Flight

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O ar estava impregnado com o cheiro metálico do sangue seco, como um aviso silencioso do perigo iminente. A flecha que há poucos minutos trespassara meu ombro agora jazia enterrada na garganta de um dos caçadores, testemunha muda de nossa batalha sangrenta.

No coração do Texas, um terreno tão vasto quanto implacável, cada sombra escondia uma ameaça e cada passo era um jogo arriscado com a morte. Contudo, a esperança, aquela frágil chama que teimava em não se apagar, me impeliu a desafiar o destino e permanecer onde outros teriam fugido.

Mas não importava para onde eu fugisse, os tentáculos da minha própria família me perseguiam sem trégua, como lobos famintos caçando a presa ferida. Eithan, meu irmão mais velho e o principal arquiteto dessa perseguição implacável, liderava o bando com determinação insensível.

"Camila!", sua voz ecoava entre as árvores como um sinistro eco da minha própria consciência. "Você não pode se esconder para sempre!"

Eithan, o bastião da tradição familiar, o executor impiedoso das regras estabelecidas, estava sempre um passo à frente, seu olhar gélido mirando-me como uma fera prestes a atacar.

"Não pense que pode fugir de nós, irmãzinha."

Sua voz carregava um peso ameaçador, sua besta apontada para o meu peito como um símbolo da nossa desconexão irreparável.

"Fugir é tudo o que me resta, irmão."

Minhas palavras eram como o eco de uma prece desesperada, ecoando entre as árvores como um lamento ancestral. Mas antes que pudesse desferir uma resposta, o ar foi cortado pelo som agudo do arco se soltando e pela visão mortal da flecha voando em minha direção.

Meus instintos afiados como lâminas reagiram instantaneamente, desviando-me por uma fração de segundo do golpe fatal. Mas antes que pudesse recuperar o fôlego, a segunda flecha, impregnada com o veneno do acônito, encontrou seu alvo, perfurando meu abdômen com uma dor lancinante.

O veneno, uma substância mortal de origem exótica, se espalhou como fogo líquido em minhas veias, tingindo minha pele com tons de amarelo letal. As palavras de Eithan ecoavam como um lamento distante, enquanto eu lutava contra as garras da morte que se cerravam ao meu redor.

Mas mesmo no limiar da escuridão, um último lampejo de determinação ardia dentro de mim. Com uma destreza nascida da necessidade pura, minhas garras encontraram seu alvo, dilacerando a jugular de Eithan com uma ferocidade desesperada.

Seu corpo tombou, seu sangue tingindo o chão como um tributo sombrio à nossa luta fratricida. Mas não havia tempo para comemorações, pois os passos dos outros caçadores ressoavam como trovões ao longe, anunciando o inevitável confronto que se aproximava.

Com as últimas reservas de energia, corri em direção ao rio que serpenteava pela floresta, minha mente turva pela dor e pela exaustão. Cães de caça farejavam meu rastro, suas presas afiadas prontas para o ataque.

Mas diante do rio tumultuoso, com suas águas escuras e promessas desconhecidas, eu sabia que não havia outra escolha senão arriscar tudo. Com um salto desesperado, mergulhei nas águas geladas, deixando para trás a segurança da terra firme em troca da incerteza do desconhecido.

Enquanto as lanternas dos caçadores iluminavam a floresta em busca de sua presa fugitiva, eu flutuava à deriva, meu corpo ferido afundando lentamente nas profundezas desconhecidas do rio. O frio me envolveu como um abraço mortal, mas acima de mim, as estrelas brilhavam como guardiãs silenciosas da minha jornada incerta.

E assim, em meio às águas sombrias e à escuridão impenetrável, eu afundei na inconsciência, minha última visão sendo a lua crescente que pairava sobre mim como um farol em meio à tempestade.

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Forever is just the beginningOnde histórias criam vida. Descubra agora