitamente. Bom, nem todos.
Eu mantinha meu olhar firme nele, que carregava a carranca de sempre. E ele sabia que eu o olhava, que eu o desafiava. E confirmou quando levantou o olhar e percebeu minha encarada nem um pouco discreta. Sustentamos o olhar por poucos segundos até que sua namorada entra pela porta afobada.
_ Eu não acredito. Amor, é a segunda vez essa semana. Como você está? – Ela falava alto sem se importar com ninguém naquela sala. E ele pelo contrário revira os olhos pela atenção desnecessária.
_ Não se preocupe, estou bem. Volte para sua sala, daqui a pouco sua aula começa. – Respondeu Doyoung sem emoção, já acostumado com essa situação.
Eu não lembrava o nome dela, mas sabia que ela era popular e gostosa. O que bastava para chamar a atenção por onde passava. Não sei como eles começaram o relacionamento e muito menos me importava, entretanto tenho que admitir: se um dia a oportunidade batesse a porta, eu abriria com um sorriso no rosto. Ela é bonita e eu adoraria dar uns beijos nela.
Depois de mais uma argumentação das duas partes, o professor entra pela porta e a garota deixa o namorado a contra gosto.
A aula passa tranquilamente e vez ou outra, via pela visão periférica ele me olhar. Quando retribuía, sustentávamos brevemente o contato, quase uma competição para saber quem é que mandava ali.
O dia acabou e ele saiu primeiro da sala as pressas. Coloquei meu material calmamente na mochila e respondi umas mensagens pendentes no meu celular. Quando me dei conta, todos já tinham ido e faltava apenas o professor que corrigia algumas atividades. Me despedi e agradeci a aula, saindo sem pressa do cômodo e me dirigindo a porta.
Quando estava chegando na saída pude ver Doyoung e sua namorada parados conversando. Eles estavam bloqueando a passagem como se fossem os donos do lugar e isso me irritava.
_ Da licença, por favor. – Disse curta e grossa esperando que alguém se movesse.
A garota me olhou de cima a baixo e deu uma passo milimétrico, voltando a atenção ao namorado que ainda mantinha o olhar em mim. Bufei sem paciência e passei por ela, esbarrando forte de propósito. Ela trombou no namorado que a segurou para que os dois não fossem ao chão.
_ Ta' louca garota? Encosta em mim mais uma vez e você vai ver. – Disse a loira irritada.
_ Você vai fazer o que? – Disse chegando bem perto dela a olhando nos olhos. – Te fiz uma pergunta, vai fazer o que?
Ela não disse nada, provavelmente esperando uma defesa do namorado que não veio.
_ Da próxima vez, sai do caminho. – Disse simples e voltei meu caminho para a saída.
Pude ouvir ela argumentando com o namorado, provavelmente perguntando o motivo de ele não ter falado nada, ri comigo mesma e voltei ao caminho.
Cheguei em casa umas 23h da noite, meus pais já tinham jantado e estavam assistindo TV enrolados na sala. Fui em direção a eles e os cumprimentei com um beijo.