O Imperador acordou com o nascer do sol, seus olhos felinos ainda fechados, desejando dormir por mais algumas horas, o corpo dolorido e exausto pelo esforço do dia anterior. Sua mente nublada saltava entre um sonho interrompido e a fria realidade. Libertando-se de suas preocupações e se agarrando a serenidade do sono, seu corpo perdeu todo o peso, sua cabeça flutuava entre utopias agradáveis e confortantes, calorosamente o abraçando, como uma das cortesãs que um dia o envolveu carinhosamente em seus braços quando tinha dezessete anos, mas subitamente uma lembrança o atingiu como uma flecha, fazendo-o se lembra do dia de hoje. A avaliação. Como palavras carregadas de magia, seu corpo e mente despertaram instantaneamente. Sentando-se abruptamente na cama o quarto girava ao seu redor, mas assim que colocou os pés no chão tudo pareceu finalmente se encaixar. Hoje é o dia em que as avaliações para noiva começam. Arrepios subiram por sua espinha enquanto suor frio escorria por seu pescoço e peito, as palmas de suas mãos formigavam e seu estômago fervia, lhe trazendo enjoos. As mesmas sensações de estar diante de um campo de batalha o arrebatavam agora, a ansiedade de um futuro ainda incerto. Por fim, o Rei suspirou e levantou-se, despindo-se de suas roupas molhadas. Seu hwangpo negro e dourado o aguardava à alguns passos da cama, estendido em um suporte alto. Yoongi parou de frente para a peça, estudando os padrões hipnóticos bordados em dourado. Os dragões se entrelaçando, as nuvens graciosas, e as flores de ameixeira desabrochando num falso suspiro de primavera. O jovem monarca odiava aquela roupa, mas por fim tirou-a de seu altar, vestindo as mangas por cima das peças brancas de linho.
Quatro anos de sua juventude foram passados dentro do exército, e Yoongi ainda se lembrava nitidamente da vez em que fora capturado por um grupo de mercenários na fronteira entre Pyeongan-do e Qing. Vinte e três dias esquecido e trancafiado em uma cela escura foram o suficiente para quebrar toda sua noção de tempo. A comida e água eram entregues em intervalos de tempos diferentes, isso quando tinha sorte de receber algum alimento. Uma semana, ou um mês, o jovem não sabia dizer quanto tempo se passou desde que foi preso, e apenas depois de seu esquadrão o libertar é que ficou sabendo de quantos dias exatamente ficou cativo. Vinte e três dias que pareceram um ano, e ainda assim não se comparam a opressão do tecido de suas vestes de Imperador agarrando-se ao seu corpo, como uma serpente sufocando sua presa antes de engoli-la por inteiro.
Irritado por não conseguir vestir-se adequadamente, o Rei largou a peça no chão e jogou-se na cama, suspirando alto como uma criança. Lançando olhares para a porta de seu quarto, o jovem levantou-se novamente e agarrou o tecido.
- Namjoon.
- Sim, Majestade? - O guarda entrou nos aposentos sem hesitar, mas assim que ergueu o olhar para o monarca, reparando nas roupas de baixo meio abertas e no tecido lustroso amassado nas mãos, deu meia-volta imediatamente - Vou chamar alguém para ajudá-lo.
- Não.
- Senhor? - Namjoon voltou-se para o amigo, que evitava seu olhar.
- Eu não quero ninguém me tocando. Apenas me ajude com o hanbok, está bem?
Escondendo o sorriso, o guarda se aproximou do Imperador, tomando a roupa de suas mãos e ajeitando as mangas compridas.
- Você é como uma criança, hyung.
- Cale a boca e me ajude logo com os fechos.
Embora jamais tivesse admitido nada, Namjoon entendia o porquê de o amigo agir dessa forma às vezes, afinal, ambos haviam crescido juntos. E era somente por esse motivo que o rapaz havia abdicado de todos os seus deveres como descendente de uma casa nobre para se tornar um mero Guarda Real e Capitão de uma divisão pequena do exército. Yoongi o criticou muito por ter escolhido um caminho tão modesto, ao invés de seguir os passos do tio e se tornar um oficial do governo, mas o jovem Kim sabia que futuramente seu príncipe precisaria de apoio no Palácio Interno.
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Kingdom - Daechwita
FanfictionA maioria das nações mais antigas do mundo tem histórias interessantes sobre seus monarcas. Reis benevolentes, conquistadores, justos, guerreiros, cruéis... Mas poucas tem a liberdade de dizer que já tiveram um soberano insano. A Rússia teve o czar...