• EXTRA pt. 03 •

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Eu sabia que ele ficaria sabendo. Pansy me alertou também. Ele pagava caro por exclusividade, mas eu levei mesmo assim Draco para o meu quarto, o beijei, e teria feito mais que beijá-lo se ele não me houvesse impedido. Eu sequer me lembrei da existência de Marino enquanto beijava os lábios macios de Draco, apesar da culpa silenciosa que senti no peito, a qual preferi ignorar.

O bordel era como todas as outras noites. Havia as risadinhas das garotas, com seus lábios de carmim delicados e sedutores, e suas palavras aveludadas próximas aos ouvidos de seus amantes. Havia a música incansável e o cheiro de bebida, tabaco e rosas vermelhas como o mais puro fogo pintando todo o salão, entre os sofás confortáveis, e as mesas de jogos onde os homens faziam apostas altas demais e, às vezes, iam à falência. Esses faziam escândalos estafantes que obrigavam Pansy a chamar algum de nossos seguranças.

Meu passatempo favorito era tocar o piano e, como sempre pediam, dançar. Somente aqui, neste bordel incrustado entre os canais de Veneza, é que percebi e entendi todo o apelo erótico que a música e a dança poderiam ter em conjunto, um casamento perfeito, destinado a mexer com a mente, as fantasias e os desejos de qualquer cliente. Eu provocava tudo isso em muitos deles, eu podia ver em seus olhos vívidos e concentrados em cada um dos meus movimentos. Acho que me deixei contaminar pelo ar sensual e atraente do bordel, por suas risadas e sorrisos, e suas lamparinas finas e caras, porque não me lembro de dançar assim nos primeiros meses.

E eu estava dançando quando ele entrou no bordel. Meus olhos imediatamente o capturam, porque eu jamais conseguia me desvincular completamente do que acontecia ao meu redor quando dançava. Dizem que os melhores dançarinos conseguem, e esse é seu segredo, mas eu não me importava em ser ou não o melhor. Eu já tinha dono. E ele me olhava agora com seus olhos azuis gélidos, que lançavam arrepios por minha pele e me deixavam com uma sensação desagradável na boca do estômago. Mas continuei dançando, com os olhos cravados nos dele, desfiando-o silenciosamente. Queria mostrar que não tinha medo dele. Porque não tinha.

Ele caminhou mortalmente soberbo até a área lateral ao palco, onde havia espaços mais privativos para aqueles que não queriam subir aos quartos. Ele pagava caro por mim, eu não podia deixá-lo esperando, então desci do palco, antes mesmo da música acabar e fui atrás dele. Demorei um pouco até encontrá-lo e fechei as cortinas de seda clara, que permitiam a quem estivesse de fora ver nossas sombras através delas, e o encarei, sentado como o nobre respeitável que era, no sofá semicircular em tons de vinho.

"Eu deveria proibi-lo também de dançar naquele palco." Ele falou, frio, alargando os primeiros botões de seu colete sofisticado. "Mas acho que não iria adiantar, já que você não cumpre com seus deveres."

"Foi um ato impulsivo."

"Não interessa, Andrej." Ele ergueu a mão me puxou pelo pulso bruscamente, de modo que precisei me apoiar no encosto do sofá para não perder o equilíbrio. Nossos rostos de aproximaram, e seus olhos azuis tiraram as forças das minhas pernas, deixando-as trêmulas. "Você é meu, e sabe disso."

"Eu sei..." Murmurei, desviando o olhar. O aperto em meu pulso me machucava, mas não deixei ele saber disso.

"Dance." Ele demandou, soltando-me. Eu fiquei paralisado de frente para ele, incapaz de encontrar forças para fazer o que ele pedia. "Dance, Andrej. Isso não é um pedido."

"Não há música." Retruquei, áspero. "Se queria me ver danando, deveria ter ficado no salão."

Ele riu, baixo.

Era Uma Vez em Veneza ● DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora