Cheguei junto com Priscila na casa da Lari, tive de implorar para que ela não me abandonasse e fosse comigo para apoio moral. Como imaginei, Vitor estava jogado no sofá com os pés para cima, os tênis largados perto da porta. Tentei não revirar os olhos e focar no sorriso leve da Lari.
Ela estava tensa, percebi. Não sabia se era Vitor, ou se era meu encontro iminente com ele.
De alguma forma, nos ajeitamos na sala, desconfortáveis, tímidos. É claro que Lari e Vitor ficaram agarrados num dos sofás, eu e Priscila ficamos sentadas lado a lado no outro, de frente para eles.
Percebi logo que Vitor tinha escolhido o filme, era um enredo estranho de ação com muitos tiros e gritos, algo que eu sabia que Lari odiava. Tentei conter o incômodo no peito. Apesar de parecer durona, Lari era romântica, gostava do drama, não da ação. Ela nunca me deixava escolher os filmes, por mais que eu reclamasse.
Suspirei, tentando não ficar tão irritada, mas algo se apertava dentro de mim. Por que ela se anulava tanto perto do Vitor?
Eu estava angustiada. Mais uma vez, Lari quase não tocava no próprio celular, e Vitor estava ao lado dela quase sempre. Afundei minhas unhas na palma das mãos para me controlar.
Assistir ao filme foi uma tortura. Era totalmente desinteressante e cheio de violência gratuita, sem um enredo decente. Pedi para ir ao banheiro em certo momento, Priscila deve ter percebido que eu estava chateada porque disse que iria tomar água e me acompanhou pelo corredor.
— Você está bem? — perguntou baixinho, colocando-se em minha frente. Dei de ombros, sem saber o que fazer.
— É só difícil não voar em cima dele — sussurrei. Estávamos paradas no corredor, era fácil nos ouvir dali. Com sorte, com o barulho da televisão, nossa conversa ficaria abafada.
Priscila me deu um sorrisinho.
— Eu sei, toda vez que o Vitor respira mais alto, você revira os olhos — respondeu, e eu revirei os olhos em resposta. — Pê, isso é importante, Lari precisa de você por perto, tá? Insiste nela, ou vocês vão se afastar e ela não vai ter nenhum apoio — relembrou Priscila, e eu inspirei muito fundo, assentindo com a cabeça. Tudo bem, eu seria a pessoa madura, eu relevaria tudo porque me importava com Larissa e queria ajudá-la.
Lavei meu rosto para me acalmar e voltei para a sala, afundando no sofá. Priscila já estava lá, assistimos ao filme em silêncio, o que foi muito estranho. Sempre que eu assistia a alguma coisa com Larissa, o ritual era rir e zoar até não poder mais, mesmo que fosse um filme de terror — ela só estava quieta, Vitor prestava atenção na televisão, Priscila desconfortável e eu no meio do fogo cruzado.
Finalmente teve uma cena em que duas mulheres, personagens secundárias, se beijaram no filme. Eu sorri levemente.
— Ok, a única coisa interessante no filme inteiro — provoquei, tentando soar brincalhona, mas dizendo a verdade. Era um filme com péssima representatividade, as mulheres extremamente sexualizadas, mas pelo menos o beijo das duas fora algo rápido e natural.
Vitor levantou as sobrancelhas.
— Você e Lari já... — Ele deixou a pergunta pairando no ar, e eu sabia o que Vitor queria perguntar. Olhei para a televisão, para a cena das duas mulheres. Minhas bochechas ficaram quentes.
Vocês já se beijaram?
— Não, sempre fomos só amigas — Lari respondeu rapidamente, eu me assustei com a pontada de desespero que ouvi em sua voz.
— Por que? Você se incomodaria? — retruquei num tom falsamente adocicado, tentando conter a ironia entalada na garganta. Eu vira o olhar interessado de Vitor na cena do beijo sáfico, aquilo revirou meu estômago.
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Sangue Rosa
ParanormalNo mundo de Pietra Campanelli, embora vampiros e lobisomens sejam comuns, a maior preocupação é conseguir a atenção de uma humana chamada Priscila. Priscila, a garota que não parece estar nem mesmo um pouquinho interessada nela. Com a ajuda de Laris...