IV

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Me sentia vacilando a cada passo dado dentro da minha própria casa. Ela, por outro lado, ainda esbanjava toda aquela leveza, a maneira de ser e até sua própria simplicidade. Tinha muita coisa acontecendo de uma vez e, talvez pela bebida ou pela minha própria vontade, decidi que vou eu mesma acabar com esse clima estranho entre nós duas desde que retornamos para Konoha, — e não me importavam as consequências. — seria ali, naquela noite e naquela casa. Não pude deixar de perceber os passos em falso da senhora Tsunade, deve ter bebido demais, até para ela.

E é engraçada a maneira com a qual me preocupo com ela mesmo quando nós duas estamos caindo de bêbadas.

– Shizune, tem dias que não consigo não pensar em você. – Fala depois de sentarmos no sofá. – Você sabe... pensando sem estar bêbada ou jogando.

– Acho que nunca tinha visto a senhora tão sentimental. A bebida daquele restaurante, além de cara, é bem forte, não é? – Digo, e recebo de volta um riso fraco de Tsunade.

– Realmente acha isso?

– E por qual razão eu não acharia? – Devolvo. Bem lá no fundo sei que Tsunade tem mesmo esse lado sentimental, mas duvido que ela o reservaria e mostraria para mim, ainda mais sem o auxílio de alguma bebida fortíssima.

– Porque... – Faz um gesto de quem está pensando, batendo com o dedo na cabeça. – Você realmente sabe como deixar as pessoas sem resposta, Shi.

– Sobre o que estávamos falando mesmo? – Pergunto, tentando assim pôr meu plano de mudar aquele clima estranho em prática.

– A respeito dos nossos pensamentos. No que está pensando agora?

– Sobre qualquer coisa que você estiver pensando, eu acho. – Disse sem medo pois ali ninguém, além dela, poderia me interromper.

– Shizune... Shizune – Sussurra.

– Senhora Tsunade?

– Tem algo que eu preciso saber. – Me anuncia e meu primeiro pensamento era: ela quer saber sobre como penso nela. – Você também tem se sentido diferente em relação à...

Ela iria terminar de falar, mas se calou, — sim, se calou sem terminar uma frase que deve ser bem importante. — começou a tremer a perna como se estivesse ansiosa e parecia implorar por coragem para terminar de falar. Esse nervosismo todo me deixou em choque porque nunca tinha visto Tsunade assim. E eu senti um calafrio.

Tinha me esquecido de acender a lareira e também havia esquecido que estávamos saindo do inverno e adentrando aos poucos na primavera. Sua presença ali me tirou de órbita ao ponto de não me deixar dar conta da temperatura.

– A senhora não terminou de falar...

– Em relação a mim, Shizune. É isso. – Ela diz e eu tenho algum tipo de paralisia momentânea. – Você tem?

– Eu... vou acender a lareira. Aqui está tão frio, não acha? – Sinto meu coração acelerar e digo a primeira coisa que me vem na cabeça. Quando estou me levantando da almofada ao lado dela, Tsunade me puxa pelo braço.

– Preciso saber, você está sentindo algo diferente por mim desde que retornamos para esse lugar? – Pergunta olhando-me nos olhos.

– A lareira... – Ainda tento replicar.

Eu não queria fugir dali, não queria responder, não queria agir por impulso. Mas entre todas as minhas possibilidades de como agir, escolhi uma que não me orgulho: saí e fui acender a lareira, deixando ela sem resposta. — e eu queria responder que sim, que algo mudou. — Quando voltei e terminei de arrumar o maldito fogo da lareira, Tsunade fingiu dormir e eu percebi isso porque ela já havia feito essa brincadeira muitas vezes. De costas para ela, com os punhos cerrados e olhando o fogo, disse baixinho o suficiente para ela ouvir:

– Sim. Sua resposta é sim.

Continua!

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