TWO

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tem att todas as quartas!! ♡

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— Como é? — o de fios negros replicou, a mão ainda parada naquele ato intocável, a voz denotando uma certa incredulidade e talvez leve sarcasmo que fez Jimin se aquiesquer, arrumando sua postura e cruzando os braços, o queixo reto.

A distancia entre eles, da varanda pequena ao terraço vizinho da mesma altura não era extensa o suficiente para não tê-lo ouvido. Os predios eram literalmente colados.

— O gato, ele é meu. Não sei como foi parar aí, talvez você provavelmente tenha achado-o em seus passeios na rua e levado para sua casa, por ele ser muito carinhoso ou algo assim. Ou talvez ele tenha simples pulado até aí, enfim. Agradeceria muito se você o me devolvesse.

E ambos se encararam um instante, Yoongi direcionando os lumes para o gato, parecendo pensar por alguns segundos antes de sorrir levemente — coisa que não se passou nem um pouquinho em branco para Jimin —, arrumar seu casaco felpudo com listras lilases e amarelas, como numa mania gracejosa apenas para se demorar em outro ato, condescendente, a duração da espera fazendo com que o Park pudesse ouvir cada batida de seu coração como uma música de fundo. Então ele pegou o gato atento cuidadosamente, aninhando-o em seu peito como se fosse um bebê. O estudante de veterinária seguindo tudo criteriosamente, um "humpf" velejante em seus pensamentos refletindo seus lumes debochados e atentos, quase identificos ao do felino, tão descarado. Bom, nem se surpreendeu com a pose relaxado do dito cujo, tamanha a intimidade com que empurrava sua cabeça na mão do outro há minutos atrás

— Você prefere vir aqui ou que eu te entregue lá embaixo? — Yoongi perguntou, e o modo casual com que se mantinha em pé, segurava o gato e falava consigo de alguma maneira desconcertou levemente Jimin.

— Em frente ao seu prédio pra mim está bom.

Num instante estava na calçada cinza, os braços cruzados à espera do outro. Quando ele chegou, com o animal alaranjado nos braços confortavelmente, fizeram um contato visual acirrado, uma clara denotação de divertimento se sobressaindo nos dos Min.

— Obrigada. — disse rapidamente, dando um passo e estendendo as mãos para segurar o bichano molenga adequadamente, colocando-o sua cabeça proximo ao seu peitoral, como fazia em casa. Sabia que Yoongi escaneava seu rosto, observando a si e seus movimentos com uma atenção que o poderia fazer corar. Na imaginação atrevida fez-se num rompante a cena de dois bandidos famosos se encarando numa rua, dois cowboys extremamente sérios com o rosto marcado pela fuligem no faroeste, a prolongação do prelúdio de uma batalha.

Provavelmente poderia ser um reflexo de sua imaginação referente aquele acaso.

Se contasse isso a Hoseok, o moreno provavelmente lhe daria o maior tapão no ombro enquanto se explodia de dar risadas. Ia virando as costas até que Yoongi falou novamente, um sorriso calmo e genuino podendo ser sentido na voz:

— Nada. Eu encontrei o laranjinha de baixo das minhas hortelãs, se quiser saber. Ele parece gostar muito de plantas. — cruzou os braços no casaco quando uma rajada de vento passou, e o Park se controlou pra não achar aquele gesto meio fofinho.

"Laranjinha"

— É, hum. Vou indo agora, então... tchau. — se sentia incomodado por sua falta de jeito, aquela abordagem anterior tão... anormal e súbita. Se sua vó o visse fazendo aquilo iria ter um treco, isso sim.

— Pera aí! Eu posso saber seu nome? Sabe, para caso ele — apontou para o bichano, que ronronava apenas por estar no colo do Park — aparecer por minha casa de novo. Você não parece gostar que ele saia, então eu te devolvo se acontecer.

Sugeriu educadamente, dando de ombros como se... quisesse ser gentil. Os dedos branquinhos seguravam a barra do casaco desde que gesticulou com a fala anterior, os pés repousados na calçada enquanto esperava por uma resposta.

