Capítulo 1 - Hora de acordar

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            Eu caminhava devagar através da névoa suave ao redor dos meus pés. Era noite, o céu estava bastante estrelado e uma enorme lua cheia clareava tudo ao redor. Eu adorava esse cenário. Apesar de estar em uma floresta à noite e no meio de uma névoa persistente, eu não tinha medo, pois sabia que logo ele estaria comigo.

Saí do meio das árvores e fui em direção à clareira, que era o nosso ponto de encontro. A névoa persistia ali também, mas felizmente não passava dos meus joelhos.

Lucas já me aguardava. Estava bonito como sempre. Ele era alto, tinha o cabelo bem preto, olhos azuis marcantes, era musculoso, a pele clara brilhava com a luz da lua cheia. Usava a roupa estranha de sempre, algo que me lembrava dos filmes de época, a camisa branca de mangas compridas e bufantes, calça marrom de cintura alta e botas de montaria. Ele sorria para mim, gentil como sempre. Eu não podia falar muito sobre as roupas dele, já que eu usava apenas uma camisola e estava descalça.

Me aproximei e coloquei a mão na parede invisível que nos separava. Parecia algum tipo de vidro ou plástico muito estranho, que nenhum de nós conseguia ultrapassar. Toda nossa comunicação era através daquela parede esquisita.

- Oi, minha estrela. - Lucas me cumprimentou sorridente.

Eu adorava o apelido carinhoso pelo qual ele me chamava.

- Oi. - respondi igualmente sorridente e meio tímida.

- Senti sua falta, Melissa. - ele falou ainda sorridente, mas com um olhar penetrante no meu rosto.

- Eu também senti a sua, apesar de nós termos nos visto ontem. - eu disse sorrindo e passei a mão na direção onde ficava o rosto de Lucas. Ele fechou os olhos e encostou a cabeça na parede invisível.

- Não é o suficiente para mim, Melissa. - ele falou com um suspiro.

- Me desculpa, Lucas, mas eu... Não posso. - eu falei triste e baixei a cabeça.

Lucas já tinha me dito o que fazer para a parede invisível desaparecer: Eu deveria retirar o meu colar, um amuleto com uma pedra branca leitosa, do tamanho de uma moeda que parecia brilhar, uma pedra da lua, que a minha mãe me deu e que eu sempre carregava no pescoço. Sem ele, eu poderia atravessar a parede e encontrar Lucas. Porém, os avisos da minha mãe de nunca retirar o colar eram mais fortes e eu nunca o retirava e isso deixava Lucas triste e abatido.

Lucas abriu os olhos tristes e me encarou.

- Tudo bem, minha estrela. Eu não me importo de esperar o tempo que for necessário por você. - ele disse com firmeza.

Eu abri um sorriso triste para ele e senti o impulso de abraçá-lo, porém a parede me barrou. Merda.

De repente, uma luz muito forte foi surgindo, fazendo Lucas e tudo ao redor sumir aos poucos. A noite virou dia e tudo ficou branco, ofuscando minha visão.

Acordei com o alarme irritante do meu celular e as palavras de Lucas ressoando na minha mente.

Não era a primeira vez que eu sonhava com Lucas. Tudo começou mais ou menos uns três anos atrás. No começo, eu só ficava vagando pela floresta, até então desconhecida, sem rumo, até acordar. Uma bela noite, encontrei a clareira e o rapaz bonito que estava lá. Começamos a conversar e ficamos amigos desde então.

Eu sonhava com Lucas todas as noites sem falta e os sonhos eram assim, sempre ricos em detalhes e peculiaridades, como o fato de existir uma parede invisível que me separava de Lucas por causa do amuleto que eu usava. Mas a minha grande surpresa foi perceber que Lucas era muito parecido com Lorenzo, o chefe da minha irmã, amigo da nossa família e meu amor platônico desde que eu tinha doze anos.

Dama da noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora