Capítulo 5

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Lapis fugia. Havia notado uma estranha nave se aproximar de seu planeta logo após Peridot sair dele e sabia que não era um bom sinal.

No começo, queria reagir. Queria voar até lá e usar toda sua energia para fazer a nave desaparecer, entretanto, quando viu que a nave era o dobro da de Peridot e de cor avermelhada, reconhecia que não tinha a menor chance.

Elas tinham ido até ali para buscá-la e mandá-la de volta ao Planeta Natal. E isso era o que ela mais temia.

Então fugiu. Evitou pensar demais e só voou pela direção oposta, o mais veloz que conseguiu. Um planeta em específico surgiu em seus pensamentos. Seria esse seu novo lar, se conseguisse despistá-las.

E esse planeta se chamava Terra.

✧✧✧

Passou a viagem pensando em Peridot. Estava arrependida de não tê-la impedido. Devia ter feito quando teve a chance e agora ela estava de volta ao Planeta Natal e nunca voltaria. Ela estaria bem? Estranhava o sentimento que lhe dominava quando pensava nela. Nunca havia sentido antes e não fazia ideia de como mudar isso. E no fundo, por mais que negasse, ela não queria mudar.

Não estava irritada com ela por ter denunciado sua localização. De alguma forma, sabia que não havia sido sua intenção. Não queria admitir para si mesma, mas sentia sua falta.

Enxergou o pequeno planeta azul minutos depois. Estava da mesma forma que se lembrava e esperava que seu interior também estivesse.

Observou atrás de si antes que adentrasse a atmosfera. Parecia limpo. Havia conseguido despistá-las.

Assim feito, pousou o mais rápido que pode, caindo de joelhos. Estava exausta. Sentia os ouvidos zumbirem e o corpo pesar. Precisava descansar.

Só quando seus ouvidos se ajustaram que notou o ambiente ao seu redor. Havia muitas vozes, gritos. Sons de armas, espadas, tiros. Levantou-se rapidamente e notou o chão cintilante, com fragmentos de gems por todos os lados. Armas quebradas, bandeiras erguidas.

Gems de todos os tipos lutavam entre si. Percebeu um trio de gems que liderava a batalha: uma fusão, uma Pérola e uma Quartzo. Pareciam determinadas a vencer.

Precisava fugir, não tinha como ficar ali, no meio de uma guerra. Era tão ruim quanto ser levada ao Planeta Natal.

Havia acabado de abrir suas asas quando sentiu uma pressão nas costas e pufou.

✧✧✧

Lapis estava livre depois de tanto tempo. Havia passado os últimos séculos em um espelho e graças a Steven, podia voar mais uma vez.

Assim que ele curou sua gem rachada, voou para o Planeta Natal. Não tinha como ainda estarem procurando por ela e, mesmo que estivessem, não se importava. Precisava encontrá-la.

E a encontrou.

Peridot.

Ela estava saindo do salão de sua Diamante e parecia concentrada em uma tela translúcida que era emitida de seu realçador de braço.

Não pôde evitar de sorrir. Ela continuava do mesmo jeito que se lembrava.

— O que está fazendo? — perguntou assim que pousou a frente dela.

Peridot ergueu o olhar e a analisou por um milésimo de segundo antes de prendê-la em uma esfera de energia semelhante a uma bolha.

— Ei! Por que fez isso? – ela tentava se libertar dali sem sucesso.

— Você é a Lapis Lazuli fugitiva, não é?

— Do que você está falando?

— Minha Diamante ficará feliz em vê-la – sorriu e ergueu levemente o braço estendido para que Lazuli ficasse no ar.

— Por que está fazendo isso? Você não se lembra de mim?

— Lembro perfeitamente de minha Diamante me alertar sobre você e que eventualmente me procuraria e eu deveria enviá-la para ela. É isso que estou fazendo. – Explicou com a maior naturalidade do mundo.

— Não consigo acreditar. Eu passei milhares de anos dentro da droga de um espelho ansiando para vê-la para você ficar de brincadeira comigo? – Lazuli disparou.

— Não sei do que está falando. Mas estou achando hilário – riu.

— Estou falando do 22-b! – Peridot parou de caminhar – Do meu planeta... Do nosso planeta. – Lazuli corou ao dizer. Não era algo que queria admitir tão cedo.

Peridot manteve-se parada por mais um tempo. É como se ela sentisse que devesse se lembrar de algo. Por que aquele nome lhe era tão familiar? Por que de repente sentiu que não deveria estar fazendo isso com sua prisioneira?

— Nosso planeta... – murmurou, como se precisasse sentir o gosto das palavras para se lembrar.

Subitamente caiu de joelhos, com as lembranças a atingindo com tudo. Todos os momentos ao lado de Lazuli, os momentos que pensou nela, a última vez que a viu e o que lhe ocorreu antes que perdesse todas suas memórias.

Lazuli correu até ela assim que a esfera se desfez — Você está bem? – se ajoelhou e colocou a mão no ombro da outra que pressionava ambas as mãos dos realçadores na cabeça.

A outra permaneceu da mesma forma até sua forma física começar a brilhar e assim que a luz se esvaiu, se virou e abraçou Lazuli.

— Me desculpe. Eu não devia ter te deixado. – comentou baixo.

Lapis levou um tempo para processar até entender o que havia acontecido com ela. E quando entendeu, retribui o abraço fortemente.

— Eu é que deveria ter te impedido... Na verdade, nunca quis que fosse embora.

Peridot se desvencilhou do abraço – Bom, admitiu tarde demais.

A outra lhe deu um soco de brincadeira no braço – E não me assuste mais assim!

As duas começaram a rir, como nos velhos tempos.

— Ali estão elas! – ouviram uma Rubi exclamar e sons de passos correndo vindo em sua direção. Eram Topázios e Rubis prontas para prendê-las.

Lapis se recompôs e lhe estendeu a mão – Vamos fugir. – repetiu no mesmo tom que a outra disse anos atrás.

— Achei que nunca fosse dizer – Peridot segurou a mão dela.

— Achou errado. – A mesma abriu as asas e voou com ela.

Pela primeira vez, ambas não recusaram e nem fugiram de seus sentimentos. Estavam bem juntas. E para elas, só isso importava. 

mission kepler 22-bOnde histórias criam vida. Descubra agora