Capítulo 26

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Eu já estava pressentindo que o pior poderia acontecer pelo ódio e rancor que sentia exalar do corpo de Kim. Olhei para Jeliel que entendeu o que eu tinha intenção de fazer e assentiu. Tentei sair de fininho pela multidão de pessoas que agora olhavam chocadas para o anjo que começava a cair. Ele tem raiva, rancor, inveja de mim. Ele já viu Hyunjin antes, e caso tenha a intenção de me machucar quando cair, ele saberia exatamente para onde ir. Voltei para a terra o mais rápido que pude e fui direto para casa de meu protegido. Devia ser meia noite naquele momento, então corri para sua janela e bati nela para que ele abrisse e eu pudesse tira-lo dali e o esconder.

Hyunjin estava deitado em sua cama, provavelmente começando a cair no sono, então bati um pouco mais forte em sua janela. Ele levantou a cabeça levemente para me olhar e assim que me viu pulou de sua cama. Deve ser o deja vu mais gostoso que já senti.

– Felix! – ele disse risonho enquanto abria a janela – Você voltou pra mim! – ele me beijou.

Era para eu estar correndo dali com ele, mas o fato de eu ter passado perto da chance de ter que viver uma eternidade sem vê-lo, fez com que eu me dispersasse por alguns segundos e aceitasse seu beijo. Coloquei minhas mãos em seu rosto lhe trazendo para mais perto. Era um alivio senti-lo de novo.

– Eu estava morrendo de medo de não te ver mais! – ele disse ofegante ao se afastar do beijo.

– Amor, nós precisamos sair daqui agora. – disse rapidamente.

– Que? Como assim? Pra onde você quer ir? – ele demonstrou confusão.

– Quero só ter certeza de que você vai estar a salvo pelas próximas 24 horas. Você confia em mim? – estendi a mão.

– Sim, mas... os meus pais...

– Eu consigo lidar com isso depois. Mas precisamos ir agora! Vá se trocar! – pedi urgente para ele que apenas assentiu e correu para trocar de roupa e pegar uma mochila com coisas essenciais.

Saímos dali e fomos direto atrás da moto que Minho tinha conseguido para mim. Eu comecei a pilotar para muito longe dali, nem sabia exatamente para onde. Eu não sei se Kim vem de fato atrás de nós e, se vier, se ele saberá nos localizar de outra forma, mas, por enquanto, eu só tinha que me esconder com meu protegido até que o próprio além saiba lidar com ele. Lidar com um anjo caído não é fácil. Os anjos mais fortes acabam equiparando forças com ele. Sua rebeldia não está apenas em sua cabeça e seus atos, está também no seu físico.

Me recordei que no caminho que fizemos no dia do aniversário de Hyunjin, notei um local mais afastado que tinham alguns chalés para alugar. Decidi ir para lá com ele por enquanto. O céu escurecia mais do que nunca. Parecia que um tornado iria assolar o local a qualquer momento e isso fez com que eu me apressasse mais ainda em manter meu menino protegido.

– Você pode me dizer alguma coisa sobre isso? – Hyunjin questionou enquanto entrávamos no chalé que aluguei.

– Na verdade não, mas pode confiar que vai ficar tudo bem! – disse finalmente podendo respirando fundo e admira-lo novamente.

Parece que foram anos desde a ultima vez que o vi, quando na verdade se passou no máximo um dia. Sorri para ele que ao notar minha expressão veio direto para meus braços e me beijou novamente.

– Eu já estava com tanta saudade de você – disse e beijei a ponta de seu nariz.

– Obrigado por voltar. Eu precisava muito que você voltasse para que eu pudesse te dizer uma coisa. – ele disse segurando em meu rosto.

– O que? – questionei curioso.

– Felix, eu...– ele foi interrompido por um estrondo forte que se parecia com o barulho de um trovão.

Ele se encolheu para mais perto de mim ao mesmo tempo que me puxou como se fosse para me proteger. Eu ri de sua reação e acabei ganhando um tapa no braço por isso. O puxei pela mão para perto de mim novamente, e segurando firme em seu pescoço lhe beijei. Ele passou ambos os braços ao meu redor e senti ele suspirar em meio ao nosso beijo. Se fosse fisicamente possível nossos corpos já teriam se fundido com o tanto que nos puxamos um para mais perto do outro. Antes que notássemos, inconscientemente – ou talvez não – fomos até a cama durante nosso beijo e nos jogamos na mesma, causando um pequeno riso que nos fez pausar o beijo novamente por alguns segundos. Parecia que o fato de termos passado o sufoco de quase ter nos separado pela eternidade fez com que aproveitássemos o momento em que estávamos juntos novamente para demonstrar tudo que deixamos de demonstrar antes, cada carícia, cada toque, cada beijo era novidade. Eu estava ciente de que tudo que ele desejasse eu o daria agora, não havia mais como me segurar perto dele. Eu quero mostrar que eu posso e vou dar a ele tudo que ele quiser só para vê-lo feliz e satisfeito ao meu lado. Seus suspiros me faziam acreditar que ele estava entendendo a mensagem que eu queria passar e que estava disposto a continuar a recebendo. Eu amo esse homem.

Agora, ele dormia em meus braços enquanto o dia amanhecia cinza. Tento curtir o presente e o fato de estar com ele novamente tão pertinho de mim, mas não deixo de me preocupar com o que pode estar acontecendo no além. Será que foi a melhor decisão traze-lo para um lugar distante comigo? Será que ele está mais vulnerável aqui? Sei que farei o possível e o impossível por ele, ainda mais agora sabendo da minha capacidade de me transformar em dois seres diferentes. Mas ainda assim, não deixo de me preocupar. Ele se moveu na cama saindo de meus braços, então decidi aproveitar o  momento para ver se eu conseguiria saber de alguma noticia do além.

Fui ao banheiro e lá entrei em minha dimensão. Escrevi um recado para meus amigos no intuito de saber o que estava acontecendo e se as coisas já estavam sob controle. Peguei uma pena minha, prendi no recado e enviei. Espero receber boas noticias o mais rápido possível. Era só o que eu precisava agora depois de todo esse sufoco para que eu possa respirar relaxado. Voltei para a dimensão humana e sem querer acabei reparando no meu reflexo no espelho. Meu cabelo bagunçado por culpa de meu protegido entregava o fato de que até seres celestiais podem ficar com a aparência comprometida de vez em quando. O arrumei para que assim que eu voltasse para junto dele, ele ainda pudesse imaginar que eu sou o ser perfeito que ele idealiza, até porque, mesmo sabendo que não chego nem perto do perfeito, quero que ele mantenha a admiração por mim, talvez como uma armadilha para que ele nunca pense em sair de perto.

Após arrumar meus cabelos, voltei para o quarto já sentindo falta do calor de Hyunjin, mas acabei por me deparar com uma cama vazia.

– Hyunjin? – chamei.

Caminhei até a cama, olhei ao redor do quarto vazio até reparar que no chão havia uma pena preta que ainda chamuscava nas pontas. Meu coração congelou, meu estômago embrulhou, mas meus olhos começaram a arder novamente. Não era mais questão de medo. Agora era questão de ódio.

A Segunda Queda   |   HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora