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P.O.V Gina

— Eu realmente sinto muito por aparecer dessa forma — eu disse, quando a mãe de Harry abriu a porta e me encontrou do lado de fora, como uma encomenda que tivesse sido jogada ali sem um cartão de “Desculpe, mas não os encontramos em casa” preso a ela. Harry e seu pai tinham ido à loja de conveniência e me deixado para me virar sozinha com um alegre “Está tudo OK, nós já telefonamos antes!”. Não estava tudo OK, entretanto. — E sinto muito
sobre a coisa toda de Nova York.

Ela me deu um olhar longo e duro. Eu preferia muito mais o pai de Harry.
Ele era tão zen que eu sempre me senti como se um pouco de seu interior estivesse me influenciando, mas sua mãe me causava arrepios e fazia com que meus cabelos na parte de trás do pescoço se eriçassem.

— É melhor você entrar — disse ela, e embora eu normalmente não me
importasse com o que alguém pensasse sobre como eu me vestia, eu queria não estar usando minha calça do pijama de gatinhos, meu anorakde pele falsa com estampa de leopardo e pantufas de coelhinho. Eu também queria que o choro não tivesse deixado meu rosto tão inchado que parecia que alguém vinha usando-o
como saco de pancada. Hesitei e ela suspirou.

— Você está deixando o ar frio entrar. — Não tive escolha senão caminhar
porta adentro. Bem, eu tinha uma escolha, mas eu não gostaria de andar de volta para casa com minhas pantufas de coelho.

— Eu realmente sinto muito sobre tudo — disse novamente. Eu não tinha
certeza se sentia tanto assim, mas não poderia ter que voltar para meu
apartamento vazio. Estava cansada de minha própria companhia. Na verdade, eu mal me reconhecia naquele momento, porque não costumava chorar por horas e
horas. A última vez que chorei tanto foi no último dia do Acampamento de Rock ‘n’ Roll, quando fizemos um coro de improviso para Born This Way, e aquelas foram, na sua maioria, lágrimas de felicidade, as quais duraram o mesmo tempo que levei para tirá-las do rosto antes que alguém pudesse vê-las. Eu certamente
nunca chorara por horas antes e nunca por um acidente doméstico irritante e não tão grave.

Mas eu tinha que admitir que, talvez, a razão pela qual tive um colapso não
fosse apenas a questão do boxe. Creio que a porta do boxe foi, tipo, uma
metáfora. Ela representava tudo o que estava ruim. Sim, havia coisas boas, mas havia também um monte de coisas ruins, e elas eram profundas e doíam, por isso, me postar no corredor de Harry na véspera do Natal de pijamas, segurando uma maleta de viagem com a mãe dele olhando para mim como se
eu tivesse sujado seu carpete com cocô de cachorro ainda era melhor do que estar em casa sozinha.

— Não importa o que aconteceu há algumas semanas — disse ela. — Está no passado, e no presente está um banho quente e uma xícara de chá.

Concordei e segui a Sra. Potter para a cozinha, onde ela colocou a chaleira no fogo. Preparei-me mentalmente para vinte minutos de chá, conversa forçada e algumas cravadas de olhos, mas depois a porta da sala se abriu e duas cabecinhas sondaram o ambiente.

— Ah! É você! — Então as irmãzinhas de Harry, com roupas de fada
combinando, estavam, de repente, na cozinha e subindo em mim.

— Estamos vestidas para o caso de nos encontrarmos com Papai Noel!

— Fizemos cupcakes dos Muppets para ele!

— Por que seu cabelo está branco? Será que alguém lhe deu um choque
horrível?

— Eu tenho pantufas de coelho como as suas! Vou colocá-las para ficarmos
com chinelos gêmeos!

— Como é véspera de Natal, hoje temos salsichas, feijão e batatas fritas para o jantar, e estamos autorizadas a comer na frente da TV.

Os Adoráveis- Hinny (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora