1 - Greta Falcone

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NOVEMBRO

— Não sei se seu pai vai permitir — disse meu tio Savio com desconfiança.
— Por favor, tente falar com ele!
— Remo já sabe que você foi aceita? — meu tio Adamo questiona.
— Ainda não, mas minha mãe e Nevio já — tento disfarçar minha ansiedade, mas últimamente esconder minhas emoções tem sido um desafio. Gostaria que minha versão introspectiva fizesse o trabalho nessas horas.
Odiava esconder as coisas do meu pai, mas ele era tão cauteloso, tinha certeza que Remo Falcone já sabia de tudo. Ele era como um espião ou um vidente, papai sempre sabia o que estava acontecendo.
— Papai não se importou quando você era um adolescente e foi passar uma temporada em Nova York, talvez nós...
— Eu era o irmão mais novo de Remo, mas um homem feito — Adamo dispara. — Você é a garotinha dele, mas vamos tentar falar com ele.
— Vamos tentar — Savio me dá um sorriso de esperança.
Meus tios eram conhecidos por diversas atrocidades. Muitas vezes quando eu era adolescente, tampava os ouvidos para não ouvir o que meus colegas comentavam sobre suas histórias.
Eles podiam ser os monstros de Las Vegas, mas para mim, eles eram família.
— Obrigada! Obrigada! — pulo de felicidade abraçando os dois. —Vocês são os melhores!
— Se Nino ouvir isso talvez ele fique com ciúmes — Savio brinca.
— Acho difícil Nino demonstrar alguma emoção, mesmo quando se trata da sobrinha preferida dele — Adamo ri.

Meu tio Nino era o membro da família mais parecido comigo. Por muitos anos tive problemas em expressar minhas emoções e até mesmo socializar com outras pessoas. Minha mãe disse que eu era muito reservada na infância e isso a preocupava um pouco. Quando comecei a frequentar a escola de ballet de Las Vegas e sessões de terapia, as coisas pareceram melhorar. Finalmente me sentia mais confortável para interagir com outras pessoas.

Agora que fui aceita na escola de Ballet mais importante do país, fiquei sabendo das incrições e logo enviei meu currículo e todos os vídeos possíveis, Alessio me deu aquela forcinha com os documentos e Nevio segurou a câmera por horas enquanto eu dançava.
O ballet era a minha vida, meu refúgio.

Aos 19 anos já sou uma bailarina profissional, mas meu sonho é dançar em grandes companhias, como o Ballet de Nova York ou talvez de Moscou. Tudo bem, Moscou está fora de cogitação por causa da Bratva, apesar de terem uma relação quase amigável devido a influência de minha tia Dinara. Nova York seria muito mais seguro.

O problema do meu sonho? Eu teria que me mudar para o território da Famiglia.



DEZEMBRO

É natal, todos estão preparando a ceia na mansão Falcone para comemorar. Tia Kiara, mamãe e Leona prepararam toda a comida, enquanto eu, Carlotta, Aurora e tia Gemma organizamos a decoração da casa.

Desço as escadas e encontro Nevio na sala.

— Viu Alessio e Massimo? — ele pergunta acendendo seu cigarro, logo joga sua arma na mesa.
— Sem armas e cigarros dentro de caso, Nevio — minha mãe o repreende e ele dá de ombros. Nevio é o gêmeo mau, não que ache isso ruim ou que eu seja uma santa, muito pelo contrário. Meu irmão é o único capaz de me completar e tenho certeza que sou a única capaz de entender suas tendências suicidas.

— Minhas garotas estão lindas hoje — ele assobia para nós e se aproxima de minha mãe, que o abraça.

— Também quero participar — corro para abraçar meu irmão gêmeo e mamãe.

— Muito contato físico — Nevio grita enojado enquanto nós estamos o sufocando com o abraço.
— Ele é tão dramático — Aurora grita do corredor.
— É um verdadeiro Falcone — minha mãe diz orgulhosa. — Só espero que seu pai não sinta esse cheiro de cigarro.

— Não faço ideia do que você está falando — Nevio dá um sorriso desleixado.

