Hurt In Love

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To be hurt in love, well darling, that's certain love.

_XXXIV_

Naquela noite silenciosa, Sanji e Zoro dividiam o mesmo quarto, não fazendo questão alguma de fingir um ao outro que não estavam profundamente chateados.

"Não irei te tocar nunca mais" foram as últimas palavras ditas um para o outro, e elas ecoavam em um loop infinito na cabeça de Sanji. Estava sim, muito ferido pelas palavras do espadachim, ao mesmo tempo que sentia que ele tinha razão em chamá-lo de covarde. Embora estivesse sempre depreciando e ofendendo Zoro, sempre admirou a força de vontade e a coragem do rapaz, que parecia enfrentar tudo de peito aberto, livre de qualquer medo de julgamento, livre de qualquer coisa que o prendesse de ser sempre ele mesmo.

Sentia-se envergonhado ao se comparar ao destemido espadachim, pois tudo o que o definia era medo. Medo de errar, medo de se machucar, medo de ter seu caráter posto em prova. Sanji amadureceu rápido demais, por vezes se comportava como adulto, mas ainda era um jovem de dezesseis anos. Um jovem que deveria ter o direito de errar, de aprender com os erros, de experimentar tudo o que a vida pode oferecer, mas tudo isso foi tirado dele, e era isso que Zoro não entendia.

Zoro definitivamente não entendia. A dor de ter seu carinho rejeitado naquela manhã estava mantendo o garoto acordado, enquanto se martirizava por não ter conseguido tirar o loirinho que tanto amava da cabeça o dia todo. Estava experimentando pela primeira vez a dor de uma desilusão amorosa, e estava doendo muito mais do que o sempre inabalável garoto poderia imaginar.

Seu peito apertava em angústia toda vez que pensava que nunca mais iria ter o cozinheiro em seus braços, e todas as lembranças de seus momentos ardentes vinham como flechadas em seu peito, machucando e fazendo-o sofrer. Embora estivesse decidido a nunca mais tocá-lo, deitar-se e ter que lidar com seus próprios pensamentos o fez perceber que definitivamente deixar de amar Sanji seria muito mais difícil do que ele imaginava. E não ajudava em nada dividir o mesmo quarto que ele, o que fazia o cômodo inteiro ficar impregnado com o perfume amadeirado do cozinheiro, misturado com um leve cheiro de cigarro que o espadachim achava odiar, mas aprendeu a apreciar.

Aquele cheiro que tomava todo o quarto o fazia lembrar de quando Zoro o sentiu diretamente do pescoço do loiro, enquanto o beijava e o pressionava fortemente contra si, dizendo com todas as letras que o queria. E como Zoro o queria. Nem quando ele tinha tocado Sanji apenas em seus pensamentos o queria tanto quanto agora, que já havia provado do doce sabor quente e viciante do cozinheiro

A angústia que o espadachim estava era de dar pena. O nó em sua garganta, o coração apertado, a cabeça confusa e o pau pulsando estavam sendo ótimos empecilhos para que o espadachim tivesse uma boa noite de sono, e como se tivesse um diabinho sussurrando em seu ouvido, se sentiu tentado a ir até a cama do cozinheiro incontáveis vezes naquela noite. Mas se tinha o diabinho, também tinha o anjinho, que o mandava se valorizar e cumprir com sua palavra.

Se o Marimo estava com problemas para dormir, Sanji não estava em uma situação tão diferente assim. Porém, enquanto Zoro lutava contra a vontade de ir até a cama de Sanji, o loiro juntava coragem para se deitar ao lado de Zoro e pedir desculpas. Não necessariamente pedir desculpas, mas o cozinheiro sabia que havia magoado Zoro, que não era obrigado a saber que ele tinha a mente totalmente fodida quando o assunto era se relacionar com homens.

