Katsuki estava cansado de se sentir assim. Saía com frequência com Midoriya e seu filho, a cerca de quatro meses. Iam a parques, pracinhas, cinemas. Várias coisas. Se divertiam. Mas quando chegava em casa, a culpa o consumia.
Odiava o que estava sentindo, e nem sabia dizer o que era. Odiava ter que conviver com Izuku - e odiava ainda mais o fato de que não realmente odiava estar com ele. Gostava de estar com Deku, na verdade.
E afinal, Nikko era o único amigo de Destiny. Não podia privá-la disso. Mas era difícil pra si ficar cada vez mais próximo do esverdeado. Sentia que ia explodir.
— Papai? — Ela sentou ao lado dele no sofá. — Tá tudo bem?
— Claro, querida. — Encarou sua foto com Kirishima que tinha na mesinha de centro. O ruivo segurava Des, havia sido pouco antes de.. bom, do ocorrido.
Bakugou nunca havia contado sobre Eijirou pra ela. Agora, se sentia mal por isso. Ele também era pai dela. Destiny perguntou uma vez sobre o "cara ruivo na foto", e a resposta que recebeu foi "um dia vou te contar sobre ele, mas não pergunte mais sobre isso." e ela não perguntou.
— Hm.. — Katsuki percebeu que ela encarava a foto, claramente curiosa.
— Des.. você quer.. saber sobre ele?
— Sim.. mas se não quiser falar, tudo bem. — Ela sorriu compreensiva.
— Não.. eu.. eu consigo. Eu sou seu pai, mas ele também era seu pai. Mesmo não estando aqui, ainda é seu pai. Eijirou Kirishima. Ele te amava muito.
— E cadê ele? — Perguntou, com uma carinha triste.
— No céu, meu amor. No céu. — O loiro segurou o choro. — Ele teve um problema, e morreu. Coisas assim acontecem.
— É por isso que você não namora, papai? — Ficou pensativa. — Por que ainda ama ele?
— Em parte, sim. Mas eu também não tenho ninguém que eu possa.. — Pensou em Midoriya por um momento. — pensar romanticamente, sabe?
— Mas e o tio Izu? A gente tá saindo com ele e com o Nico a um tempão. Você gosta do tio.
— O que? Não, eu não gosto. Ele é meu amigo. Eu conheço ele a muitos anos, desde que éramos crianças. Eu era mal com ele. Agora eu me esforço pra ser legal com ele, na medida do possível.
— Acho que você gosta dele. E tenta esconder isso oprimindo seus sentimentos sendo mal com ele e fingindo que o odeia. — Ela deu de ombros, levantando do sofá. — Vou escovar os dentes e vou dormir, boa noite, papai.
E então ela saiu, deixando seu pai confuso.
— Quando ela aprendeu a falar difícil assim? — Riu. — Garota doidinha. Da onde ela tirou que eu gosto do Deku? — Perguntou retoricamente, encarando a foto sua e de Kirishima. — É, tem razão. Vou amar você pra sempre.
Deitou no sofá, começando a lembrar do pior dia da sua vida. Quando Kirishima morreu.
“Era mais uma manhã normal na sua vida. Acordou com o sol batendo no seu rosto, sorrindo ao ver o berço da sua filha ao seu lado na cama. Levantou, dando uma olhada no bebê que dormia tranquilamente.
Foi até a sala, onde encontrou seu marido dormindo no sofá. Mas ele não devia estar lá.
— Kiri? O que tá fazendo aqui?! Hoje é sábado, dia de quimioterapia.
— Hm? — O ruivo acordou, fazendo careta pela dor na cabeça. Sentou no sofá, sorrindo pro loiro. — Desculpa..
— Você esqueceu? Acho que ainda da tempo de ir, cabelo de merda. Não pode perder nenhuma sessão. — Sentou ao lado do outro, que o encarou, cansado.
— Katsuki.. você sabia que não valia a pena.
— O que? Como assim?
— Eu não to fazendo quimio, amor. — Suspirou, se preparando pra ser xingado. — Eu vou morrer de qualquer jeito. Só queria aproveitar meu tempo com você, não no hospital.
— Mas.. mas você disse.. Kirishima! — Levantou em um pulo, franzindo a testa. — E onde você vai todos os sábados e quintas de manhã porra?!
— Eu vou passear. Fazer qualquer coisa, sabe. Ir na nossa árvore. To aproveitando a minha vida. E o resto do tempo, sempre com você. Só quero ficar com você.
