Capítulo 24

641 126 38
                                    

Fui incapaz de ajudar meus amigos a pensar em algum plano para possíveis formas de escapar de qualquer que seja a punição. É uma tarefa difícil já que não sabemos qual pode ser a decisão se tratando de todos os fatores incomuns do meu caso. Eles me faziam perguntas e tentavam pensar no que fazer, eu simplesmente respondia todas as questões para eles, mas minha cabeça ainda estava em Hyunjin. Eu tentava focar nele para saber o que ele sentia no momento, se estava bem e seguro. A sua angustia cessou, mas tenho a curiosidade para saber por quais motivos. Obviamente pode ser pela colaboração de Han e Jeongin, mas só terei certeza quando eles voltarem e me derem notícias.
Chan e Changbin voltaram fazendo com que prestássemos atenção nos dois esperando respostas de suas investigações.
– A denúncia foi anônima, mas tudo leva a crer que realmente foi Kim. – Chris disse.
– Hm. Ele disse que manteria segredo... – eu disse.
– E você acreditou? – Minho questionou.
– Claro que não! Mas por que ele se deu o trabalho de dizer que não faria nada ainda assim? – indaguei – Por que ele sempre tenta posar de amigo?
– Para um anjo ele é um belo de um bundão! – Minho disse revirando seus olhos.
– Agora, o que me deixa curioso é se ele fez isso simplesmente porque ele achava que era o certo a se fazer ou se tinha alguma outra motivação? – Changbin disse.
– Mas qual poderia ser a outra motivação? – Seungmin questionou.
Todos nos entreolhamos pensativos sobre o que possivelmente poderia fazer Kim me entregar além do senso de dever. Não conseguimos chegar a nenhum consenso sobre isso. Nunca fomos tão próximos de Kim e ele sempre pareceu ter uma boa relação com todos do além. Aquela pessoa simpática que está sempre sorrindo pra todo mundo, sempre amigável.
– Mas não é nessas horas que a gente tem que desconfiar? – questionou Changbin nos deixando pensativos mais uma vez.
– Felix! – ouvi meu nome ser chamado e olhei atento para onde veio o som torcendo para ser Han e Jeongin com notícias. – Você pode entrar novamente! – disse um anjo que havia saído da sala de Rafael.
– Mas já? – questionou Chris surpreso.
Sem dizer nada aos meus amigos, já sentindo que eu realmente não tinha mais nada a dizer, me levantei e segui para a sala do arcanjo. Me virei para olhar nos olhos deles e dizer "Cuidem dele!" uma última vez já que não sabia o que poderia acontecer dentro daquela sala. O semblante preocupado de meus amigos foi doloroso de ver. De alguma forma parecia que eu estava caminhando para a forca, o que realmente parecia ser o que estava acontecendo já que dentro daquela sala o que me espera é desconhecido.

