Hard Feelings/Loveless

Mais Ninguém

     A voz de Ivana interrompeu o momento de Zoro e Sanji, que sequer perceberam que a música havia parado. Quando se soltaram, Zoro ainda manteve uma mão apoiada na cintura do loiro, como se não quisesse que ele se afastasse.

     - Não foi tão ruim assim, foi? - Zoro perguntou a Sanji, sorrindo de canto.

     - Até que não. - Sanji ergueu os ombros, franzindo o nariz enquanto falava, em seguida exibindo um sorriso irônico.

     Após a salva de palmas da plateia, todos voltaram às suas mesas, aguardando ansiosos o resultado.

     - Com certeza a gente ganhou! Vocês não viram como todos estavam sorrindo pra gente? - Disse Luffy, enfiando um monte de salgadinhos na boca.

     - Rindo da gente, você quis dizer. - Disse Usopp, olhando para o amigo, chocado com o tanto de comida que cabia naquela boca.

     Alguns minutos se passaram e Ivana voltou ao palco com duas coroas em cima de uma almofada vermelha, o que fez todos se ajeitarem em suas cadeiras e esperarem ansiosamente pelo resultado do concurso.

     - Senhoras e senhores, o momento mais aguardado da noite acaba de chegar! Em uma decisão quase unânime dos jurados, o casal vencedor da noite foi escolhido! Esse casal possui uma sintonia incrível, movimentos perfeitamente sincronizados e uma química de tirar o fôlego! Quebrando todos os padrões, as rainhas são Nami e Vivi! Venham cá, minhas lindas!

     A mesa onde Nami e Vivi estavam entrou em um surto, comemorando como se fosse final de copa do mundo. Após toda a comoção dos amigos, as duas rainhas foram até o palco para serem coroadas por Ivana. Após receberem suas coroas, as amigas deram as mãos e se curvaram diante da plateia que as aplaudia. Vivi abraçou Nami, e quando se afastou, segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou, em um selinho delicado que durou alguns segundos e fez a plateia vibrar.

     Ao separarem seus lábios, o coração de Nami estava tão acelerado que a garota teve impressão de que poderia vê-lo saltando por cima do vestido. A ruiva não conseguia evitar a expressão de surpresa, com os olhos arregalados e boca entre aberta, enquanto Vivi a olhava com um doce e sereno sorriso. Nami não sabia dizer o quanto ansiou por aquele momento, o quanto fantasiou com aquele beijo, e ele acabava de acontecer, por iniciativa de Vivi e em um momento super especial.

     Eram tantos sentimentos misturados que Nami achava que poderia explodir de felicidade. Quando as garotas desceram do palco, Nami puxou a amiga pela nuca e colou novamente os seus lábios, mas dessa vez sentiu uma certa resistência de Vivi, o que a fez soltá-la imediatamente. A expressão que Vivi tinha era estranha, e aquilo fez o estômago de Nami se revirar e suas mãos suarem.

     - Amiga, desculpa, eu... - Vivi dizia, com as palmas das mãos estendidas em direção a Nami, dando dois passos para trás. - Eu acho que você me entendeu errado, e...

     Antes que Vivi pudesse terminar de falar, Nami saiu correndo. Em um impulso inexplicável, Nami sentiu vontade de fugir para bem longe, correndo para fora do ginásio, segurando ao máximo as lágrimas.

     Da mesa onde estavam, os amigos assistiram toda àquela cena, e talvez metade das pessoas daquele baile viram também. Quando Nami saiu correndo, Vivi juntou as mãos a frente da boca e olhou para os amigos com lágrimas nos olhos, partindo na direção contrária de Nami, correndo até os fundos do ginásio.

     Sem pensar duas vezes, o grupo correu atrás de Nami, mas quando saíram na calçada não encontraram nem sinal da ruiva.

     - Merda! Pra onde será que ela foi? A pobrezinha deve estar desolada. - Dizia Sanji enquanto olhava para os lados em busca de Nami.

     - Ela não deve estar longe, vamos dar uma volta. - Disse Luffy, enquanto todos o seguiam.

     Após meia hora de procura, encontraram um pontinho azul sentado dentro de um bar de karaoke, com a maquiagem toda borrada, o penteado desfeito, e cinco copos vazios e um cheio em sua mesa.

     - E aí. - Disse Nami, com a voz embargada por conta do choro e do álcool.

     Aquele bar estava longe de ser um bar de classe alta, mas era um ambiente bem agradável. Os amigos extremamente bem vestidos para o local apenas se juntaram a mesa de Nami, em silêncio.

     - Eu sou uma idiota. - Disse Nami, deixando a cabeça cair e bater a testa na mesa, fazendo um alto barulho que chamou a atenção das pessoas ao redor e fez Usopp torcer o rosto, como se tivesse sentido dor por ela. Aquilo com certeza deve ter doído muito, mas o álcool a amortecia.

     - Então hoje seremos idiotas juntos. - Disse Robin, passando um braço pelas costas da amiga.

     Assim que se sentaram, Zoro tratou de chamar o garçom e pedir algumas bebidas para a mesa, enquanto Luffy pedia comida mesmo que já tivesse comido metade dos quitutes do baile.

     - Ei, Nami. Tá achando que a noite acabou? O nosso baile está apenas começando! - Disse Luffy, exibindo um largo sorriso para a amiga, o que a fez suspirar e se recompor, enquanto Robin limpava a maquiagem borrada de seus olhos.

     Aquela foi a noite mais divertida de todas. Os amigos beberam juntos, até Luffy e Usopp beberam alguns goles, o que foi suficiente para ficarem completamente malucos. Diferente da primeira vez que ficaram bêbados juntos, agora eles já eram maiores de idade e mais conscientes de seus atos e limites. Eles cantaram no karaokê, dançaram com as senhorinhas que estavam no bar e foram a atração principal daquele estabelecimento. Quando saíram do bar, pegaram "emprestado" dois carrinhos de um supermercado em que haviam entrado para comprar mais bebidas e apostaram corrida em uma ladeira, caindo inúmeras vezes e se ralando, mas não se importavam. Estavam sendo jovens, se divertindo, aproveitando dos últimos momentos da adolescência e se despedindo da cidade onde cresceram e amadureceram.

     No alto daquela ladeira mal iluminada, que era uma rua sem casas e sem movimento algum, os amigos se deitaram ao chão, um sobre o outro, observando as estrelas juntos. Não se importavam se iam sujar suas roupas, se alguém estava os observando, muito menos com o horário. Apenas aquele momento importava, apenas aquelas pessoas importavam para eles. O resto é resto.