Capítulo 02

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                 Na manhã seguinte, acordei com desapontamento por estar no hospital, mas por um breve momento me lembrei que estaria longe das brigas e discussões de casa o que me garantiu um pequeno sorriso quando ouvi uma cortina se puxar bruscamente ao lado.

-Booooooooooooooooooooooom DIA margarida! Dormiu bem?! -Diz super empolgada a menina ao lado nem parecendo que era de manhã ainda.

                O sorriso se foi. Viro pro lado e esfrego o rosto. Meus planos de ficar só tinham ido pras cucuias, e cá estava aquela bola de felicidade gritando às plenas 8 da manhã.

-Bom dia... -Respondo já sentindo a fatiga tomar conta de meu corpo

-O que faremos hoje!?

                 Olho o relógio na parede ao lado e confirmo o horário. Já era comum acordar a essas horas e eu odiava isso, mas o meu relógio biológico fazia o favor então eu costumava encarar o teto até cochilar de novo e acordar com o barulho na cozinha ou no resto da casa.

-Tem a opção voltar a dormir?

-De forma alguma!!!

-Se eu fizer o que você claramente já planejou posso ter um pouco de paz?

-Mais paz do que já tem? Impossível, mas pode tentar!

-É alguma coisa. -Murmuro arrumando a maca já que não conseguia me sentar sozinha ainda. - O que você quer?

-Liga a TV! Vamos ver o jornal!

-Você está num hospital com o maior número de infectados do estado, e quer ver jornal? -Arqueio a sobrancelha- Já não tem caos e desgraça o suficiente todos os dias na tv?

-Quanto pessimismo! Sempre pode ficar pior! -Ela fala feliz. Doida, certeza.- Liga pra gente!

              Me viro pro lado e vejo a barra preta com botões coloridos. Ligo a televisão e o aparelho com os canais colocando no canal de notícias. Como de costume, o âncora passava a fala pros jornalistas em campo e metade do tempo era sobre a doença que estava assolando o país. O resto era sobre alguma celebridade ou esporte ou alguma coisa que fosse totalmente desinteressante, mas minha companheira de quarto aparentemente estava adorando saber sobre a tal celebridade que perdeu um brinco no valor do patrimônio do país nas águas do Caribe.

-Cara!!! Quem é que vai nadar de brinco?!

-Aparentemente, ela. -aponto pra tv

-Incrível, incrível... -Ela sacode a cabeça achando divertido

-Bom... O jornal acabou... E agora?

-Agora as enfermeiras chegam com o café da manhã. É importante comer.

-Passo.

-Como assim?

-Eu não tomo café. -Mudo de canal achando por acidente um desenho animado.

-O que?! Não!!! É a refeição mais importante do dia!!! Você não pode NÃO tomar café! -Ela diz indignada.

-Bem. Mas eu não tomo. Passo mal o resto do dia inteiro quando faço isso, prefiro evitar. -Entrelaço os dedos no colo e observo a TV um desenho mal feito e plagiado de Tom e Jerry.

               Ao momento que ela ia me contestar a enfermeira chega e deixa a bandeja com a comida ali, Jules ficou tão animada que se meu humor não estivesse uma droga há dias provavelmente eu acreditaria que era manhã de natal. Ela comemorava e eu recebia minha primeira cara feia do dia quando digo pra enfermeira que não consigo comer de manhã, mas não é como se ela fosse desistir já que fizeram algo especial dadas as minhas condições. Tudo ali era em formato pastoso ou líquido e por alguns instantes senti a tentação de perguntar se havia levado um tiro ou perdido os dentes mas talvez ela não tivesse com o melhor dos humores também, relutante peguei a colher de plástico e comi a gororoba colorida que tava ali.

7 dias no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora