Lily&Dan

Dan

"Nós recebemos o amor que pensamos merecer" era o que minha mãe dizia, mais uma lição valiosa que ela passou para mim e pra variar, ela estava completamente certa. Uma pessoa que permanece em um relacionamento abusivo sempre será a vítima. No início o abusador diminui a autoestima da vítima, fazendo-a se sentir um lixo e merecedora de tudo o que ele a faz passar. Que toda a dor e culpa que ela sente, é porque ela merece e que não deve aceitar nada melhor que aquilo. Ele a culpa por situações que não fazem sentido, por erros que ele mesmo cometeu. No fundo ela sabe que está com a razão, sabe o que é certo e errado, mas a manipulação é tanta que ela duvida de si mesma e aos poucos se torna uma pessoa insegura, totalmente descrente de sua própria intuição. O abusador a vê como um objeto que ele pode controlar e não como um ser humano que tem suas próprias vontades. Então ele a priva de sair para lugares sem ele, de conversar ou ver seus amigos. A priva até mesmo de olhar para alguém do sexo oposto. O ciúme é doentio, mas justificado como se fosse um ato de amor. Ele começa querendo controlar sua roupa, lendo suas mensagens no celular e então dando um tapa em seu rosto pensando que você o traiu quando simplesmente estava dançando e desfrutando de sua liberdade e isso não para por aí, se torna uma bola de neve até que seu nome esteja lapidado em uma pedra e seu corpo descansando em um caixão. Eu sei disso, porque vi isso tudo acontecer bem perto de mim e não consegui evitar, mas dessa vez estou decidido a não deixar a situação se repetir.

Lily e eu nos vimos apenas duas vezes e tivemos conversas breves em todas elas, mas assim que a vi, completamente magoada por causa de seu namorado eu soube que deveria protegê-la e me aproximar. Eu enxerguei nela Diana, minha melhor amiga que se parecia muito com a mesma. No sorriso e nas dores. Ao ver Lily dançando na festa, livre e com um sorriso que ela deveria carregar sempre consigo, eu tive ainda mais certeza disso, certeza de que eu encontrá-la era o destino me dizendo que dessa vez eu poderia fazer alguma coisa, poderia mudar o rumo de sua história, assim como deveria ter feito com Diana, mas falhei.

Parado ao lado de Josh e Vee, eu a vi ser puxada pelo seu namorado que a levava para casa completamente irritado. Eu estava me segurando muito para não correr até eles, para não tirar ela de seus braços, mas ela estava certa. Isso só pioraria a situação, então eu não fui. Deixei que ela fosse e levasse meu coração junto.

-Ele não vai encostar um dedo nela, não mais. Ele sabe quem seu pai é, não é possível que ele seja louco o suficiente.. - Josh abraçava Vee, tentando confortá-la.

-Eu estou cansada disso tudo, Josh. Não consigo mais assistir de camarote minha melhor amiga sendo abusada, revivendo o relacionamento abusivo de seus próprios pais, o relacionamento que tem causado traumas e cicatrizes nela desde o dia em que nasceu. - A garota chorava.

-Porque não conversam com a mãe dela? Contem a situação. - Intrometi na conversa, recebendo olhares surpresos de ambos.

-A mãe dela é louca, cara. Não vai conseguir ajudar em nada. Ela passa pela mesma coisa e é ainda pior. - Ele apertou mais a namorada contra si. -Não acho que ela vá resolver alguma coisa.

-É a mãe dela, independente de tudo, não vai querer que a filha passe pela mesma situação. - Respondi.

-Por mais que a gente resolva ir lá e conversar, é difícil encontrar a Elizabeth sóbria. Eu mesma só a vi sem uma garrafa de vinho na mão umas cinco vezes. - Vee disse entre os soluços. -Em 8 anos.

-Nós vamos dar um jeito nisso. - Falei agitado demais.

-Porque se interessa tanto? Porque quer ajudar? Você nem a conhece. - Vee comentou enquanto se afastava lentamente de Josh.

-Eu conheço o suficiente para saber que ela é uma boa pessoa e que precisa de ajuda. - Respondi firme, vestindo meu capacete prestes a sair. -Isso já é o suficiente.