Lily&Dan

Lily

O cheiro de café quente e fresco lembrou ao meu estômago que estávamos famintos, levantei em um pulo desengonçado quando me dei conta de que Dan estava dormindo no meu sofá, ajeitei os fios de cabelo rapidamente e abri minha porta com cuidado, caminhando até a sala.

-Bom dia! - Ele disse por cima do ombro, desviando a concentração da garrafa com água quente que era despejada sobre o pó de café.

Seu sorriso me fez suspirar.

-Oi, Dan. - Sentei no banco e apoiei meus braços na bancada. -Não precisava fazer o café, você é nossa visita!

-Eu já estava acordado a algum tempo e ficar aqui sem fazer nada estava me matando. - Revelou. -Inclusive, eu coloquei água nas plantas da janela, ok?

Soltei uma risada boba e abafada, sentindo meu coração se aquecer.

Enquanto ele estava ali, parado com um pano de prato no ombro, o cabelo castanho caindo levemente sobre sua testa, totalmente concentrado e em paz, tudo o que eu queria era que o mundo parasse de girar e que eu pudesse passar todas as horas do meu dia apenas observando-o.

-Como você está? Dormiu bem? Com ressaca? - Perguntou colocando duas xícaras de café no balcão à minha frente.

-Ótima! Aquilo não foi nada, eu poderia ter tomado mais uma sozinha e ainda assim estaria inteirinha! - Falei convencida com a minha força para álcool.

-E se tomasse três você estaria mais que ótima! - Vee apareceu de surpresa, descabelada, com os braços erguidos enquanto se espreguiçava. -Desmaiada no próprio vômito.

Rimos.

-Ei! Você sabe que eu aguento, tá legal? Aquilo foi um dia à parte.

Recordo-me do evento em questão, quando tínhamos acabado de completar 18 anos, Vee e eu decidimos que deveríamos agir como adultas e isso implicava tomar vinho. Sem imaginar a potência da bebida, nós pegamos 5 garrafas da adega da casa de sua avó. Era uma noite de verão, nos deitamos sob o céu estrelado do jardim e bebemos o líquido roxo como se fosse água. Eu fiquei encarregada de 3 e ela mal aguentou uma inteira. Ficamos ali por horas, no último gole vomitei tudo que havia engolido e desmaiei logo em seguida, acordando no hospital com pares de olhos fumegantes em minha direção. "Desculpa, pai." Foi tudo o que consegui dizer.

-Vamos ter que tomar mais algumas então, pra eu ver se acredito em você. - Comentou Dan servindo agora Vee, que se sentara ao meu lado.

-Você vai se surpreender, Dan. Não me desafie! - Falei com um tom provocante, arrancando risada dos dois.

-Resolvi que vou voltar à faculdade. Luke não me disse mais nada desde então, não vou denunciá-lo porque isso tudo implicaria em um processo complicado e demorado demais, quem sabe eu até o encontraria cara a cara e isso é tudo o que eu menos preciso no momento. - Decretei.

-Você tem certeza? É isso o que você realmente quer? - Perguntaram.

-Tenho, vamos deixar as coisas assim, por favor. - Pedi após observar a relutância deles. -Vou tomar cuidado, ele não vai mais chegar perto de mim.

-Você promete que vai me ligar caso o encontre? Em qualquer situação, mesmo que por acaso. - Dan assumiu uma postura protetora, encarando-me profundamente.

-Eu juro. - Forcei um sorriso.

Desviei o assunto perguntando a Vee sobre como andam as matérias, ela me contou que escolheria Pedagogia ao invés de Direito, que já conversara com seus pais a respeito e que eles adoraram a ideia, a apoiariam em tudo. Josh era o único entre nós que realmente queria fazer Direito, ele sempre adorou a área criminal.