6. Vampiros da ficção

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Pelo menos a Priscila estava na escola no dia seguinte, então pude ficar longe da Larissa e do Vitor. Priscila me acalmava, me ajudava a pensar em qualquer coisa que não fosse a frustração que eu sentia — e a falta da Larissa.

É claro que ela percebeu que eu estava um pouco distante naquele dia.

— Você está bem? Conversou com a Lari? — perguntou Pri, e eu assenti de uma forma desanimada. Cada vez mais nós nos abríamos uma com a outra, do mesmo jeito que eu me abria com a Lari. Isso me alegrava e entristecia na mesma intensidade.

— Ela continua o defendendo como se fosse o príncipe encantado — confessei, virando a cabeça levemente e tendo um vislumbre do casal mais badalado sentado no banco, se agarrando como sempre.

Eu queria vomitar.

Priscila viu meu olhar de incômodo e colocou a mão sobre a minha, que estava estendida. Apertei os dedos dela entre os meus e apreciei o gesto, sentindo a pele formigar.

Era a primeira vez que ela me tocava assim.

— Você fez tudo o que podia, não fique se martirizando — aconselhou, e eu assenti, desviando meu olhar para a multidão de alunos andando e correndo no pátio. Talvez ela tivesse razão. Talvez eu devesse simplesmente cuidar da minha vida e não focar tanto no que estava me fazendo mal.

Apertei a mão da Pri, feliz por tê-la ao meu lado. Priscila me olhava com certa compreensão, ela provavelmente via o quão mal eu estava com toda essa história da Larissa.

— Quer dormir lá em casa e fazer uma maratona de The Vampire Diaries? — sugeriu. Eu sorri e aceitei na hora, era a primeira vez que ela me fazia um convite desses, eu precisava mesmo de uma noite de distração.


Como eu já imaginava, nós realmente fizemos maratona dos episódios de The Vampire Diaries. Eu nem mesmo me iludia com a possibilidade da Pri ter me chamado com segundas intenções, aprendi com o tempo que ela não era assim — e tudo bem por mim, apesar de ainda suspirar quando a olhava, tão linda e brilhante.

Aquela garota me enlouquecia. Ela nem parecia perceber que eu beijava os pés dela, mas estava com medo de tentar uma abordagem menos sutil e deixá-la tão desconfortável quanto na festa junina.

— Os irmãos Salvatore são pessoas horríveis — comentei despretensiosamente, jogando um punhado de pipoca na boca. Priscila fez uma careta e jogou uma pipoca em mim.

— Cala a boca, você baba neles — reclamou, e eu revirei os olhos. Não podia argumentar, ela tinha um ponto. — Aposto que também seria assim se fosse vampira — acrescentou, e eu contive a gargalhada. Às vezes o universo só podia estar brincando comigo. Se ela ao menos soubesse!

— Ser vampiro não te dá desculpa para sair matando pessoas, Priscila! — Joguei pipoca nela também. A mãe da Pri nos mataria pela sujeira que estávamos fazendo no sofá. Priscila me olhou como se eu não entendesse o contexto todo.

— Eles são predadores naturais! O que espera que eles façam? Foram feitos para beber sangue! — argumentou, e eu gargalhei com a certeza nas frases dela. Agora eu entendia por que Larissa odiava tanto a representação de lobisomens e vampiros na cultura pop.

— Então a senhora já conheceu um vampiro, por acaso? Conversou com algum? — perguntei, apreciando a ironia cósmica. Sim, ela conhecia uma vampira, e, sim, estava falando com ela. Priscila mostrou a língua para mim, eu ainda estava gargalhando.

Às vezes imaginava como seria contar para ela, agora mais ainda, depois dessa conversa. Fazia tempo que eu não tomava sangue, não sabia como faria para me alimentar sem Lari por perto. Balancei a cabeça. Aquela seria uma noite livre de Larissa e Vitor, longe do drama dos dois.

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