III

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Tinham três coisas que eu sempre admirei na Shizune, sua organização, empatia e... todo o resto. Ela sempre foi assim, desde criança, tentava cuidar de si e de todos que estavam por perto. Dan também tinha essa empatia toda e, em partes, foi isso que me fez me apaixonar por ele.

Parecia que naquela manhã, eu e ela estávamos meio aéreas, não pude deixar de repreender Shizune pela falta de atenção.

– Shizune, o que está acontecendo com você hoje? Já trocou meus papéis umas 3 vezes e ainda não estamos nem na metade do expediente. – Reclamo.

– Me perdoe, senhora Tsunade. – Diz e abaixa a cabeça, como se estivesse me fazendo uma reverência. – É que não dormi bem noite passada.

– Nem imagino a razão para isso... – ela me olha e começa a dar várias explicações. – Shizune, sintetize. Não estou te entendendo.

– É que... eu

– Você o que, Shizune? – O clima no escritório pesa, mas isso não me impede de tentar satisfazer minha curiosidade.

– Eu estava pensando a respeito de... Eu não consegui dormir. Passei a noite pensando... – fala de uma maneira desconexa, fazendo com que eu me irritasse ainda mais.

– Me explique isso direito, Shizune. O que era tão importante ao ponto de lhe fazer perder o sono mesmo tendo trabalho no dia seguinte? — Indago — Logo você que é tão responsável.

– V-você. – Diz assim, simplesmente, me surpreendendo.

– Eu? – Respondo ainda incrédula. Até me deixo "esquecer" de terminar de preencher aquela papelada.

E antes de Shizune conseguir me responder alguma coisa, Kakashi adentra minha sala, como de costume o faz sem sequer bater na porta.

– Tsunade! Ei, você tem um momento? – Ele me pergunta com seu típico sorriso cínico que transparece nos olhos.

– Eu teria se você tivesse batido na porta, Kakashi. – Respondo.

– É algo muito importante – Declara. – sobre as missões dos ninjas recém-formados. A senhora havia me encarregado de cuidar dessas bobagens e eu já acabei tudo.

P.O.V Shizune

Eu nem sei direito o que tinha acabado de acontecer naquela sala. Sinto um suor frio descer de minha testa enquanto Kakashi e ela conversavam. De alguma maneira, ele entrou no momento mais propício para me salvar de dar mais explicações e, com a graça divina, Tsunade Sama provavelmente vai se esquecer de perguntar sobre meus pensamentos a seu respeito. Pior ainda, meus pensamentos sobre ela no dia do meu aniversário. Fiquei tão atordoada com nossa conversa que estava quase atônita vendo-a conversar com Kakashi Hatake, eles falavam, falavam e falavam, e eu não conseguia compreender o assunto.

Me sentei no sofá da sala da hokage e ele saiu pouco tempo depois. Senhora Tsunade teve que me chamar de volta para a terra porque ali, naquele sofá vermelho, acabei ficando perdida em meus próprios pensamentos. Não trocamos palavras sobre a conversa anterior durante o resto do dia e eu estava dando glória aos deuses por isso. Ela apenas me falava coisas como "Pegue isso.", "Vá ali.", "Faça aquilo" etc. Estava tudo quase perfeito para mim até o horário de ir embora. Ela me convidou para jantar, isso, para jantar pela segunda vez na semana.

– Diga Shizune, você quer ir tomar saquê e comer alguma coisa? Amanhã não tem trabalho, então não me venha com a desculpa do "dia seguinte". – Eu nem tinha para onde fugir, era aceitar ou aceitar.

– Claro. Onde quer ir? – Eu disse e de certa forma, acho que aceitaria da maneira que fosse.

Com ou sem trabalho no dia seguinte, eu queria ir beber com a Tsunade. Ela me responde com o nome de um dos restaurantes mais caros da aldeia da folha.

– A senhora tem certeza? Isso não é muito caro?

– Não se preocupe. Anda, arruma suas coisas. – Ordena. E quem sou eu para desobedecer as ordens de uma hokage, não é mesmo?

Saímos, como na noite passada, sem trocar muitas palavras no percurso. Ela comentou sobre ter algo para perguntar e meu coração quase saiu pela boca. Tsunade tinha algo para me perguntar, mas as minhas dúvidas eram, eu saberia responder? Eu conseguiria responder se soubesse?

Quando chegamos ao restaurante, ela escolheu a mesa e o que iríamos comer – aliás, pediu muita bebida também. Não posso declarar que isso me chocou, porque não chocou. – e não tirou os olhos de mim durante aqueles minutos que mais me pareciam horas. Tentei disfarçar meu nervosismo mexendo no cabelo, até que me ocorreu que ela era a mesma mulher que passei boa parte da minha vida ao lado. Relaxei. Fiz o que fazia quando éramos apenas nós, tentei deixá-la feliz e distraída. A senhora Tsunade também agiu como antes, me surpreendendo um pouco. E foi aí que a comida, as bebidas e o início real daquela noite estranha chegaram. Enquanto bebia, Tsunade me relembrou das vezes em que quase me apostou, junto de nossa porquinha, por não ter mais um centavo para usar de garantia e por mais absurdo que isso pareça, não me irritou. Rimos muito, muito mesmo naquele restaurante. E estava quase na hora de fecharem o estabelecimento quando ela sugeriu irmos juntas para minha casa. Aceitei. Estávamos tão bêbadas que fomos abraçadas até o portão de casa e, ao chegarmos, ela se separou de mim e me olhou nos olhos.

– Shizune, olha, estou com uma pulga atrás da orelha desde que você disse... – Começa e eu já sinto minha bochecha corar. Sabia exatamente o que ela diria e eu estava com medo de responder. – Você me conhece e sabe como sou com minha curiosidade.

– Foi pela sua curiosidade que fomos jantar, Tsunade? – A chamo pelo nome e me choco com isso. Deve ser a bebida.

– Foi um dos motivos... – Continua. – Por que virou a noite pensando em mim? Como estava pensando?

– Eu... Bom, faço isso com certa frequência, não tenho certeza... – Burra! Por que eu disse isso? – talvez tenha sido por sentir falta de andar com a senhora sem ter que me preocupar com o resto do mundo.

– Sinto falta desse tempo, tudo era bem mais simples quando éramos apenas eu, você e a porca. – Declara. – Também perco noites pensando em nós.

– A porca tem nome, senhora Tsunade. – Tento mudar de assunto, mas parece que não iria funcionar. Abro a porta de casa por causa do frio da madrugada. – Entra, acho que aqui não é o lugar para falar sobre isso. Também não é a hora.

Bom gente, acho que o capítulo ficou bem longo e eu decidi acabar ele por aqui! Obrigada pela leitura e como sempre, peço perdão pela demora.
A parte IV sai logo logo. Obrigada pelo apoio de sempre também.

Rosas; Lotus; Nós.Onde histórias criam vida. Descubra agora