Todos estão reunidos na nossa imensa mesa de jantar. A comemoração de natal é minha data favorita, se reunir com minha família é sempre uma grande festa.
Meu tio Adamo não vivia na mansão conosco, mas todo natal ele, Dinara e seu filho, Roman, vinham para o Natal.
— Chegamos! — Dinara acena para nós.
— Que bom que conseguiram vir — Tia Kiara abraça meus tios e eles colocam o papo em dia.
— Como vai o acampamento, Roman? — Aurora pergunta ao meu primo mais novo.
Dinara, Adamo e Roman viviam a maior parte no tempo no acampamento de corridas da Camorra. Quando Roman era um bebê, Aurora passou o verão com eles, ela era muito próxima de Adamo e Dinara, além disso, Aurora Scuderi amava carros de corrida.

Após o jantar, todos se direcionam para a sala, onde estavam os presentes de natal, uma tradição na qual mamãe e Kiara gostavam de realizar.
Meu pai, Remo Falcone, é o primeiro a falar.
— Como sei que Greta ama o natal, quero que ela seja a primeira a abrir seu presente.
Pulo de entusiasmo e o abraço. Ele me beija na testa e oferece um pequeno pacote.
— Uma chave? — fico confusa.
— Fiquei sabendo que você foi aceita na companhia de Nova York. Essa é a chave do seu apartamento. Estamos orgulhosos de você, filha. Agradeça a seus tios. Depois vamos estabelecer algumas regras.
—Obrigada! — abraço meu pai.
— Tudo por você, princesa da Camorra — Savio pisca animado.
— Isso é incrível, obrigada família. Obrigada papai, amo você!
— Minha irmãzinha vai para Nova York — Nevio bagunça meu cabelo.
Olho para minha mãe que está sorrindo emocionada, mas os olhos negros do meu pai estão tensos. Sei o quanto isso é difícil para ele.
Remo Falcone não é só um excelente pai, mas também um poderoso Capo. Eu conhecia muito bem meu pai para saber que uma decisão tão importante envolvia muitas outras estratégias.


1 MÊS ANTES - REMO FALCONE

— Nunca vou deixar minha filha ir sozinha para o território da Famiglia.
— Remo, ela não estará sozinha, iremos mandar soldados com ela — Savio tenta me convencer.
— Savio tem razão — afirma Nino.
— Estamos em paz com a Famiglia há anos, Luca nunca deixaria algo acontecer com ela em seu território, ele não quer começar uma guerra — diz Fabiano ao meu lado.
Meu sangue está fervendo. Só de pensar em minha filha desprotegida tenho vontade de quebrar alguém ao meio.
Minha esposa e filhos são a melhor parte de mim, daria a vida por eles, e se alguém fizesse algo para minha família, essa pessoa queimaria.
Nevio entra na sala e sei que ele quer defender sua irmã. — Pai, esse é o sonho dela, nós podemos protegê-la, são só alguns meses.
Respiro fundo, por Greta. — Vamos estudar essa possibilidade, vou ligar para Luca.

Algumas horas depois ligo para o Capo da Famiglia
— Que surpresa esse telefonema, Remo, faz alguns anos que não nos falamos.
— Quem está te manipulando para fingir tanta empolgação? — digo friamente.
— Talvez seja seu irmão bastardo — ele ri.
— Não me provoque, Vitiello.
— Vamos direto ao assunto, qual o objetivo da sua inesperada ligação? — ele pergunta com curiosidade.
— Minha filha deseja estudar em seu território, como estamos em paz há anos, acredito que sua proteção será concedida.
— Achei que seus filhos estivessem mortos, pelo menos foi o que chegou até mim desde o incidente com Adamo.
— Meus filhos estão protegidos desde então, assim como os seus. Meus inimigos não sabem de sua existência — quero matá-lo pela audácia.
— Entendo — Luca fica em silêncio por alguns segundos, mas a resposta vem em seguida. — A garota Falcone será bem vinda em Nova York, ela estará protegida, dou minha palavra como Capo.
— Agradeço.
— Aliás, como está a relação da Camorra com a Outfit? Cavallaro está muito quieto, devemos nos preocupar? — Luca pergunta curioso.
— Dante está enfraquecido e seus filhos já lhe dão problemas suficientes.
— Tudo bem. Quando sua filha viaja?
— Vai iniciar os estudos em janeiro, ela terá seu próprio apartamento e alguns soldados da Camorra a acompanharão.
— Ok — sua voz sai com frieza.
— Luca?
— Sim?
— Se algo acontecer a minha filha, vou caçar você e sua família até o inferno — digo firmemente.
— Não me ameace, Falcone. 
— Não é uma ameaça, Vitiello. É uma promessa!
— Foi bom falar com você, Remo. 

Sins of  the Fathers - Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora