Eu continuava me afastando da Larissa e me aproximando da Priscila. Priscila era a pessoa mais empolgada que já conheci, eu amava o quanto ela ficava animada falando de mundos ficcionais, com o quanto os olhos dela brilhavam quando assistíamos a alguma série.
Ela mergulhava naquilo, vivenciando tudo como se fosse um personagem. Eu amava quando ela fazia isso.
Para minha infelicidade, Priscila teria uma consulta na cidade vizinha naquela manhã e não estaria na escola — o que me deixava abandonada com Larissa e Vitor durante o intervalo entre as aulas.
Fiz um esforço para me sentar com eles, que estavam agarrados no banco de madeira ao lado da porta, como sempre. Lari sorriu para mim.
— Finalmente veio passar um tempo com o clubinho dos excluídos? — zombou ela, eu apenas mostrei a língua como provocação. Meu estômago revirava, mas desta vez não pela falta de sangue.
Lari estava sem o celular, o que era inédito. Ela nunca largava o celular, mesmo quando falava comigo — eu costumava reclamar, mas depois só aceitei. Agora ela só prestava atenção no Vitor, o celular provavelmente havia ficado na sala de aula.
Eu fiquei pensando no Vitor tentando ler as mensagens dela e franzi o cenho. Eles continuavam agarrados, ela sentada no colo dele, sorrindo e trocando selinhos ocasionais.
As duas últimas aulas foram de matemática, o que piorou completamente meu humor já muito ruim. Cheguei em causa exausta, por algum milagre minha mãe resolveu puxar assunto enquanto eu arrumava a mesa para o almoço.
— Está tudo bem? — indagou, e eu colocava os talheres em cima dos pratos. — Nunca mais te vi com a Lari, vocês brigaram? — Eu fiquei surpresa. Sabia que estava meio afastada da Lari, mas não pensei que tanto a ponto de minha mãe perceber.
E eu estava num humor terrível nos últimos dias, talvez pela falta de Lari ou porque o idiota do Vitor estava sempre por perto.
— Não, ela só tem... um namorado novo — admiti ao me sentar na cadeira, desanimada. — Eles estão sempre juntos, então nós estamos meio afastadas. — Era bom poder tirar aquilo do peito, não havia falado sobre isso nem com Priscila, que era quem estava mais próxima de mim agora.
Minha mãe me olhava de maneira desconfiada.
— Você não gosta dele? — Eu suspirei com a pergunta dela. Dona Cecília conseguia pegar meus sinais e linguagem corporal como ninguém.
— Não acho que ele seja bom para ela — confessei num tom meio emburrado. Eu era tão, tão melhor! Por que Lari não via isso? Por que ela estava dedicando tanto tempo a esse cara e me deixando de lado, sendo que eu não agia como uma maníaca ciumenta como ele?
Demorei alguns segundos para ouvir a mim mesma e fiquei horrorizada. Aparentemente, eu estava bem perto de ser uma maníaca ciumenta.
— Ela acha que ele é? — perguntou minha mãe, com calma. Ela colocou um recipiente de vidro com salada no centro da mesa.
— Aparentemente sim — murmurei com um muxoxo. Se ela gostava dele, então eu não tinha que me enfiar no meio. Querendo ou não, havia uma parte de mim que achava que sempre teria o monopólio da atenção da Lari, mesmo quando ela ficava com outras pessoas. E então o Vitor chegou e eu percebi que não era o centro da vida dela.
— Eu sei que você e a Lari eram bem próximas, mas talvez ela precise de um espaço agora — sugeriu minha mãe, e eu quase torci o nariz para a sugestão, mas sabia que ela estava certa. Lari gostava do Vitor, ela estava feliz. — E você tem outros amigos, não tem? — completou, e eu suspirei, pensando em Priscila.
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Sangue Rosa
ParanormalNo mundo de Pietra Campanelli, embora vampiros e lobisomens sejam comuns, a maior preocupação é conseguir a atenção de uma humana chamada Priscila. Priscila, a garota que não parece estar nem mesmo um pouquinho interessada nela. Com a ajuda de Laris...