Yoongi não deixou seus aposentos nem por um minuto depois do fim da audiência. Embora estivesse em completo silêncio, suas mãos entrelaçadas em frente ao rosto, as costas tensas e o olhar letal já diziam muito sobre seu humor, e se não fosse evidência o suficiente, a espada desembainhada na mesa diante de si falava por si só. O Imperador não havia autorizado a entrada de nenhum servo em nenhum momento, até mesmo Namjoon fora obrigado a fazer a guarda do lado de fora. A calmaria antes da tempestade, refletiu o amigo. Lorde Min apareceria a qualquer instante nos aposentos do Rei para cumprimentá-lo pessoalmente, já que não o havia feito durante a reunião de mais cedo. O rapaz encostou o ouvido na porta do quarto, esperando ouvir algo do interior. Parece até que está morto, pensou, com um arrepio subindo pela espinha. Um Guarda Real caminhou em sua direção pelo corredor, carregando a notícia de que o General aguardava permissão para visitar o Imperador em seus aposentos. Namjoon não precisou avisar ao amigo, ouviu a espada sendo embainhada, sabia que o monarca tinha ouvido, e também não pediu autorização para escoltar o lorde até o interior do cômodo opulento. Pelos deuses. O rosto de seu soberano, de seu amigo... O rapaz mal reconhecia aquela face, tão gélida e cruel. Então era assim que os servos viam o Rei? Min Chulmoo se curvou, levando a face ao piso. Namjoon não se surpreenderia se Yoongi dissesse que cuspiu no chão em que seu tio tocava os lábios agora. Quando o homem se ergueu, virou o rosto brevemente para trás lançando um olhar azedo para o guarda.
- Veio até aqui para ficar em silêncio, General? - Perguntou o Imperador, descansando o rosto no punho fechado com a cabeça levemente inclinada. Um felino avaliando a presa à sua frente, o único problema é que a presa também se parecia com um predador.
- Estou esperando o servo sair, Majestade. Isso é uma conversa particular.
- Se vai se hospedar em meu palácio, Lorde Min, deveria considerar aprender a diferenciar os verdadeiros servos. - Arquejou o Rei, baixo, enfatizando o "meu". O militar a sua frente o olhou incrédulo, inflando o peito. - Namjoon não sairá daqui.
- Muito bem, então. - Pronunciou, a voz carregada de arrogância - Fico muito... Satisfeito em ver Sua Majestade em-
- O que quer aqui, Min Chulmoo?
- Senhor? - O desgraçado se atreveu a soar surpreso. Interessado, o Imperador se ajeitou em seu colchonete, esticando a coluna, instantaneamente parecendo se tornar maior e mais ameaçador, e segurando as bordas da mesa de ameixeira à sua frente, os dedos batendo suavemente em ritmo nas laterais - Creio que não entendi a pergunta.
- Nessa idade, e ainda vai se fazer de desentendido, tio? - O Rei provocou, sorrindo - Todos nesse palácio sabem que você não veio aqui bajular o sobrinho.
- Não sei do que está falando, Majestade.
O General sorriu insolente, abandonando a postura respeitosa que manteve desde que chegou. O Imperador trincou o maxilar, o olhar tomado de fúria. Min Chulmoo sabia acobertar bem seus intentos, mas aqui, na frente de seu soberano, ele nem ao menos disfarçava. Já fazia anos que Yoongi sofria atentados contra sua vida, desde que começou a mostrar aptidão excepcional para o combate e para a política. A investigação que conduzia em segredo nunca chegava a lugar algum, empacando em becos sem saída, ou apontando para suspeitos muito improváveis. O General nunca apoiou o herdeiro. Era tão obvio que ele era a mente por trás dos ataques e traições, o responsável, tão perto das mãos do Rei para esmagar, mas ao mesmo tempo tão distante.
- Acha que eu não sei que você sempre planejou me substituir, General Min? Não consigo pensar em um motivo sequer para justificar sua visita à Hanyang, senão para tramar mais contra mim.
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Kingdom - Daechwita
FanficA maioria das nações mais antigas do mundo tem histórias interessantes sobre seus monarcas. Reis benevolentes, conquistadores, justos, guerreiros, cruéis... Mas poucas tem a liberdade de dizer que já tiveram um soberano insano. A Rússia teve o czar...