Muro

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Sanji nunca pensou que trabalhar no Baratie poderia ser tão difícil. Na verdade, ele pensava sim, mas não daquele jeito.

Todos, sem exceção nenhuma, que trabalhavam na cozinha eram muito mal educados e grosseiros. Custava acreditar que refeições tão gostosas saiam das mãos daqueles cozinheiros. O pior era que rolava um boato de que muitos deles eram ex-presidiários. Enfim, eram pessoas muito difíceis de se lidar e no final da noite sempre ficava exausto. Naqueles últimos dias também começara a enfrentar uma crise de ansiedade por conta do terror psicológico do seu ambiente de trabalho. Aqueles cozinheiros eram muito assustadores, principalmente o chef Zeff. Sanji já tinha uma ideia de que aquele chef tão prestigioso não era fácil (ele dera um chute num entrevistador uma vez ao vivo na televisão) e, por conta de todo esse estresse, passou a fumar mais. Zoro se sentia preocupado, notava que ele não estava agindo normalmente e queria muito conversar com ele, mas o esverdeado sentia um muro ao redor de Sanji que lhe impedia de se aproximar. Um muro que parecia ser feito pelo próprio.

No final daquele turno, Sanji fora o último a restar na cozinha e Zeff se aproximou.

— Aqui está sua marmita, berinjelinha.

Sanji pegou a marmita incucado. Não entendia por que Zeff sempre lhe chamava daquele jeito e resolveu perguntar.

— Por que "berinjelinha"?

O velho deu um sorriso sereno que deixou o loiro mais aflito, sempre que via aquele velhote de merda sorrindo era sempre de um jeito irônico e agora ele estava dando um belo sorriso.

— Porque você é ainda uma criança.

Sanji imediatamente se arrependeu da pergunta que fez. Ele se lembrou que dissera a Zeff que tinha a idade de Zoro. Era tão perceptível que não havia ainda alcançado a maioridade? - Vai me demitir?!

Zeff deu uma gargalhada quando o viu perdendo a cor de sua pele já pálida. - Para você estar trabalhando aqui, deve haver um motivo. Só te peço que retorne a estudar caso não esteja estudando. - Deu uma pausa e pousou sua mão sobre a cabeça do loiro. - Você é autodidata, mas ainda precisa aprender muito.

Sanji deu um passo para trás a fim de tirar aquela mão de sua cabeça e encarou aquele velhote muito furioso. Só por que era jovem e sem certa vivência não poderia ser considerado bom? Porque fora a idade, não tinha nada de errado. - Como o quê?!

— Ainda desperdiça muita comida. Isso é um ato arrogante, faz parecer que não precisa da ajuda de ninguém. - Disse seriamente, deixando o outro chocado. Depois pegou da mesa outra marmita também com as sobras daquela noite. - Essa é para o segurança que te recomendou.

O loiro carregava as duas marmitas e resolveu deixar a cozinha para ir ao vestiário a fim de trocar seu uniforme de ajudante por alguma roupa que comprou com Perona sábado passado, mas Zeff lhe chamou quando estava prestes a empurrar a porta dupla.

— Quando estiver preparado para se abrir, se abra. - Deu mais um sorriso sereno que deixava Sanji nos nervos. - Pode até ser comigo, mas que jovem vai querer falar com um velho decrépito feito eu? Acho que o segurança é mais interessante.

O rosto de Sanji ficou rubro imediatamente e deixou a cozinha furioso, mas também envergonhado. Que sentimento era aquele? E desde quando aquele velho vem o observando para saber que o marimo poderia ser essa pessoa?

— Que tanta comida é essa?! - Perona perguntou perplexa ao ver a mesa já posta.

— O velhote de merda deu uma marmita para o marimo também.

— Estou até agora chocado que ele sabe da minha existência.

— Mas é claro, foi você que recomendou Sanji para ele! E Sanji é um ótimo cozinheiro! - Disse Perona para Zoro. - Por que não bebemos também?

— Ótima ideia! - Zoro concordou e foi buscar algumas cervejas do freezer, depois as colocou sobre a mesa.

Sanji estava acendendo um cigarro, mas teve um pensamento ao ver a garrafa de cerveja tão próxima de si. A pegou e virou goela abaixo.

Zoro e Perona se assustaram, nunca o viram beber antes. Até porque aquela era a primeira vez que bebia.

— Vai com calma, sobrancelha enrolada.

— Não enche, não sou nenhuma criança! Até mesmo fumo!

Os dois irmãos se entreolharam e sem saberem o que fazer, acabaram deixando o garoto encher a cara.

Sanji ficou bêbado, mesmo só bebendo uma garrafa. Falava coisas desconexas do tipo "Baratie vai ser meu" e emendava "Só preciso do poder do afro" para terminar numa risada maléfica. Também dançava e os dois irmãos tentavam acalmá-lo.

Quando tudo parecia calmo, Perona foi para seu quarto e pediu a Zoro que cuidasse de Sanji. Naquele momento o loiro estava deitado no chão com o rosto corado. Antes de adormecer, havia vomitado três vezes e sempre fora acudido por Zoro. Nem precisava Perona pedir, querendo ou não, Zoro cuidaria dele. Não sabia o motivo pra se preocupar tanto com aquele idiota, e era muita ingenuidade de sua parte achar que era um adulto por simplesmente fumar. Foi beber e foi nisso que deu - Zoro pensava, enquanto observava o loiro jogado no chão.

Pegou-o no colo para deitá-lo no sofá. Assim que cobria aquele corpo magro, o marimo notou que Sanji chorava.

— Sobrancelha enrolada?

O rapaz não acordou, continuou a sonhar. Um sonho muito triste que o fazia chorar.

— Mamãe... - Balbuciou e Zoro pensou mais uma vez no muro que havia ao seu redor. Um muro que reprimia todos os seus sentimentos dentro de si e que o esverdeado estava disposto a ouvir.

— Permita que eu alcance você. - Murmurou bem no ouvido do loiro, depois apagou a luz da sala e foi para seu quarto dormir.

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