Capítulo 5 - Mundo novo

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Aquilo era real mesmo. Ou melhor, surreal.

Eu estava de pé na frente de uma das janelas e tinha aberto as pesadas cortinas azuis. O cenário lá fora era digno de filmes. Um campo enorme com algumas árvores em uma tonalidade de verde bem vivo. Um pequeno jardim, mais próximo da casa, com uma variedade de flores coloridas e um pequeno lago no centro de tudo. Aquele devia ser apenas o quintal da casa de Lucas. Lucas devia ser rico. Não apenas rico, mas podre de rico. Nunca parei para perguntar esse tipo de coisa para ele, afinal de contas, até ontem eu achava que ele não era real. Mas pensando bem... Quem era Lucas em Havilah e como era Havilah? Será que ele me levaria para conhecer tudo? Pelo modo como ele se vestia devia ser algo diferente...

Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos. A porta se abriu e uma cabeça entrou.

— Bom dia, a senhorita deseja tomar o seu desjejum agora? — a moça com uma touca na cabeça me perguntou.

— Bom dia, sim, por favor — respondi meio encabulada. Não estava acostumada com toda essa "cerimônia".

A moça abriu a porta e entrou com um carrinho, parecido com os que eu tinha visto em hotéis, e uma bandeja enorme em cima, cheia de uma variedade de comidas. Será que o Lucas pensava que eu ia dar conta de comer tudo aquilo?

A moça, que usava um uniforme antiquado (um vestido comprido, cinza, de mangas compridas e com um avental branco) começou a organizar os itens da bandeja em cima da mesinha redonda com duas cadeiras que tinha dentro do quarto.

— Qual é o seu nome? — perguntei a ela, para quebrar o gelo.

— Yarin, senhorita — ela respondeu solícita, sem levantar a cabeça.

— Obrigada, Yarin — respondi e dei um sorriso para ela.

Ela parou o que estava fazendo e me olhou meio assustada. Mas logo em seguida assentiu e deu um pequeno sorriso e voltou ao trabalho. Achei meio estranho. Yarin era bonita. Seu corpo era pequeno, a pele clara, os olhos castanhos assim como os cabelos, apesar de eu não poder ver muito pois estavam presos naquela touca ridícula.

Me sentei e dispensei a ajuda de Yarin para me servir o café.

— Vou providenciar um banho para a senhorita e arranjar alguns vestidos também. A senhorita não vai poder andar de camisola o dia inteiro — ela falou enquanto preparava o carrinho para sair do quarto.

Quase deixei o bule cair da minha mão.

— Eu não estou de camisola — argumentei. Eu ainda usava o vestido da minha mãe.

Yarin deu uma olhada no meu vestido e falou meio incerta:

— Nunca vi nenhuma mulher usando um vestido nesse comprimento, senhorita.

Meu vestido era curto. O vestido que Yarin usava era longo. Será que era esse o problema? E será que as mulheres de lá não usavam calças? Que esquisito.

— Tudo bem, pode me trazer o vestido — eu disse meio sem graça. O jeito era dançar conforme a música.

Yarin saiu e voltou mais tarde com uma porção de vestidos, que ela acomodou em cima da cama. Depois ela foi para o banheiro que ficava dentro do quarto e foi "preparar" o meu banho. Eu ainda não tinha entrado no banheiro, então não fazia ideia do que isso significava.

Será que existiam privadas ali? Luz elétrica não, pois as velas que iluminavam o quarto eram a prova disso, além da ausência de lâmpadas, interruptores e tomadas pelas paredes. Agora o banheiro estava me assustando. Será que Havilah era uma viagem de volta no tempo? Mulheres só usavam vestidos longos, não existia luz elétrica, banheiros...

Dama da noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora