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Depois de dizer aquilo, acho que senti um peso sair das minhas costas. Tsunade continua ali, no meu sofá, "dormindo". Vou ao meu quarto pegar uma coberta para ela, quando retorno, percebo que realmente dormiu e acabo me sentando a seu lado e nos cobrindo com aquele tecido meio peludinho. Acho que precisava ficar ali.

P.O.V Tsunade

A noite álgida caiu e eu acabei me deixando adormecer ali, — por sinal, uma noite bem longa! — acordando-me apenas no dia seguinte na casa de Shizune. Para minha surpresa, ela estava dormindo ao meu lado como um bebê. Minhas últimas lembranças eram de colar os olhos para fingir que tentava dormir, sentir ela se aproximando e acabar tendo a confirmação de Shizune sobre aquilo que estava tirando minha concentração nos últimos dias. Num movimento brusco que faço para me espreguiçar, acabo acordando-a junto, ela parece estar meio atordoada.

– Eu dormi aqui? – tento me localizar. – Bom dia, Shizune...

– Dormiu... a senhora dormiu. Bom dia, senhora Tsunade. – ela me responde risonha, mas acho que está mais nervosa do que nunca.

– O que aconteceu essa noite? Como viemos parar aqui? – pergunto fingindo inocência, mesmo estando de caso pensado. Shizune não sabe mentir e, conhecendo-a como conheço, acabaria contando sobre a noite passada e eu poderia retomar o assunto.

– Acho que acabamos exagerando na bebida. Não me lembro de mais nada, sequer dos rostos dos garçons. – me diz e não consigo esconder meu desapontamento. O que aconteceu só está vívido na minha memória? Não deveríamos estar trabalhando hoje? Olha a hora.

– Hoje é sábado, Shizune. – respondo ríspida. – Você deveria procurar ajuda para essa sua amnésia.

Vou me levantando e acabo parando por sentir os olhares de Shizune. Ela provavelmente não iria mais tocar no assunto. Aquilo tudo era tão delicado que obtive a plena certeza de que Shizune nunca conseguiria me dizer exatamente o que sente agora, — nem se o que venho sentido é parecido com o que ela sente — era uma batalha perdida.

– Senhora Tsunade... – Chama.

– Sim?

– A senhora não quer, bom... ir a algum lugar? Um cassino, talvez? – Shizune faz um convite tentando fingir normalidade. – Como nos velhos tempos...

– Sim! Claro. – meu semblante muda, fico animada com a ideia de ir jogar.

– Certo. – ela diz, seguida de um sorriso fraco. – Vou arrumar umas coisas e saímos em meia hora, o que acha?

– Perfeito.

[...]

– Anda, senhora Tsunade! Estamos quase chegando. – Shizune grita animada, estávamos quase desidratadas tentando chegar ao tal cassino.

– Espero que eu ganhe o cassino inteiro, porque somente assim para essa trilha valer a pena. – Reclamei entre suspiros e vi de longe o que parecia ser o tal cassino.

– Olha, senhora Tsunade, é bem ali. – falou virando-se animada para mim, pensei que ela fosse me abraçar ou coisa do tipo. – Não está animada?

– Estou, estou sim. Mas tem algo que quero que faça antes de entrarmos. – falei e ela se virou para mim, curiosa como sempre. – Não me chame de "senhora" lá dentro, tudo bem?

– E como devo chamar, senh... – fala meio confusa. – Tsunade.

– Pode ser até de "minha legítima esposa". – falo rindo de leve, ela parece ter ficado meio chocada com minha brincadeira. – Qualquer coisa que não sugira que sou uma velha, estará de bom tamanho.

– Claro... como quiser, Tsunade. – ela fala me obedecendo, mas confesso que aquilo soou como algo que fez à contra-gosto.

Assim que passamos pela recepção e fomos ao lugar que eu estava doida para revisitar, sinto uma alegria gigantesca tomar conta de mim. Lá naquela sala de apostas, me senti como a mulher mais livre que já pisou sobre a terra... eu estava, finalmente, sem obrigações de Hokage, Naruto me enchendo com N pedidos para ir atrás do que não está pronto para encontrar, ninjas para comandar, papéis para retificar e relatórios para redigir. Além de tudo, poderia ver Shizune durante várias horas sem me preocupar tanto, — os velhos tempos estavam batendo na porta e pelo menos naquele momento, decidi que os deixaria entrar para se acomodarem o quanto quisessem. — sem fugir tanto também.

Horas se passaram e minha sorte decidiu não colaborar. Acabei com menos dinheiro do que quando cheguei. Shizune já alertava que eu havia enchido muito a cara durante o percurso do dia e que, da mesma maneira, tinha perdido até as calças no jogo. "Vamos embora?", sugeriu e eu apenas aceitei sem implicar tanto, afinal, ela estava certa como sempre. Só não esperávamos que um dos funcionários do cassino fosse nos "escoltar" até a sala do chefe dele para termos uma conversinha.

[...]

– Então, está acertado que ela pagará as dívidas dessa maneira? – Shizune conversa com o dono do cassino para negociar minha dívida exorbitante. Ela estava falando com ele durante quase 20 minutos para tentar me ajudar.

– Apenas pela sua simpatia, estarei aceitando. Se ela não pagar religiosamente, esse assunto sairá daqui e Tsunade Senju será conhecida como a primeira bêbada apostadora a ser Hokage! – o dono do cassino disse em polvorosa e eu apenas observei tudo em silêncio.

– Tsunade cumprirá com o dever dela, senhor. Tem a minha palavra. – Shizune havia me chamado pelo nome e isso me deixou meio desconsertada. – Estamos liberadas, então?

– Claro. É melhor vocês irem embora logo, andem. – o dono do cassino disse por detrás daqueles óculos de tigela, parecia ainda mais nervoso.

Shizune me levou pelo braço por conta da minha embriaguez sem dizer uma única palavra. Estávamos em silêncio até que chegamos na parte de fora do cassino, onde ninguém poderia nos ver juntas. "Oba, briga com a mamãe...", pensei alto e ela jogou aqueles olhos negros sobre mim.

– O que é que há? Eu só estava fazendo uma gracinha, chata. – falei meio tonta por conta da bebida.

– Prefiro não responder. – Shizune fala tentando fugir de novo de me dar uma resposta contundente.

– Como sempre, não é, Shizune? – falei brincando, mas sinto que isso a incomodou porque ela sibilou uma resposta que não entendi bem. – O que?

Continua!

Amores, peço perdão por não ter atualizado a fic nesses meses! Mas essa semana ainda sairá a continuação desse cap. e eu espero que vocês gostem. Ah, e muito obrigada por comentarem na fic! Isso me dá muita motivação. <3

Rosas; Lotus; Nós.Onde histórias criam vida. Descubra agora