Enquanto deitava e encarava o teto, Sanji preparava o roteiro de sua aproximação, ensaiando tudo o que queria dizer para o espadachim. Não iria admitir que estava errado, jamais. Pedir desculpas por ter reagido daquele jeito ao carinho inesperado na cozinha? De jeito nenhum. Ou então quem sabe confessar que o ama e pedir para ele ter um pouco de paciência? Nem fodendo! O orgulhoso cozinheiro não estava disposto a abaixar a guarda de forma alguma, e enquanto pensava no que diria a Zoro, percebeu que o céu estava clareando, o que indicava ser por volta de seis horas da manhã, uma hora antes do cozinheiro normalmente se levantar. Ainda não tinha decidido o que iria fazer, e para piorar havia perdido uma noite inteira de sono, que foi inútil no fim das contas, pois o loiro ainda estava sem respostas.

Zoro também não havia pregado os olhos, e quando viu o céu clarear indicando que o sol logo ia nascer, percebeu que havia perdido uma noite toda sofrendo por Sanji, mas não estava com nem um pingo de sono. A perturbação em sua mente estava sendo mais forte que qualquer cansaço físico.

Quando deu sete horas, Sanji se levantou, aceitando que era um covarde que não tinha a capacidade de sequer fazer as pazes com o garoto que ele gostava, correndo o risco de perdê-lo para sempre. O garoto sentou-se na cama, suspirou, e se preparou para fazer as suas habituais atividades matutinas, mesmo sem ter dormido por um minuto sequer.

Com a mesa um pouco mais cheia aquela manhã, os amigos tomaram o desjejum numa animação um tanto exagerada para o horário, enquanto planejavam o itinerário do dia. Sanji e Zoro, contrastando com a empolgação de todos, estavam feito zumbis, com profundas olheiras e o olhar caído. Sanji devia estar na décima sétima xícara de café.

Quando todos foram empolgados para a praia, apenas Sanji e Zoro ficaram na mesa. O sonolento espadachim suspirou, juntou seu prato e sua xícara e levou até a pia da cozinha. Quando Zoro se levantou e passou por ele, Sanji sentiu um choque percorrer todo seu corpo, lhe dando a súbita coragem que ele tentou ter a noite inteira. Enquanto Zoro colocava a louça na pia, Sanji levantou-se num pulo, foi até ele e abraçou suas costas, agradecido pelo rapaz não ser capaz de ver seu rosto naquela posição.

- Você me pediu pra ficar com você... E... Eu... Q-quero. Também te quero muito, idiota. - Sanji falou baixinho, sentindo seu estômago se revirar a cada palavra dita.

Ao sentir os braços do cozinheiro ao redor de si, o coração de Zoro quase parou. As palavras que saíam daquela boca estavam muito além das expectativas de Zoro, o deixando até com dificuldades de acreditar no que estava ouvindo. Maldito cozinheiro, sempre imprevisível.

- Eu só queria... Te pedir uma coisa... - Sanji continuou, tirando os braços ao redor de Zoro, que se virou para encará-lo. Sanji fitava o chão, juntando coragem para olhar Zoro nos olhos.

- Você me espera? - Pediu o cozinheiro, finalmente conseguindo subir o olhar e encarar o rapaz que era dono de seu coração. Seu rosto estava vermelho e os olhos azuis apreensivos, enquanto apertava a boca, tenso com a expectativa da resposta que seria dada pelo outro.

Zoro não tinha certeza se havia entendido o que Sanji quis dizer com esperar, mas aquilo não importava agora. Como se um peso tivesse deixado seus ombros, Zoro apenas suspirou e fez que sim com a cabeça. Sanji sorriu e ficou ainda mais vermelho, voltando a encarar o chão.

- Você também não dormiu nadinha, não é? - Perguntou Zoro, com os braços cruzados e encostado na pia.

- Talvez. - Respondeu Sanji, que ainda manteve a cabeça baixa, encarando as próprias mãos.

- Eu notei que você levantou umas trinta vezes essa noite pra fumar, cozinheiro. Vem cá, eles não precisam da gente para se divertirem. - Zoro puxou Sanji pelo braço, levando-o para o quarto. Chegando lá, Zoro se jogou em uma das camas levando Sanji junto consigo, fazendo-o cair deitado sobre si. Os dois completamente exaustos garotos dormiram desajeitadamente um sobre o outro, como se finalmente o que os impedia de dormir tivesse deixado seus corpos.

Hard Feelings/LovelessOnde histórias criam vida. Descubra agora