Ensaio Sobre Ela

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Nem vi você chegar, foi como ser feliz de novo.

_XV_

Os primeiros raios de sol apareciam nos céus da fazenda Cocoyashi, mas antes mesmo que eles aparecessem, Nami já estava de pé. Após finalizar suas atividades matutinas e se despedir de sua mãe e irmã, a ruiva foi em direção ao ponto de ônibus que a levava para o centro da cidade. No centro ela se encontrava com seus amigos para pegarem o ônibus escolar. Esse trajeto se repetia na volta para casa, onde passava o resto da tarde trabalhando na plantação de laranjas de sua mãe.

A noite a garota se matava nos estudos, pois precisava manter as notas sempre altas para não perder sua bolsa de estudos. A rotina de Nami era cansativa, mas a ela estava sempre motivada e alegre. Sua ambição é de um dia ser fabulosamente rica para nunca mais passar por tantos apuros e um dia poder retribuir tudo o que sua mãe faz por ela. Em nome de seus objetivos, Nami não media esforços. 

Porém, com a chegada do ensino médio as coisas começaram a se complicar. As atividades se tornaram mais difíceis, a cobrança aumentava, provas e trabalhos que pareciam não ter fim. A garota estava mais exausta do que nunca. Um dia, enquanto estudava na biblioteca da escola, Nami não conseguiu conter seu sono e acabou cochilando sobre seu próprio braço na mesa. Dormiu um sono profundo, perdendo totalmente a noção do tempo. Após algumas horas, Nami foi gentilmente acordada por uma garota de longos cabelos azuis e uma doce expressão em seu rosto.

- Ei... Desculpe te acordar, mas a biblioteca está fechando. - Disse a garota, tocando levemente em seu ombro. 

- Hã... obrigada. - Disse Nami, com um olhar de sono. Quando Nami olhou pelas janelas e percebeu que já estava anoitecendo, se desesperou, pegou rapidamente suas coisas e começou a desajeitadamente enfiar tudo em sua mochila. 

- Merda, perdi a hora. Se eu não chegar no ponto em cinco minutos, perderei o último ônibus. Merda! A Bellmere deve estar furiosa. - Disse a apressada garota. 

A menina de cabelos azuis estava observando a situação com uma expressão preocupada. Com as duas mãos juntas a frente do corpo, disse à ruiva: 

- Me desculpe, se eu soubesse teria te acordado antes. - Disse a gentil garota, com um leve beicinho. 

Nami parou o que estava fazendo e finalmente parou para prestar atenção nela. 

- Você trabalha aqui? Não se preocupe com isso, não é responsabilidade sua. - Disse Nami, forçando um sorriso simpático - Mas muito obrigada, se não fosse você talvez eu teria ficado trancada aqui.

- Eu não trabalho aqui, vim para estudar. Tenho um importante teste de geografia essa semana e ler mapas definitivamente não é para mim. - Disse a garota de cabelos azuis com uma expressão desanimada. - Estudei o dia todo e não estou nem perto de entender. 

- Geografia é a melhor disciplina, você só precisa pegar o jeito. - Disse Nami, com um sorriso descontraído no rosto. A outra garota sorriu de volta em resposta. 

- Bom, não quero tomar mais seu tempo, você vai acabar perdendo o seu ônibus.

- Ah, sobre isso... Eu não conseguiria chegar ao ponto de ônibus a tempo de qualquer forma. Mas já vou indo, tenho uma caminhada longa pela frente. Foi um prazer te conhecer e boa sorte com seu teste, tchau! - Disse Nami enquanto saía da biblioteca. 

Ao chegar na calçada da escola a garota gentil a alcançou e, ofegante, lhe perguntou:

- Qual é o seu nome? 

- Nami. E o seu? 

- Vivi. - Disse a garota, dando o mais lindo sorriso do mundo. - Deixe-me te dar uma carona até a sua casa. Meu motorista já está a caminho. 

- Tem certeza? Eu moro bem longe. Longe de verdade. Eu não posso aceitar e não tenho nem como te pagar. 

Vivi levou a mão ao queixo, como se estivesse pensando em um plano para convencer Nami. 

- Já sei! Me ajuda com meu teste de geografia e ficamos quites. O que acha?

Nami levou alguns segundos para responder, mas logo estendeu uma mão para segurar a de Vivi, selando o acordo. 

- Feito. Vou te garantir uma nota máxima nesse teste ou eu não me chamo Nami. - A garota deu uma piscadinha para Vivi. Logo em seguida, o motorista de Vivi chega, e Nami nota que a garota não é uma qualquer. Um carro enorme e com certeza caríssimo parou em frente a escola. Nami ficou receosa de entrar, e quando entrou, tentou não mexer em nada. Imagina se ela quebra alguma coisa? O conserto com certeza seria mais caro do que meses de lucro da humilde fazenda de sua família.

Conforme ia se aproximando de sua casa, Nami ficava mais apreensiva. Não queria que a riquíssima garota visse o quanto ela era humilde. Era um orgulho bobo, e embora Nami nunca se envergonhasse de sua mãe ou do lugar onde vive, dessa vez ela não queria que a garota pensasse que ela era inferior de alguma forma. 

- Pode me deixar aqui mesmo, já estou bem perto. - Disse Nami, apressada para sair do carro. 

- Te vejo amanhã então? - Disse Vivi, lançando o mais doce olhar para Nami. 

- Claro. Amanhã a gente começa. Tchau!

Quando Nami deitou-se em seu travesseiro para dormir naquela noite, o rosto meigo daquela garota não saiu de sua mente. Em uma confusão de sentimentos, chegou a pensar que talvez estivesse com uma certa inveja das boas condições da garota. Mas não era isso. Nami sentia um calor no peito ao pensar nela, ao lembrar de seus grandes e meigos olhos castanhos, a voz suave, a gentileza e delicadeza em cada movimento seu. Nami tentou afastar os confusos pensamentos de sua mente para ter finalmente sua merecida noite de sono.

Hard Feelings/LovelessOnde histórias criam vida. Descubra agora