— Então fica comigo, caralho! Não se mata assim! — Começou a andar em círculos no tapete da sala. — Da pra começar agora. Ai você pode viver mais.
— Bakugou. — Segurou o braço dele, o fazendo parar. — Eu tenho um tumor gigante no cérebro. Um câncer fodido, que não tem como curar. Você sabe que não adiantaria nada fazer quimioterapia, só me deixaria mais fraco. Eu vou morrer. Você precisa aceitar isso.
— Não! — Se soltou do outro. — O que você tá pensando seu filho da puta?! A gente tem uma filha! Ela tem dois meses de vida, duas porcarias de meses! Você tem que ver sua filha crescer. Você não pode morrer. Não é justo.
— Você vai ser um ótimo pai, Katsuki. Tenho certeza disso. Conta pra ela que eu a amava, tá? Que eu também fui um bom pai, no tempo que deu.
— O que você tem agora?! Duas semanas?! A quimioterapia poderia aumentar isso!
— Não, Bakugou. Eu já falei que não. A gente conversou sobre isso, mas por você ser cabeça dura eu fingi que ia fazer. Agora já to quase morto mesmo, que diferença faz?
— É a sua vida, Eijirou. — Olhou pro ruivo, com raiva e tristeza clara nos olhos. — É sobre ficar comigo. Ficar com a Des. Quanto mais tempo melhor, certo?
— Sim. Meu tempo tá acabando, e você tá desperdiçando ele brigando comigo. Quer continuar?
— Eu.. — Uma lágrima escorreu pela sua bochecha, a qual ele rapidamente limpou. — Eu sei que você vai morrer, tá? Eu sei. Mas me deixa muito puto você só aceitar isso, e nem tentar lutar pela sua vida.
— A minha vida foi boa. Eu to com você desde o ensino fundamental, lembra? Eu tentava fazer você ser legal com nossos amigos. Com aquele garoto que você fazia bullying. Eu amei você. Desde sempre, e para sempre. Eu sempre vou amar você. Claro que eu queria poder viver e ver a nossa filha crescer. Mas eu não posso, e tá tudo bem. São coisas da vida. — Levantou, passando os braços pelo pescoço do marido, o dando um selinho. — Agora você vai lá pegar a nossa filha pra mim, tá? Quero olhar pra ela.
— A nossa discussão não acabou. Ainda vou brigar mais com você.
— Claro. — Riu, sentando-se novamente no sofá. — Amo você.
— Eu também amo você, Eiji. Vou amar você pra sempre.
Bakugou foi até o quarto pegar Destiny, pensando em como seu marido era estúpido por não querer fazer a droga da quimioterapia. Achava que aquilo poderia fazê-lo viver mais.
Pegou a menina, sorrindo.
— Oi, meu amor. Papai quer ver você. Ele é um idiota, é.. — Falava com voz de bebê, coisa que só fazia quando estava sozinho com a pequena. — É um idiota que ama muito você. Vamos lá ver o papai idiota!
Andou novamente até a sala, e quando viu, Kirishima dormia novamente, mas dessa vez de um jeito meio estranho.
— Amor? — Ele não respondeu. — Kiri?
Foi até ele, colocando a mão livre no seu pescoço. Não tinha pulso.
Seus olhos se encheram de pesadas lágrimas. — Kirishima..”
Katsuki lembrava de ter ligado pra ambulância, mas depois disso a maioria das coisas eram um borrão pra si. Só lembrava de chorar nos braços de Kaminari enquanto Mina segurava Destiny.
É, aquele tinha sido o pior dia da sua vida. Sentia tanta falta de Kirishima. E se sentia tão culpado por ter brigado com ele pouco antes que ele morresse. Sabia que era uma pessoa horrível.
Mas amaria aquele ruivo pra sempre. Não se permitia amar outra pessoa. Mesmo morto, Eijirou Kirishima nunca sairia da sua vida. O amaria pra sempre.
Pensando nisso e negando seus atuais sentimentos por outra pessoa - estava decidido a amar somente o ruivo nessa vida -, acabou dormindo no sofá.
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𝐇𝐢𝐝𝐢𝐧𝐠 •立ち往生
FanfictionDestiny sofria bullying de um garotinho na escola, e seu pai, Bakugou, fica extremamente bravo ao saber da situação. Ele vai ao colégio para conversar com os responsáveis de Nikko - ou quebrar a cara deles por não saberem educar uma criança -, mas f...