A Segunda Queda | Hyunlix

Capítulo 22

     Vamos deixar uma coisa bem clara sobre o além e toda sua história. A primeira queda de um anjo ocorreu sim com aquele chamado de Lucifer, mas todo o processo e todo o decorrer da história foi totalmente distorcido pelos humanos em seus livros. Chefe criou todos os seus anjos e toda a hierarquia para que pudessem auxiliar e coordenar uns aos outros no processo de coordenar a terra. Muitos desses anjos não entram em contato com Chefe em si, na verdade, poucos já estiveram em contato com Chefe. As orientações são passadas de boca a boca e todos nós sabemos que podem haver mal entendidos no caminho. Cada anjo tem sua personalidade, peculiaridade e missão, portanto, cada um tem seu ideal do que é melhor e do que Chefe quer. Agora imagine o maior e mais poderoso telefone sem fio do mundo. Isso foi o que gerou a primeira queda de um anjo. No final das contas, Lucifer podia até imaginar que estava brigando com os ideais de Chefe, quando na verdade estava brigando com os ideais de uma informação A que chegou a ele como informação Z.
     Diferente do que os seres humanos pensam, após sua queda, Lucifer não virou o que seria um arqui-inimigo de Chefe, na verdade, ele nunca deixou de trabalhar para ele – pelo menos essa parte os medievais entenderam bem. Lucifer e seu exército de anjos caídos continuavam ali para trabalhar para Chefe, mas por seus próprios meios. Ele coordena a parte dos demônios, mas ainda assim ele não tem a última palavra. Inferno? Invenção! Purgatório? Também! Cada ser humano que existe está aqui por um motivo, equilibrando as coisas e deixando com que tudo fique dentro dos conformes. Claramente, como já disse antes, guardiões podem acabar se excedendo e sendo afastados de seus trabalhos assim como seus protegidos. Mas o que importa realmente é entender que o além pode ser mais complexo do que parece. Ninguém sabe o que exatamente acontece caso quebremos as regras. Ninguém sabe se necessariamente todos seres celestiais sempre dizem a verdade sobre seus trabalhos. Ninguém sabe, exceto Chefe. Chefe sabe tudo, mas nos deixa livres para fazermos exatamente o que precisamos fazer. Afinal, assim como seres humanos balanceiam o mundo, seres celestiais também o fazem. Por que as coisas acontecem assim e quando Chefe interfere ou deixa de interferir? Não sabemos e nem ousamos questionar. Mas sabemos que quando ele sente a necessidade de interferir, ele o faz, mesmo que não tenha acontecido muitas vezes.
     Chegando no além, fomos os cinco atrás de Seungmin e Han para conversarmos sobre toda a situação, o que admito não saber exatamente do que se trata, afinal, como Hyunjin e eu estamos ligados à segunda queda? Será que serei eu quem cairei? Estamos trabalhando com probabilidades aqui, portanto tudo pode acontecer. Enquanto caminhávamos para onde pudéssemos encontrar nossos amigos, percebia que o além funcionava normalmente, não havia caos, mas todos me olhavam quando eu passava. O além já passou por uma queda antes, mas foi há muito tempo atrás e hoje as coisas não podem parar de funcionar por causa disso. Ouvimos um pigarreio que fez todo nosso grupo se virar. Atrás de nós estavam meus criadores me encarando com expressões que eu não tinha certeza do que podiam significar.
- Eu vou morrer? – perguntei sem pensar arrancando um riso abafado de Minho.
- Felix, Changbin e Chris, precisamos conversar. – disse meu "pai".
- A gente vai ficar sem saber da fofoca mesmo? – questionou Minho.
- Mais tarde o além inteiro vai saber – disse minha "mãe".
- Felix – meu "pai" começou – É verdade que você entrou em contato com seu protegido e está em um relacionamento com ele?
- Sim – disse baixo me recordando de Hyunjin e temendo por ele.
- Quanto tempo tem isso?
- Alguns meses... por volta de cinco ou seis meses pra ser mais exato – ambos os meus criadores suspiraram.
- Você sabe o quão problemático isso é? Você se atrelou emocionalmente com um ser humano, o cordão de vocês continua intacto e provavelmente vai ser muito difícil de quebrar, você interfere diretamente nas coisas da vida dele fazendo com que ele tenha privilégios, ele pode estar a poucos passos de saber quem é você e descobrir tudo sobre o além e você ainda arrastou dois de seus amigos pra essa situação.
- Nós entramos nessa situação por conta própria, senhor. – disse Chris.
- Isso também me intriga! Por que? - meu "pai"devolveu a pergunta.
- Porque Felix é nosso amigo, nós o amamos e nunca o vimos tão feliz quanto agora. O amor dele pelo seu humano é genuíno! Não é apego ou carinho, é amor romântico. - Chris respondeu calmamente, com um tom sereno.
- Apenas humanos sentem amor romântico. - meu "pai" constatou como se chamasse Chris de louco.
- E apenas existiam anjos e demônios até vocês dois criarem Felix! – disse Changbin.
- Touché! - minha mãe disse do fundo da sala.
- Tudo sobre mim sempre foi anormal, diferente, novidade... eu sempre estive em um limbo entre anjos e demônios. Hyunjin é a única pessoa no mundo que fez com que eu sentisse como se eu me encaixasse em algum lugar.
- Hyunjin não saberia, ele é um humano. - meu pai demonstrava estar começando a perder sua paciência.
- Talvez eu também seja. - respondi sem pensar muito.
- Não seja tolo, Felix! Você tem asas, poderes celestiais...
- Porque eu vim de seres celestiais distintos, não de humanos... mas de uma coisa eu tenho certeza: eu não sou um anjo e nem um demônio.
     Todos fizeram silêncio na sala por um momento. Tudo era plausível. Sempre tentamos entender o que eu era, mas eu era desconhecido, porém ninguém nunca deu o braço a torcer sobre isso, ninguém nunca aceitou não ter respostas sobre mim, até porque não ter respostas sobre algo dá medo, algo que seres celestiais nunca se permitiram sentir.
- E então... foi Kim que contou sobre mim? - questionei a todos dentro da sala.
- Quem?
- Kim... ele descobriu e... como vocês souberam?
- O boato está correndo por todo o além há algum tempo. - minha "mãe" disse - Mas todos ignoramos ele até então, já que boatos são...bem, boatos.
- Quanto tempo? - perguntei mais confuso do que antes.
- Foi por isso que pedimos para você não vir para cá. O boato começou e para que você não fosse bombardeado pelas perguntas e acabasse não tendo como esconder, pedimos para você se afastar e acabamos por nos afastar também para ver se conseguíamos mascarar tudo.
- Parecia que quanto mais falávamos sobre tudo que estava acontecendo, mais confusos ficávamos.
- Então, por que me chamaram hoje? - me recordei da pressa em que viemos para o além, me privando inclusive de me despedir de meu protegido.
- Por que hoje foi feita uma denúncia sobre você. Deixou de ser um boato para ser uma acusação. - meu "pai" finalizou.
     Enquanto eu me preparava para fazer mais questionamentos, ouvimos uma batida fraca na porta, mas que ecoou por toda a sala. São eles!