Sombras do Passado Pt1

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A adolescência é uma época de sonhos, mas os meus eram diferentes. Enquanto outros adolescentes sonhavam com festas e paixões, eu carregava um legado sombrio. Desde criança, fui treinada para a caça, uma tradição ancestral que minha família mantinha em segredo.

Aos 15 anos, descobri a verdade sobre nossa linhagem e a missão que nos foi incumbida: caçar criaturas sobrenaturais. Uma aliança entre as famílias Cabello e Estrabão foi formada para esse propósito, e eu estava destinada a seguir esse caminho.

Num passado distante, minha antepassada Maria Estrabão enfrentou um adversário sinistro chamado Morgado. Seus relatos, registrados em um diário antigo, ecoavam em minha mente enquanto eu buscava refúgio em uma mansão abandonada.

A tempestade que se formava lá fora parecia ecoar o tumulto dentro de mim. Os eventos recentes haviam despertado lembranças sombrias, mas eu sabia que não podia me deixar abater. Havia algo sinistro rondando, algo que despertava meus instintos de caça.

Enquanto a chuva martelava contra os vidros, eu lia as palavras de Maria Estrabão, sentindo o peso da herança que carregava. A presença de Morgado ainda pairava sobre mim, como uma sombra à espreita. Sabia que teria que enfrentá-lo, mais cedo ou mais tarde, num confronto que decidiria o destino de nossa linhagem.

Mas por enquanto, eu me refugiava na escuridão da mansão, preparando-me para a batalha que sabia estar por vir. O cheiro da comida desconhecida pairava no ar, uma tentação em meio à tempestade. Mas eu sabia que precisava manter minha mente afiada, pois as verdadeiras ameaças estavam além das paredes da mansão, espreitando nas sombras da noite.

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...

Abri meus olhos suspirando com outra lembrança do passado, era normal que todos da nossa família víssemos o que nossos antepassados passaram. Era sempre assim, vinha em sonhos, era como se tivéssemos lá vivendo tudo, sentido as mesmas coisas que sentiram ou presenciaram.

Me espreguicei calmamente para observar o quarto com um pouco mais de atenção, ontem e os últimos dois dias tinha sido deveras exaustivo e estressante, não tive tempo para digerir os acontecimentos recentes e nem analisar as coisas ao meu redor.

Umas das poucas coisas que pude perceber é que tudo ali é de época, a cama, os tapetes, vasos, os banheiros e a cozinha. Algumas coisas pertencentes a casa estavam cobertas pelos lençóis empoeirados no andar de baixo, somente nesse quarto tudo parecia estar intacto e sem nenhum detrito.

Achei melhor me vestir para arrumar comida, talvez houvesse outra capivara por aí só na espera de ser um delicioso banquete para mim.

Desci as escadas escorregando pelo corrimão de madeira que rangia pelo peso da minha bunda. A mansão estava silenciosa de mais e nem os passarinhos resolveram dar as caras, mas não dei tanta importância.

Rumei para cozinha suspirando ao lembrar que teria que caçar para não morrer de fome, eu não tenho muita previsão de quando minha estadia nessa mansão terminará.

É claro que não pode durar muito já que ainda estou sendo procurada pela minha maldita família.

O dia estava terrivelmente nublado e aquela cara de tempestade terrible.

"Merda"

Eu teria que caçar muito e ainda procurar lenha para passar a noite tempestuosa que está por vir, sem contar com o nível da chuva e dos ventos.

Qual era a probabilidade da casa despencar na minha cabeça?

Não quero nem pensar nisso.

(...)

Nada! Exatamente nenhum ser vivo foi encontrado, nem pelos meus sentidos aguçados ou habilidades de caça.

Triste e frustrada.

Só consegui lenha e alguns cachos de banana, mesmo que eu ame a fruta é preciso carne para me manter.