– Sente-se, Felix! – pediu Rafael sereno como antes.
Do lado esquerdo da sala estavam minha criadora e o demônio de sua linhagem, Agares, duque infernal do Oriente. Do meu lado direito estavam meu criador e Jeliel, anjo do bom relacionamento e amor. Me sentei bem no centro da sala, de frente para Rafael. De repente a luz angelical e forte que emanavam do arcanjo se dissiparam. Ele estava agora em sua forma angelical, forma mais simples, quase similar à forma humana. Agora era possível distinguir bem suas características físicas e entender seu semblante, que no momento ainda estava sereno. Ele veio até perto de mim e se sentou cara a cara comigo.
– Caro, Felix – ele iniciou olhando no fundo de meus olhos e ganhando minha completa atenção – Inicialmente, antes de começarmos essa conversa, gostaria de te deixar a par de algumas coisas, até para que você se tranquilize um pouco, certo? – assenti com a cabeça – Primeiramente, entenda que estamos tomando o maior cuidado possível com seu caso. Você é um ser inteiramente novo do qual não temos conhecimento, mas que queremos entender bem e saber como proceder para que não seja feita nenhuma injustiça com você. Até porque, afinal você sempre fez bem seu trabalho, até quebrar uma das regras principais. – ele fez com que eu me arrepiasse ao constatar meu erro novamente – Então, lhe faremos algumas perguntas e precisamos que você as responda com a maior sinceridade possível para que possamos ser justos com você. Entendido?
– Sim!
– Ótimo! Vamos prosseguir, então! – o arcanjo se levantou novamente, mas continuou no meio da sala – Inicialmente queremos entender quando que esses sentimentos pelo seu protegido começaram. Pode nos explicar?
– Eu não me recordo exatamente quando começou, só sei que sempre me importei muito com ele e em fazer meu trabalho direito uma vez que sabia que haviam expectativas de todo o além em cima de mim. Ver meu humano sofrendo no inicio era como se eu não estivesse cumprindo bem minha tarefa, era desesperador e eu queria correr pra consertar. Mas acho que as coisas mudaram mesmo quando ele me viu pela primeira vez. – disse me recordando do dia do sequestro de Hyunjin.
– Nos explique, por favor! – pediu Rafael.
– Ele foi sequestrado e a única forma que encontrei de tirá-lo daquela situação era entrando em sua dimensão e o tirando dali. Não era pra ele me ver, mas ele viu, então o ajudei a fugir logo. Ele demonstrava gratidão e eu senti, pela primeira vez, como se tivesse fazendo algo certo, alguém estava feliz com os meus atos e ainda por cima era meu protegido. Nos dias depois, mesmo que eu tivesse sumido e tentado criar uma má impressão nele, ele ainda pensava em mim e ainda queria me ver, me procurar. Eu queria que ele me esquecesse, mas... me fazia bem ver que ele não tinha me esquecido. Pra resumir, Hyunjin me fez sentir muitas coisas que nunca havia sentido e eu gostava daquilo, me sentia bem perto dele e queria fazer o mesmo por ele. Ele é tudo pra mim. – finalizei agora notando o sorriso bobo em meu rosto por me lembrar de meu namorado.
– Se me permite, Rafael. – Jeliel pediu a palavra para o arcanjo que assentiu – Nós todos temos uma boa convivência aqui no além. Mas dependendo de nossa posição, sabemos muito bem como essas relações podem ser mais complicadas de se sustentar. Normalmente um guardião não passa por isso, já que estão em maioria, portanto, costumam se entender bem. Mas não é o caso de Felix. Portanto, o que quero dizer é, o fato de ele ter tido a primeira experiencia com esses sentimentos que sentiu com o seu humano, fez com que ele se aproximasse dele de forma a entender mais o que se passa na vida dele do que na vida de um guardião. Ele sentiu... empatia.
– É um bom argumento, Jeliel, meu caro, mas ainda assim, Felix quebrou regras. Ele não simplesmente apareceu para seu humano várias vezes como também iniciou uma relação romântica com ele. – Rafael constatou – Por mais que seus sentimentos sejam puros e reais, o que podemos fazer sobre isso?
– Quais são nossas opções, senhor? – questionou meu criador.
– Felix deve ser tirado de seu posto de guardião de Hyunjin, isso é um fato. – Rafael disse fazendo com que eu sentisse um peso tão grande em meu coração que me deixou incapaz de reagir, a não ser por uma lágrima que escorria pelo meu rosto – Agora devemos decidir se Felix trocará de oficio, qual seria seu novo oficio, se o colocaríamos em treinamentos...
– Eu ainda poderei vê-lo, certo? – interrompi o arcanjo sem querer – Me desculpa... Mas, eu ainda poderei...
– Claro que não, jovem guardião. – Rafael disse sereno.
Meus olhos estavam carregados de lágrimas que logo começaram a percorrer meu rosto. A dor no meu peito era tão intensa que era como se meu coração pudesse explodir a qualquer momento. Eu estava de joelhos no chão na tentativa de implorar por ele, mas sem conseguir pronunciar palavra alguma. Todos pareciam chocados com minha reação, então também não souberam reagir. Era como se eu estivesse sendo torturado quando na verdade eles consideravam que estavam sendo benevolentes comigo. De repente, as palmas de minhas mãos começaram a queimar, a dor estava se transformando em raiva. Minhas asas abriram e eu me levantei do chão enquanto todos me olhavam perplexos dizer:
– Ninguém vai tirar ele de mim!

A Segunda Queda   |   HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora