Toni POVMesmo tapando os ouvidos com o máximo de força que eu conseguia, aqueles sons ecoavam em minha cabeça. Gritos, explosões, choros e mais gritos de dor e desespero.
Não sei quanto tempo permaneci naquela posição, torcendo para que não passasse de um pesadelo, mas algo me despertou daquilo.— Martha… Eu preciso falar com a Martha.
Falava comigo mesma em uma tentativa falha de fazer algum sentido, a preocupação era genuína. Martha era a minha irmã de alma, foi ela que me acolheu e cuidou de mim quando ninguém mais se importava. Ela e a família dela me libertaram daquele lugar doentio e me deram um amor que eu nunca havia conhecido durante os meus anos de vida, desde o momento do meu nascimento.
Meus pais nunca estiveram ali por mim, eu passei frio, passei fome e fui humilhada de todas as maneiras que um ser humano poderia ser, por muito tempo me arrancaram a dignidade e a vontade de viver, mas não agora.
Capturei o celular do bolso da calça jeans e liguei para Martha. Um, dois, três, quatro, cinco toques e nada. Insisti por mais algum tempo, mas sem qualquer sucesso.
Corri até meu quarto, pegando uma mochila grande e colocando algumas roupas. Guardei alguns remédios, duas garrafas de água e coloquei alguns alimentos nas sacolas.
Novamente tentei uma nova ligação para o celular da Martha e quando estava prestes a desistir, ela atendeu do outro lado da linha.
— Martha, finalmente. Puta merda, onde você estava que não atende essa porra de celular? Eu achei que você tinha morrido. Você está bem??? Está ferida??? – Despejei aflita sem nem sequer esperar o alô do outro lado da linha.
— Toni, eu estou bem. Estou no sítio com o meu avô. Você precisa vir para cá. – Martha falava rápido, atropelando as palavras em meio a um chiado na ligação.
— Toni, vem pra cá. Você sabe onde fica, vem, por favor. Eu preciso de-...
A ligação foi interrompida antes que ela concluísse a frase e isso me apavorava ainda mais.
É diferente você assistir a uma droga de apocalipse na televisão e de realmente vivenciar um, é completamente diferente e desesperador.
Guardei o celular no bolso novamente.
Pensa, Toni, pensa. Eu precisava pensar com a razão agora mais do que nunca.Roupas, remédios, alimentos e água já estavam separados. Precisava de algo para me defender e um pingo de controle emocional. O controle emocional eu nunca tive, está na casa do caralho, obviamente, mas eu sempre soube me defender, pelo menos sempre achei que sabia.
Peguei uma faca grande da cozinha e desci segurando firme com uma mão e com a outra carregando o peso das sacolas, sem olhar para trás.
O elevador parecia demorar uma vida para descer, mas eram somente cinco andares e uma angústia inquietante crescendo em meu peito.
O som de abertura da porta do elevador entrou em meus ouvidos, mas em questão de segundos misturou-se com gemidos e grunhidos assustadores. Uma mulher, com o rosto machucado, cambaleava em minha direção. Seu olhar vazio e perdido não focava em mim, mas as mãos cobertas de sangue tentavam pousar sobre meu corpo com violência. A boca escorrendo um sangue escuro por ambos os lados. Os dentes rangiam e batiam raivosamente. Ela parecia faminta e a minha única reação foi atingir a lateral de sua cabeça com a faca, pude sentir a lâmina entrando, sendo pressionada e banhada pelo sangue. Puxei a faca de volta, vendo o corpo da mulher cair diante de mim.
O estacionamento estava cheio deles, quando consegui chegar até o carro, não olhei para trás, mas consegui ouvir as batidas ao redor do veículo em movimento.
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Terra em caos: Cemitério sem fim
FanfictionA humanidade acreditava estar acostumada ao pior. Ataques terroristas, guerras por petróleo, terremotos, furacões ou tsunamis. Violência, fome e leis que ninguém realmente cumpria. O que conheciam de civilização, já não era civilizado o suficiente...