Entrei decepcionada no meu novo lar temporário carregando sem nenhum esforço a quantidade de madeiras e bananas, ao chegar na cozinha pus tudo em cima da bancada para depois ir pegar um pouco de água para beber.

Passei o dia inteiro na floresta em busca de comida falhando miseravelmente, agora já estava para anoitecer e a chuva deu seu tão esperado olá.

Não havia muito o que fazer, somente preparar a casa e a lareira para o frio.

Depois de lacrar as portas e janelas aproveitei para ascender as velas que encontrei na mesa do escritório, não era só porquê eu enxergava no escuro que tinha que permanecer no mesmo.

Um cheiro delicioso de pato assado invadiu os meus sentidos me enlouquecendo totalmente, não consegui impedir que minha boca escorre tanta baba.

Fui atraída até a cozinha me deparando com o belo assado que me chamava com seu aroma tentador, muito tentador.

Passei a língua entre os lábios ao ver bananas picadas em rodelas, aquilo era de mais pra mim.

Fui sem dó me deliciar com todo aquele preparo que não faço ideia da onde surgiu, o sabor divinamente maravilhoso sem igual.

(...)

Não consegui achar uma explicação para minha refeição de alguns minutos, ou talvez eu só estivesse fugindo da verdade.

Espíritos? Puf!!!

Isso não é importante no momento. Tenho coisas mais preocupantes para ter meu foco, espíritos ou não é irrelevante, só não entre no meu caminho.

A tempestade maléfica deu-se início com raios e trovões, o vento gritava contra as madeiras das janelas e portas querendo derruba-las a todo instante.

Me abriguei no calor da lareira do quarto e folheando páginas do diário de Maria Estrabão para passar o tempo.

27 de Julho, 1799 Havana, Cuba.

Não era de se esperar que Morgado fosse me procurar. O homem me perseguiu por toda Cuba infelizmente me encontrado no quarto de um taverna imunda.

Querido diário, não era à toa meu medo daquele homem, eu sentia suas más intenções sem precisar toca-lo.

"Você é uma ratinha difícil de se encontrar"

Irritada tomei uma golada de rum observando o homem com seu sorriso arrogante.

- Senhor Morgado, creio eu que é muito audacioso da sua parte me importunar.

O aviso foi bastante claro sem aberturas para deboches, sua expressão sorridente se desmanchou se tornando algo assassino.

"Garota insolente, sabe quem eu sou?"

Sorri com escárnio.

- Não seja patético Michael.

Morgado arqueou uma sobrancelha, sua expressão desafiadora encontrando o olhar destemido de Lauren. "Você não deveria me desafiar, garota. Não sabe com quem está lidando."

Lauren não recuou, mantendo-se altiva diante da presença imponente de Morgado. "Eu sei muito bem com quem estou lidando, Morgado. E não me impressiono facilmente com suas ameaças vazias."

Um sorriso irônico brincou nos lábios de Lauren, enquanto ela encarava Morgado com uma mistura de desdém e superioridade. "Você pode ser conhecido como Morgado, mas não passa de um peão insignificante diante da Rainha. E eu não tenho tempo para lidar com jogadores menores."

Morgado pareceu momentaneamente desconcertado pela ousadia de Lauren, mas logo recuperou sua compostura, embora uma centelha de raiva brilhasse em seus olhos. "Você pode se considerar poderosa, Lauren, mas todos têm seus pontos fracos. E eu vou 8descobrir o seu."

Lauren apenas sorriu, sua confiança inabalável evidente em cada palavra que proferia. "Pode tentar, Morgado. Mas saiba que eu sou a rainha deste jogo, e você é apenas mais uma peça a ser movida conforme a minha vontade."

Morgado engoliu em seco, percebendo que subestimar Lauren seria um erro fatal. Ele sabia que enfrentá-la seria uma tarefa árdua, mas estava determinado a provar que não era tão facilmente derrotado.

Ainda mais por sua própria filha.

Forever is just the beginningOnde histórias criam vida. Descubra agora