Capítulo 4

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- Você precisa se acalmar – disse Chris enquanto estávamos sentados naquele mesmo local que estivemos na véspera de conhecer meu humano – Até agora você tem feito um ótimo trabalho. Claro que você vai vivenciar coisas incomuns que ninguém te disse que iria acontecer, aliás você é uma novidade.
- Eu odeio isso – disse apertando minhas próprias mãos.
- Eu acho que você se preocupa demais. Estão todos satisfeitos com o seu trabalho até então. Imagino que o seus sentimentos estejam confusos, o que Jeongin lhe disse faz sentido e agora que você tem conhecimento disso, tente não se preocupar tanto já que você sabe que deve ser normal.
- Eu beijei ele... – soltei sem querer.
- E o que tem? - Chris perguntou – Isso é comum quando notamos que nossos protegidos não estão bem. O beijo de um anjo pode acalentar e fora isso só vai nascer uma pintinha no lugar.
Permaneci em silêncio por um longo tempo sem saber mais o que falar. Eu não entendia o que estava acontecendo ainda, então nem tinha como debater. Chris analisava meu rosto com uma expressão curiosa enquanto eu permanecia em silêncio e tentava respirar fundo.
- Você disse que a dor dele surgiu do nada, né? – Chris questionou.
- Sim!
- Deve ser por isso. Você se assustou ao notar uma dor profunda aparecer tão subitamente nele e acabou por se preocupar. O cordão nos deixa mais sensíveis com nossos protegidos. Foi um susto, mas vai passar. – meu amigo disse enquanto afagava minhas costas.
Chris definitivamente era o melhor para pedir conselhos. Ele não julgava, era cuidadoso, claramente se importava e estava ali sempre disponível. Fora o seu talento em conseguir acalmar qualquer um com seu afago (menos o Han).
- Tenho que ir agora, amigo. Estou supervisionando alguns anjos novos e alguns são muito agitados – ele me fez rir com sua expressão de impaciência – Mas se precisar pode chamar!
- Obrigado – disse ao lhe abraçar antes de ir embora.
Voltei para observar Hyunjin e o vi dormindo em sua cama. O menino falava acordado de vez em quando, mas suas palavras eram completamente inaudíveis. Às vezes eu analisava seus sonhos para entender o que acontecia, mas esses faziam tanto sentido quanto suas palavras. Fui capaz de ver uma leve pinta se formando em baixo de seu olho esquerdo onde eu havia beijado. Espero que não seja algo que ele desgoste ao notar. Seu rosto é tão bonito, como o de um príncipe. Agora mais do que nunca eu quero me esforçar para que tudo dê certo para ele e que suas dores repentinas não apareçam mais.

Hyunjin agora tem 17 anos e está no último ano da escola. Tira boas notas, tem muitos amigos e consequentemente muitas inimizades. A maioria das pessoas que não gostam de Hyunjin sentem isso pelo mesmo motivo que o protegido de Jeongin: implicância. Mas hoje o protegido de Gin e Hyunjin são amigos. As coisas vivem em constante mutação na vida desse garoto uma vez que ou as pessoas o olham e se encantam ou criam antipatia. Essa deve ser a consequência de se ter um ser incomum como guardião.
Hyunjin afinal de contas gosta de sua pinta em baixo de seu olho, consequência do meu beijo. E hoje ele tem várias outras espalhadas por seu corpo uma vez que seu humor variava constantemente e eu, que não consigo vê-lo chorar sem sentir culpa, o beijo na intenção de curar aquela ferida que infelizmente sei que se abrirá novamente.
Hoje, Hyunjin voltava para casa depois da aula animado com a chegada da formatura. O dia estava começando a escurecer e ele voltava novamente pelo pior caminho que ele poderia ir e eu o sigo vagarosamente querendo gritar em seus ouvidos "PARA QUE VOCÊ COMPLICA MEU TRABALHO?". Reviro meus olhos sempre que ele começa a entrar pelo beco. Mas dessa vez acabei encontrando Minho por ali.
- Mas que coincidência, se não é meu anjomônio preferido – ele disse se aproximando e logo me abraçando – Como ta o trabalho?
- Tá tudo certo! Eu ainda me sinto confuso com algumas coisas, mas eu tento manter a calma e tudo tem estado sob controle. – disse sorrindo para meu amigo – O que você tá fazendo aqui?
- Tava cuidando do meu humano. Ele mora aqui perto. Influenciei ele a arranjar encrenca e foi muito bom – ele começou a rir – eu nem faço muito, eu simplesmente...
- O que, cara? – perguntei rindo esperando o desfecho da história, mas agora Minho mantinha o olhar curioso e fixo em algo. Não que isso seja incomum, ele não liga tanto para as coisas a ponto de focar intensamente nelas.
- Por acaso aquele é o seu... – ele apontava para trás de mim.
No mesmo instante meu coração parou. Hyunjin estava sendo arrastado a força para dentro de um carro desconhecido enquanto se debatia. Eu saí correndo em sua direção e o carro acelerou para longe. Eu nem raciocinei antes de abrir minhas asas e ir atrás do carro com toda a velocidade. Eu não conseguiria entrar no carro uma vez que estou me sentindo aflito e tenho medo de não conseguir me concentrar e continuar na dimensão que devo ficar.
Eu sentia o nervosismo e agonia de Hyunjin em meu peito que ficava mais e mais dolorido a cada minuto. "O que eu faço?" eu repetia para mim mesmo na intenção de tentar manter a calma e pensar logicamente na melhor solução, mas isso era impossível uma vez que eu só conseguia focar no medo que Hyunjin sentia. Tentava mandar para ele energias positivas para acalma-lo um pouco, mas a tentativa foi em vão, pois a dor que ele sentia agora parecia triplicar dentro de mim. Senti uma lágrima escorrer pelo meu olho. Nunca voei por tanto tempo. Eu odeio minhas asas, então quase nunca as usei, o que faz delas mais fracas do que deveriam ser. Mas mesmo que elas pudessem se desintegrar a qualquer momento, eu não iria desistir de salva-lo. Ninguém vai ousar tocar no meu garoto.

A Segunda Queda   |   HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora