Já era o terceiro dia que eu estava ali e nada parecia melhorar. A companheira da maca ao lado continuava irritantemente alegre e não parava de falar um segundo sequer desde cedo da manhã até sabe-se lá que horas, ela falava tanto que eu já começava a sonhar com ela. FALANDO!!! Ou estava desistindo definitivamente da minha sanidade ou ela era algum tipo de máquina programada pra falar incessavelmente.
Hoje não foi diferente de ontem, nem de antes de ontem, passei o dia tomando medicação e fazendo exame ou seja lá o que era já que os remédios deixavam grogue. De tarde, quando acordei de novo lá estava ela pintando e falando sozinha, quando me viro ela fica quieta. Certo, tem algo errado.
-O que foi?
-Nada. -Ela responde emburrada
-Você nunca para de falar. Tem algo errado sim.
-Não tem não!
-Okay, então não tem. -Concordo e viro pra frente.
A ferida já não parecia incomodar mais tanto, já que consigo alcançar o controle da televisão sem tanta dificuldade. Passando rapidamente pela lista de canais encontro um desenho e me sinto até feliz por ser um que conheço, fazia tempos que não o assistia e como não tínhamos assinaturas de plataformas de filmes e essas coisas em casa era raro achar algo assim na tv. Não nego que já acordei algumas várias vezes de madrugada e, sem sono, fui procurar algum filme antigo ou desenho pra assistir. Tudo estava ótimo, consegui até ignorar as bufadas que Jules dava ao meu lado, que ficavam cada vez mais altas à medida que ela as soltava até que ela decidiu voltar a falar.
-Você tá sempre dormindo!!! -Ela reclama- Aqui já é quieto demais e nem pra roncar você serve!!! Até seu sono é silencioso!!!! Que droga!!! -Ela solta o lápis com raiva no meio do livro mas rapidamente o pega de volta e torna a colorir o livro com certa agressividade.
Vendo que ela havia começado e não iria mais parar solto um suspiro longo e desligo a televisão. Meu desenho iria ter que esperar pra outro dia. Repouso o controle na mesa/bandeja que tinha ali do lado e respiro fundo juntando as mãos no colo, olho para elas fitando as pontas dos dedos se tocarem então os cruzo no colo. Olho ela e pacientemente espero uma resposta mas nada vem então decido falar.
-Eu não deveria dormir então?
-Não! Digo! Sim! Mas... Não... -Ela deixa a tensão dos ombros sair soltando os braços - Você pode dormir sim.-Então você está dizendo que não devo dormir, mas que eu posso e isso vai te aborrecer.
-Não é que-! -Ela para e respira- Você pode dormir sim! E eu entendo que sua medicação deixe sonolenta!
-Mas.
-Mas é muito chato passar o dia acordada sem ninguém pra conversar ou só colorindo esse livro! Eu já falei que aqui é quieto demais!!! E esse clima mórbido que circula o ar é... Urgh!!! Não gosto disso!
-Então você só quer conversar?
-Seria bom.... Pra variar... -Ela se mexe na maca e é a primeira vez que vejo algum sinal de timidez naquela criatura.
Me seguro nas grades da maca e empurro meu corpo para trás apoiando as costas no travesseiro. Pego a almofada que estava dormindo debaixo do braço e a coloco no colo abraçando, o movimento era limitado com a perna pra cima então o pouco que faço já me cansa e incomoda mas a posição que estava me manteria desperto até a hora de trocar os curativos. Ela me olha com certa curiosidade tentando entender o que eu estava fazendo e se mostra mais animada e menos raivosa quando percebe que estou disponível pra conversar.
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7 dias no paraíso
RomanceO que você faria se a vida te apresentasse da forma mais inesperada possível seu verdadeiro amor? É o que Mal irá descobrir. Depois de sofrer um acidente inesperado em casa e forçada a passar alguns dias internada no hospital, Mal acredita que pode...