Lily

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Às 19h eu estava pronta. Cada fio dourado alinhado perfeitamente em seu devido lugar, usando meia calça, uma saia xadrez vermelha, um suéter preto e botas marrom. Cobrindo todo o meu corpo. Fiz uma maquiagem mais pesada que o normal a fim de tapar qualquer indício de que apanhei um dia em minha vida. Eu não sinto vergonha das marcas, muito pelo contrário, elas me lembram que eu preciso ser forte e que não posso ceder. Mostram uma direção segura para minha mente, provam que eu não estava sendo louca ou exagerada diante do comportamento problemático de Luke. São marcas de sobrevivência.

Enquanto eu passava a base, o corretivo, o pó e o blush, meus pensamentos vagaram para Dan. Estranhamente sinto um conforto em imaginá-lo servindo hambúrgueres no restaurante, tratando cada cliente com cautela e carinho. Depois imagino-o sentado em sua cama, desenhando ou pintando um quadro no terraço ou no quintal. Ele mora em uma casa ou um apartamento? Em meus pensamentos ele veste um suéter preto e calça jeans, seu cabelo está levemente bagunçado, não de um jeito desleixado, mas charmoso, como se ele se esforçasse para deixá-lo perfeitamente desalinhado. Então eu apareço, o abraço por trás, o calor do seu corpo forte passa para o meu, ele me aquece. Pinta minha bochecha com a tinta vermelha do pincel e me puxa para si. Envolve minha cintura com força, mantém seu olhar no meu e nos aproxima o suficiente para selar nossos lábios em um beijo doce, lento e molhado. Eu volto para a realidade com borboletas no estômago.

-Você está linda! - Comenta Vee encostada na batente branca da porta do meu quarto.

-Algum resquício? Não quero preocupá-los...

-Lisa como a bunda de um bebê.

-Então eu já vou, o motorista provavelmente já está lá embaixo. - Levanto da cadeira da penteadeira sorrindo. -Você tem certeza que está se sentindo bem? Prefere que eu fique aqui com você?

-Eu estou ótima, Lily! Vá! Vou ficar pesquisando coisas chatas sobre bebês. - Respondeu.

-Bebês não são chatos, eu adoraria fazer isso com você.

-Mas você é chata! Dá pra sair logo do meu apartamento? - Ela brinca forçando uma expressão de irritação, que logo some.

Passo pela minha amiga que me abraça apertado e saio do apartamento. Desço as escadas com as pernas bambas, saindo dali sozinha pela primeira vez em alguns dias. O pânico quase me domina, finco minhas unhas na palma das mãos para me lembrar de que estou viva e respiro fundo. Entro no carro e sigo a caminho do Upper East Side. Não posso vacilar quando perguntarem de Luke, não posso demonstrar minha dor em relação a ele, vou dizer que terminamos por motivos bobos, que simplesmente não estávamos preparados para um relacionamento sério.

-Olá Lilyane. - Diz o homem que deveria ser meu pai, ao abrir a porta de seu apartamento luxuoso, grande e nada acolhedor.

-Oi pai. - Respondo, tão fria quanto ele.

Ele me deixa entrar sem fazer ao menos uma menção a um abraço paterno, mas isso não me afeta. Ele sempre foi ausente e distante, sempre fez questão de me tratar quase tão mal quanto tratava minha mãe, tirando o fato de que nunca encostou um dedo em mim. Há anos ele deixou de me afetar com suas atitudes.

-Querida! - Minha mãe por sua voz caminha até mim e me abraça, passa a mão pelo meu cabelo e me analisa de cima a baixo como se não me visse a meses. -Você está linda.

-Você também, mamãe. - Ela estava igualmente bem maquiada, com um vestido preto de cetim e o cabelo da mesma cor que o meu preso em um coque no topo da cabeça. Brinco e colar a enfeitavam, mas não escondiam o fedor do álcool.

-Escove os dentes novamente e passe mais perfume, Elizabeth. - Ordena o homem alto, de cabelo preto e olhos tão escuros quanto.

Ela o ignora e mantém seus olhos e braços amorosos sobre mim.

Lily&DanOnde histórias criam vida. Descubra agora