Levantei a espada num bloqueio no último instante, sentindo o corpo estremecer ao absorver o impacto do golpe descendente. Um segundo depois, a magia de Dário queimou minha pele e rangi os dentes, abrindo os dedos num espasmo e deixando a espada cair.
Enquanto apertava a mão ferida contra o corpo e lutava para manter o equilíbrio, encarei o sabre de madeira. O som que a arma fez ao bater no chão não passara de um baque surdo graças ao piso revestido da sala de treinamento, mas, aos meus ouvidos, soou retumbante como o martelo de um juiz.
Dário gritou, a personificação de meu juiz, júri e carrasco desde nosso nascimento.
"De novo!"
Ergui a cabeça e o fuzilei com o olhar. Parado daquele jeito, meu irmão fazia uma figura realmente impressionante, com os braços cruzados na altura do peito emoldurado pelos cabelos negros e os olhos cheios de sua fúria incontida.
Aquela era a versão poderosa de meu próprio rosto que eu sabia ser incapaz de reproduzir.
"Não me escutou, irmãozinho"? - perguntou, encarando-me com os mesmos olhos que eu via toda vez que esbarrava num espelho - "De! Novo!"
Lutei para falar, sentindo uma mesma onda de raiva estremecer-me e começar a fechar a garganta.
"Pra quê? Não adianta!"
"E reclamar adianta menos!"
A onda de raiva trouxe junto vários outros sentimentos e engoli o soluço que quis escapar de meus lábios. Comecei meu ritual diário ao tentar me convencer de que as gotas que escorriam por rosto eram apenas suor.
"Eu nã-..." - engasguei e ficou mais difícil continuar - "Mano, por favor, eu não consigo."
Meus olhos perderam o foco e desisti de negar o que estava acontecendo quando a visão ficou turva. Desviei o rosto, tentando esconder de meu irmão a imagem de seu rosto demonstrando fraqueza.
Ouvi Dário suspirar e, se era de resignação, pena ou raiva, não soube dizer. Levantei o rosto e ele já estava ao meu lado, seu caminhar tão silencioso como a passagem de uma sombra.
Engoli em seco ao ver a chama que queimava em seus olhos. A paciência de meu irmão sempre estivera por um fio e os últimos acontecimentos haviam servido apenas para deixa-la a um passo de arrebentar.
"Você tem é medo de tentar, irmãozinho." - afirmou Dário, a voz suave no olhar pétreo - "Você é a minha outra metade, você também consegue."
"A sua metade..." - resmunguei, rindo do gosto amargo daquelas palavras - "Você era a metade que prestav-..."
"Cala a boca e pega a porra da espada, Dante!"
Recuei um passo, sobressaltado e com os olhos arregalados com o rugido de Dário quando sua paciência enfim estourou o limite. Pisquei confuso ao constatar que tinha o sabre nas mãos novamente e nem sequer lembrava de tê-lo recolhido do chão.
"Você é a metade que importa agora, irmãozinho!" - sibilou Dário, a voz um fio rubro incandescente - "E eu já estou de saco cheio dessa sua autopiedade!"
Dário podia ser conhecido por ter pouca paciência, mas admito que eu não era tão diferente assim. Gêmeos, afinal de contas. Levantei a espada e apontei-a em sua direção como se fosse um dedo em riste, sentindo as mãos e a voz tremerem a cada palavra.
"Vá se fuder! E cale a boca você!" - disparei - "Isso não vai funcionar!"
"Falhar não é mais uma opção, Dante!"
"Gêmeos não dividem Essência e você sabe disso!"
"Nós nunca fomos o tipo normal de gêmeo e você também sabe disso!"
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Contos da Torre
Cerita PendekDizem que, em meio a monotonia monocromática de um medíocre mundo mundano, existe uma torre. Dizem que suas fundações são feitas de pedra, mas que suas paredes são feitas de revolta e revestidas de loucura. Mas ninguém sabe quem habita a torre. Ni...