— Na verdade... Tudo bem Kira te visitar quado quiser, não faz muito bem mesmo ficar trancado sempre em um apartamento. — foi sua vez de dar de ombros, trocando o peso nos pés antes de encarar o outro, encontrando uma porção de curiosidade singela que lhe doeu o seio. — E meu nome é Park Jimin.

— Min Yoongi. Hm... Okay, a gente se vê. — a cada palavra ia dando alguns passos para trás em direção ao seu portão, um rastro de sorriso minimo nos labios. Quando se virou completamente, cinco segundos se passsaram antes que ele voltasse e dizesse: — A propósito, adorei as pulseiras no pulso.

Antes que Jimin pudesse sussurrar um obrigado ele já havia desaparecido por entre o portão. E o Park ficou lá, por alguns instantes, meio embasbacado com tudo, o felino em mãos e o corpo de súbito ainda numa atmosfera estrelar que fora jogado no momento em que o Min perguntara por seu nome.

─ ❁ ─

Quando abriu a porta amarelada de seu apartamento, Jimin teve a suprema necessidade de se atirar por sob o estofado puido que era seu sofa, enfiar a cara lá e só sair quem sabe daqui há muitos e muitos anos. Se virou para o gato, os lumes que eram tão semelhantes a planetas caramelados sendo um espelho para seu próprio rosto envergonhado e corado.

Bufou, parecia um adolescente.

Na verdade... sempre parecera, em matéria de paixão. E sim, quase teve um auto-treco ao pensar na ultima palavra proferida. Qualquer coisinha mínima era motivo para uma fagulhar ser incendiada naqueles seus confins —  tão empoleirados — de seu seio, lançando chama e iluminação no que era breu. Ai ai, Jimin se iludia demais.

— Tudo culpa sua, seu descarado infiel. — acusou o felino que já se deitava por sob a suas costas como se também fosse um sofá. Ah, raciocinando agora... não tinha mal algum Kira ficar lá no terraço, mesmo. Sabia que o felino era selvagem e que muito antes de pegá-lo pra criar ele tinha costume de passear porta à fora livremente; mas com Yoongi... com Yoongi provavelmente nada lhe ocorreria de mal ou perigoso, sabia que o rapaz do prédio ao lado era gentil, tanto as suas observações por sob a janela, a ouvir aquele riso que denotava um sorriso gengival quando alegrado, as tardes cheias que passava no terraço e Jimin via-o por sob a cortina esbranquiçada, piscares de cílios calmos enquanto absorvia cada miríade de detalhes de um menino crescido que parecia não ter pressa de nada, usando casacos de listras ou blusas de xadrez vermelhas.

E se lembrando agora, tinha mania de perguntar-se se por acaso ele não estudava ou algo assim, de tanto que ficava a pairar pelo terraço, numa calmaria sem fim que Jimin nunca tinha em seus dias de semana, acumulos e acumulos de trabalhos a serem realizados com um prazo marcado à tinta cruel.

No fundo, parecia-lhe alguém legal, com quem teria uma conversa na fila do mercado e talvez — só talvez, iria cair de amores aos segundos-instantes em que tivesse à par de olhos aquela beleza... singela, perto demais para que simplesmente não caísse.

Levantou-se do sofá, decidido a fazer um café e, ah, estudar, ou apenas ver Dumbo como se não existisse responsabilidade nenhuma e futuro nenhum com mil e um sistemas cardiacos de animais para serem decorados na mente, à ponta da língua quando requisitados nas gavetas da memória.

E, claro, antes de pôr enfim a chaleira no fogo, olhou janela à fora ao puxar de lado casualmente a cortina, secretamente à procura de um par de olhos felinos mais humanos que jurou já ver. Encontrou solar ameno e estrelas irisdecentes com vontade de aparecer no céu; e ele sorriu, já tendo o mero prevenimento de que haveria abalos cósmicos, sobrepujando a terra e fazendo com que o chão mudasse de forma, corações acelerados nunca lhe batiam a porta por nada.

Em suma, só faltou rodopiar nos ladrilhos da cozinha, uma espera pela bebida amarga para apaziguar os resquícios de sua também meninice alardeante que lhe fazia cócegas no estômago — Park Jimin se recusava a acreditar que eram borboletas.

RETALHOS ALECRIM | YOONMIN Onde histórias criam vida. Descubra agora