Dan

24 8 4
                                    


Ela sorriu e então os pedacinhos do meu coração quebrado se juntaram novamente. Lily estava com uma aparência péssima, mas era de se esperar, provavelmente Diana ficara do mesmo jeito quando estava presa dentro de seu apartamento. A garota na minha frente falava sobre dores com tanta propriedade que provavelmente colecionava um tanto delas.

-Você espera aqui enquanto eu tomo banho? - Questionou, pegando-me de surpresa.

-Claro. Quer ir a algum lugar?

-Não, ainda não, Dan. Só vamos ficar por aqui, pode ser? E pede uma pizza, estou faminta. Eu menti quando disse que comi hoje, estou sem nada desde o café da manhã. - Ela terminou de dizer e caminhou em direção ao banheiro.

Pedi a pizza e fiquei sentado no sofá esperando que chegasse logo. O apartamento delas é bem legal, tem um tamanho razoável e é decorado de uma forma criativa. A sala fica bem ao lado da pequena cozinha, que também possui pôsteres de decoração. A geladeira por exemplo é toda adesivada com nomes e figuras importantes do rock. Eu amei isso. A impaciência tomou conta de mim, sempre fui muito agitado, mas naquele instante comecei a me perguntar se estava ansioso por Lily... Ficar ao seu lado, por mais que ela estivesse despedaçada, era como terapia para mim. A luz que ela carrega dentro de si ilumina de alguma forma os cantos mais profundos e escuros da minha alma. Caminhei lentamente pelo cômodo, cansado de esperar e quando vi uma agenda e uma caneta na bancada me apressei em pegar. Um desenho atoa não mata ninguém. Sentei e fiquei ali, perdido na minha nova obra. Desenhei Lily, florescendo como a flor "lírio". Sua cabeça estava jogada para trás, desenhei seus traços perfeitamente, algumas flores saiam pelos seu olhos e outras enrolavam seu pescoço e suas mãos.

"Florescer exige passar por todas as estações. Você é forte, Lily" escrevi a frase embaixo do desenho. 

Estava tão concentrado ali que não ouvi ela chegando.

-O que é isso? Que lindo! - Exclamou a garota surgindo atrás de mim, pude sentir sua respiração quente em minha nuca.

-É pra você. - Entreguei a folha para ela, que recebeu com os olhos brilhando, foi a primeira vez desde que cheguei.

-Eu amei! - Seus olhos ficaram marejados e detectei faíscas de esperança.

Ela caminhou até a geladeira e prendeu o desenho com um ímã em cada ponta.

-Quero ver isso todos os dias. - Explicou, encarando-me por cima dos ombros.

Alguns segundos depois a pizza chegou, desci para pegar. Quando voltei Lily me esperava na porta, segurando uma garrafa de vinho e dois cobertores.

-Vem, quero te mostrar um lugar. - Falou sorridente.

Seu cabelo loiro estava molhado, ela vestia calça jeans, uma camiseta do Green Day e seu típico all star preto. É impressionante como sua beleza consegue ser simples e ao mesmo tempo tão chamativa. Faz com que eu sinta uma vontade exasperada de encará-la o tempo todo, analisar cada traço do seu rosto, ela é com certeza a obra de arte mais linda que já vi. Seus olhos conseguem ser ainda mais hipnotizantes, como se fossem capazes de enxergar a minha alma. O roxo em sua pálpebra estava sumindo aos poucos, mas ainda permanecia ali e eu tinha a impressão de que isso não a incomodava, mas pelo contrário, eram marcas de sobrevivência, ela não precisava se envergonhar ou esconder e no fundo ela queria isso, queria deixar ali. Visível a todos. Assim, talvez se as pessoas vissem as cicatrizes de verdade, a prova de aquilo realmente aconteceu, entendessem melhor a sua dor e não a julgassem por senti-la, como acontece com milhares de vítimas todos os dias, que são agredidas e então questionadas.

Seguindo seus passos pelo corredor do prédio subimos mais dois lances de escada, quando ela finalmente abriu uma porta pesada de metal que ficava no final do corredor do último andar. A vista era incrível, ali de cima era possível ver todo o centro de New York, a cidade que nunca dorme. As luzes estavam completamente acesas, entrando em contraste com o céu igualmente estrelado. O vento frio sibilava e a meia lua sorria para nós. A área era grande, com uma pequena estufa do lado direito com plantações de alimentos como cebolinha, tomate e entre outros. Mais flores eram espalhadas pelo local, que possuía uma mesa de madeira grande ao centro, provavelmente capaz de suportar 10 pessoas e um sofá mediano perto do muro.

Lily&DanOnde histórias criam vida. Descubra agora