Shelby POVFatin se prontificou a dirigir, enquanto fiquei ao seu lado no banco do passageiro, tentando ignorar a dor que aumentava terrivelmente em meu braço.
Sabia que algo estava errado daquela vez. A dor latejando em minha carne tão profundamente, um calor em brasa que emanava da ferida e parecia se espalhar por todo o meu corpo, me causando arrepios que pareciam não ter fim, o mal estar me dominando aos poucos.Tentei focar meu olhar na estrada, minha companheira de viagem era falante, mas naquele dia estava terrivelmente quieta, nenhuma piada escapou de seus lábios, nenhuma gracinha como as que eu já estava acostumada.
Eu preferi não questionar, todos nós precisamos de espaço, dentro da nossa própria mente.— Seu braço está vazando. Deveria esconder isso melhor, já que não queria que ninguém ficasse sabendo. - Fatin disse finalmente, após mais de trinta minutos de silêncio.
— Isso não é nada, fui derrubada por cima do vidro e ele acabou perfurando, mas eu consegui tirar e já está melhorando. - Respondi fingindo naturalidade, embora a dor permanecesse ali.
— Sua testa está pingando suor, embora o tempo hoje não esteja quente o suficiente para isso. O sangue continua saindo e se espalhando pelo tecido da sua blusa. Você está se mexendo inquieta, tentando ignorar a dor desde que saímos do abrigo. A cada balanço mais forte que o carro dá, você silencia um gemido de dor, virando o rosto para o lado da janela, achando que eu não vou perceber.
— Você é uma péssima mentirosa, eu não sei como conseguiu entrar pro exército com toda essa pose de boa moça honesta que não sabe mentir nem pra si mesma. - Fatin completou com um tom debochado, segurando o volante com uma mão e com a outra jogando um kit de primeiros socorros sobre o meu colo.
— Eu peguei isso na última busca por suprimentos, tem coisas pra limpar a ferida e fazer um curativo. Vi também uma cartela de remédios aí, acho que deve servir para aliviar a dor.
— Nós temos pessoas doentes no galpão. Você deveria ter entregado junto com as outras coisas que encontramos, isso poderia ter ajudado. - Não consegui esconder o tom repreensivo em minha voz. Fatin não poderia esconder isso do grupo, nós saímos juntos em busca de suprimentos, se cada um de nós se desse ao luxo de esconder algo para si mesmo, não daria certo.
— Você realmente não percebeu que eles não estão melhorando? Eles continuam doentes e você colocou nessa sua cabeça fodida, que eles vão se recuperar mesmo não apresentando melhora. Você consegue ser mais inteligente do que isso. Faça um esforço, Shelby. - A mulher claramente não sentia culpa por suas decisões individuais e totalmente desacreditada da recuperação deles.
— Isso não é verdade. Alguns deles estão sem febre agora. - Não era mentira, realmente algumas pessoas estavam sem febre, mas a maioria permanecia com os mesmos sintomas do início, a cada dia mais fracas e pálidas. Talvez eles só precisassem de mais algum tempo, para o organismo se recuperar.
— Nenhum deles ficou sem cuidados, eu sei disso muito bem. Aceite logo que você precisa se cuidar também e pare de priorizar todo o grupo antes de si mesma. Se você morrer não vai conseguir bancar a Santa Shelby das causas impossíveis.
Aquilo não era um ataque, era o jeito de Fatin tentar ajudar e demonstrar se importar, eu sentia isso. Nós não nos conhecíamos a muito tempo, mas tudo se tornou mais intenso agora. Todas as emoções completamente à flor da pele e o apego se tornou rápido em um mundo onde a maioria de nós ficaram sozinhos, sem família.
Me lembro de ter encontrado Fatin em choque dentro de um carro cercado por mortos vivos.
Eles se debatiam contra os vidros, grunhindo alto, mas ela nem sequer erguia o rosto para olhar. Foi difícil abater todos eles, mas eu não estava sozinha, ela estava. Desde então ela fez parte do grupo, que foi crescendo aos poucos, mas também foi diminuindo com o passar do tempo. Nós perdemos muitos conhecidos.
Abri o kit de primeiros socorros sem olhar novamente para ela, sabia que em partes ela estava certa.
Tomei um comprimido para tentar aliviar a dor e antes que eu pudesse limpar a ferida e fazer um novo curativo, nós finalmente encontramos o carro usado pelo nosso grupo desaparecido. Joguei o kit de primeiros socorros no porta luvas.
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Terra em caos: Cemitério sem fim
FanficA humanidade acreditava estar acostumada ao pior. Ataques terroristas, guerras por petróleo, terremotos, furacões ou tsunamis. Violência, fome e leis que ninguém realmente cumpria. O que conheciam de civilização, já não era civilizado o suficiente...