Capítulo 04

13 4 0
                                    


             Já era o quarto dia ali. O bom dia margarida veio no mesmo horário de sempre, e o controle estava no mesmo lugar pronto para ser ligado no jornal que começaria no mesmo horário. No noticiário hoje relembrava o caso da filha de um senador que sofreu um trágico acidente que a deixou em estado gravíssimo, foi uma comoção enorme na época mas eu estava imerso nos meus próprios problemas pra ligar e hoje Jules estava tão empolgada que não dei muita atenção para o âncora do jornal.

-Você já imaginou como são feitas as contagens dos pontos de audiência? Tipo, como eles sabem que tem X número de pessoas precisamente assistindo?! Como eles tem certeza que em uma casa com uma só televisão não tem umas 5 pessoas assistindo?

-Você não acha que tá cedo demais pra me bombardear com tantas informações?

-São 8 da manhã! Não tá cedo!

-Na verdade está sim... -Esfrego os olhos piscando devagar pra ela - Assiste o jornal vai.

               Não que falar pra ela assistir adiantasse de algo afinal ela assistia conversando também, depois de ver os dados da doença contagiosa baixarem senti uma pontada de esperança de sair daquele lugar. Nunca fui fã de hospitais e isso não havia mudado, mas sentia falta da minha cama e de Rajah, já havia muito tempo que não passava dias longe dele e por ter sido de repente a falta que ele me fazia era maior. Como a entrada de animais era proibida no hospital eu tinha que me contentar quando alguém me enviava uma foto dele, o que não havia acontecido nos últimos dias.

                 Logo cedo tive um exame para ver se houve a formação ou surgimento de alguma anomalia no meu corpo com relação aos ferimentos. Os pontos estavam quase secos a essa altura e já haviam se fechado mas de toda forma eu ainda precisaria fazer fisioterapia para recuperar os movimentos como antes e segundo a expectativa dele, já poderia começar a partir de amanhã ou até hoje mesmo dependendo de como eu estivesse. Pouco depois do almoço eu já estava desperto e uma enfermeira veio até o quarto, ela me tirou da maca pra trocar os lençóis e depois disso se foi novamente me deixando ali no confortável colchão de 4 cm de estofamento.

                  Tive o cochilo mais curto da minha vida e então acordei com o calor gentil que os raios solares daquela tarde traziam junto ao seu tom amarelado forte. Minha colega de quarto pareceu surpresa ao me ver.

-O que foi? -Pergunto olhando ela

-Você acordou cedo! -ela olha o relógio- Não são nem 16:00 ainda!

-Acho que foi por que eles mudaram a medicação, não sei....

-Oh! Nesse caso então as coisas fazem sentido. -Ela balança a cabeça em afirmação com as mãos sobrepostas no colo

                  Eu não havia parado para reparar na delicadeza que ela apresentava. Mesmo que parecesse o típico clichê da garotinha loira, Jules tinha traços únicos em sua fisionomia, e a luz daquela tarde iluminava cada um deles desde a ponta dos finos dedos repousados um sobre os outros até seus olhos que eram de um azul profundo e hipnótico. As poucas observações que fiz foram o suficiente para chamar a atenção dela.

-O que foi? Tem alguma coisa no meu rosto? -Ela tateia o rosto à procura de sabe-se lá o quê- Eu não limpei direito?

-Não... Não é nada... -Seguro nas grades da cama e me sento, estico a mão para trás alcançando o controle da maca e a subo para apoiar as costas- Então, quais são as perguntas de hoje?

-Você já quer brincar? -Ela sorri de lado - Não sei o que te deu hoje mas estou gostando!

-Bom, acho que a enfermeira só vai chegar muitas horas mais tarde e não é como se eu estivesse com sono agora então se quiser podemos jogar seu joguinho de perguntas ou posso procurar algo na televisão.

7 dias no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora