mission kepler 22-b

Capítulo 1

Devo admitir, a vista que eu tinha da minha nave era linda. Nebulosas, estrelas, planetas e asteroides decoravam e preenchiam o vácuo do espaço.

A viagem estava indo perfeitamente bem. Mal podia esperar para explorar o tal planeta que logo seria uma colônia da minha Diamante e receber todo o crédito por isso.

Ok, talvez não. Mas só de saber que Diamante Amarelo havia confiado a mim uma missão intergaláctica era o suficiente para me sentir no topo do universo.

Observei o planeta esverdeado ficando maior conforme eu me aproximava dele. Exteriormente ele tinha algumas linhas brancas por sua atmosfera, parecendo o que havíamos estudado em outros planetas que conhecíamos como nuvens. Abri um sorriso. Isso queria dizer que havia umidade e, portanto, havia uma grande probabilidade de haver água em seu interior.

Apertei os controles necessários para adentrar a atmosfera do Kepler 22-b e pousar em segurança. Assim feito, me levantei da cadeira de piloto e saí da nave em seguida.

O ar era úmido e as nuvens tornavam o céu do planeta totalmente nublado, com poucas frestas por onde a estrela mais próxima Kepler 22 iluminava. O solo alternava-se entre montanhoso e plano, dividido em pequenas ilhas pelo oceano que não parecia ter fim. Me aproximei da borda da ilha e examinei a imensidão do oceano. Era de um azul transparente e não parecia haver vida orgânica ali. Não por enquanto.

Suspirei. O oceano poderia ser um problema, já que para que pudéssemos criar vida gem precisaríamos de mais partes rochosas, mas quem sabe pudéssemos usar como jardins de Pérolas?

Liguei meu diário de bordo presente no meu realçador de braço direito quando fui interrompida por uma parede fina de água dividir o solo onde eu estava de todos os lados e desaguar no oceano. Reprimi um grito e virei na direção de onde a parede veio.

Reconheci facilmente a gem que se localizava a alguns metros do chão, com asas de água saindo de suas costas e pele azulada.

— Uma Lapis Lazuli – murmurei me recuperando do susto. É claro. Como pude esquecer que essas gems da corte azul sempre tentavam interromper o trabalho das colônias da corte amarela? - Qual é. Não há um planeta nesse universo que vocês não arruínem? – perguntei levantando a voz.

Em resposta, ela me lançou uma nova parede de água e quando percebi, estava imersa em uma mão gigante de água. Ela mudou a posição de sua mão e agora me segurava apertando o punho.

— Este planeta é meu. O que faz aqui? – ela indagou entredentes.

— Eu que te pergunto – rebati e olhei ao redor, lutando para ela me soltar – Aliás, onde estão as outras? Vocês não costumam ficar sozinhas, gostam de... Como é que vocês chamam mesmo? De terraformar em conjunto, não é?

— E quem disse que eu sou como as outras? – ela me lançou longe e caí de cara. Não soube no momento se ficava feliz por ter caído em solo firme.

Me levantei, tentando manter o mínimo de dignidade que eu ainda tinha. Ela veio voando logo em seguida.

— Esse planeta será uma colônia da Diamante Amarelo e ordeno que você saia.

— Como é? – ela riu – Sem chance. Eu descobri primeiro. Além do mais, o que vocês criarão aqui? Pérolas?

Senti meu rosto esquentar. Ok, não era o recurso mais essencial para a autoridade Diamante, mas já era alguma coisa...

— Saia daqui antes que eu mude de ideia em relação a você sair daqui sem nenhum arranhão - mandou, pousando na minha frente e recolhendo as asas.

Agradeci mentalmente aos meus realçadores por me fazerem mais alta. Imagino o que ela poderia dizer se soubesse que eu tinha metade de sua altura.

— Sair daqui? Sem nenhum arranhão? Eu não vou sair daqui. Além do mais, duvido que consiga fazer qualquer arranhão em mim. Eu sou uma Peridot, pra caso não tenha percebido – abri um sorriso ladino.

Me arrependi de ter duvidado dela na hora.

Meus próximos minutos foram de pura surra. Eu era jogada de um lado para o outro, em solo e em mar. (In)felizmente, eu permanecia consciente todas as vezes.

Quando percebeu que eu não desistiria fácil, bufou e pousou próxima de mim.

— Só... Vá embora e finja que nunca me viu.

Grunhi. Talvez não valesse a pena lutar por um planeta que não rendesse muitos resultados para a corte amarela com uma Lápis Lazuli de guardiã maluca, afinal.

— Bem, para isso eu precisaria da minha... – Ela me interrompeu para trazer a nave até a mim com seus poderes — Ah. Ok.

Me levantei e suspirei. Agradeci mentalmente por não ter um corpo orgânico também, a esse ponto eu provavelmente estaria morta.

Observei ao redor — Você fez isso? Digo, estava assim quando você chegou? — estendi a palma da mão a frente do corpo para mostrar a situação do planeta.

— Já. É por isso que gostei dele. Evita visitas e Peridots indesejadas — Ela contraiu o canto da boca. Acho que aquilo era o máximo que ela podia chegar perto de um sorriso.

Ignorei o que disse — Você poderia se esconder por um momento? Eu preciso gravar o diário de bordo para mostrar à Diamante no meu retorno ao Planeta Natal.

— E como eu poderia confiar que você não iria contar sobre mim? — Ela voltou ao semblante fechado. Imaginei que ela estava doida para acabar com minha gem.

Na verdade, ela poderia ter feito isso. Por que não o fez?

— Bem, você mesma disse para não contar. Além do mais, talvez esse planeta não dê muitos resultados como as outras colônias.

— Então eu só precisei pedir para você? – Ela arqueou uma das sobrancelhas e cruzou os braços – Se eu te pedisse para me dar seus realçadores de membros você me daria?

Corei. Quem ela estava achando que era?

— Não — murmurei.

Ela assentiu e mergulhou no vasto oceano. Aproveitei a deixa para gravar meu diário de bordo e explicar tudo detalhadamente.

Quando terminei, ela não surgiu de novo. Em parte foi um alívio, quem sabe ela tivesse mudado de ideia e estivesse no caminho para acabar comigo?

Entrei em minha nave e subi para a atmosfera, rumo ao Planeta Natal.

Não me repreendi por não ter pego uma amostra do solo. Seria uma boa desculpa para voltar ao Kepler 22-b.