2. A Pri beija meninas

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Eu só me interessei por uma garota minha vida inteira. Parece bonito, mas minha vida não era a comédia romântica que eu gostaria que fosse.

Todos diziam que eu deveria gostar de meninos, mas eles eram tão... bobos. Numa cidade pequena como Terezinha do Oeste, os meninos eram todos iguais: Narguilé, vodca e funk alto. Eu não os julgava por gostar disso, cada um faz o que bem entende, mas nunca, nunca mesmo, senti interesse em me relacionar com garotos de uma forma que não fosse amizade.

Priscila era tudo isso: inteligente o suficiente para ser o amor dos professores, descolada o suficiente para se dar bem com os garotos. Ela me fez perceber que eu sou lésbica com L maiúsculo.

Coloquei a mochila nas costas, os fones no ouvido e aproveitei o vento enquanto caminhava para casa depois da aula. Era sexta-feira, geralmente eu passava as noites de sexta assistindo a qualquer coisa na Netflix, mas a festa junina da escola seria naquela noite e Lari me convenceu a ir.

Eu estava justamente pensando em como estava com preguiça de ir quando Lari me mandou mensagem. Meu celular estava tão morto naquele dia que me assustei com a série de barulhos que quase fez o aparelho travar.

Lari <3 [14:55]: EMERGÊNCIA EMERGÊNCIA EMERGÊNCIA

Lari <3 [14:55]: Sabe com quem a Pri perdeu o bv?

Lari <3 [14:55]: COM A DANI!!

Lari <3 [14:56]: A DANI, PIETRA!!!!!!!!!! SABE O QUE ISSO SIGNIFICA?

Lari <3 [14:56]: PORRA MANO PORRA ELA VAI ESTAR NA FESTA JUNINA HOJE

Eu quase engasguei, sem reação, e me afastei do computador. Estava tão eufórica que esqueci de pausar o episódio, então me joguei para frente, congelando a tela numa careta engraçada do Dean Winchester.

Lari <3 [14:56]: Me diz que vai estar ultra gostosa na festa e dar em cima dela com todas as forças

Lari <3 [14:56]: Conviver com as suas fantasias sobre essa menina está acabando com minha saúde mental

Lari <3 [14:56]: Mas pfvr pfvr pfvr não conta isso pra NINGUÉM, ok?

Lari <3 [14:56]: Dani só me contou porque eu disse que você é a fim da garota faz tempo e achava que ela era hétero.

Meu coração ainda estava disparando enquanto lia as mensagens, eu queria sair pulando e gritando.

A Pri beija meninas.

A Pri beija meninas.

Era só nisso que eu pensava enquanto me arrumava, escolhendo meu vestido mais curto e colado, colocando a meia-calça preta reservada para o frio e um sobretudo preto. Não era sempre que eu conseguia me vestir inteiramente gótica, não é fácil tentar me manter nas trevas num país tropical e quente como o Brasil.

Dei uma volta no espelho, mandei uma foto para a Lari e recebi milhares de coraçõezinhos como resposta. Se ela havia aprovado, então eu estava pronta.


Combinamos de nos encontrar lá, a cidade era pequena e resolvi ir andando — minha mãe se ofereceu para me levar, mas sempre preferi andar com meus fones de ouvido e curtir o trajeto.

O lugar estava movimentado quando cheguei, fui logo envolvida pelo calor e cheiro de pipoca salgada com aroma suave de quentão. Pessoas iam de um lado para o outro, crianças corriam para pegar os melhores brindes na pescaria e gritavam de empolgação.

Inspirei fundo e tentei aproveitar o momento. Havia mesas espalhadas numa área de alimentação improvisada, as tendas foram arrumadas num salão enorme do centro de eventos da cidade — eu via de tudo: coxinha de mandioca, espetinhos, pipoca, todos os tipos de doces imagináveis feitos de milho e amendoim.

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