Capítulo 5 - O Jardim de Davínia

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- Vamos lá, isso nem doí – eu falo pelo que parece ser a milésima vez para um Vince aborrecido.

Deus, já fazia mais de uma semana e ele continuava insistindo em não tomar os remédios e muito menos aceitava a aplicação da injeção.

- Não doí porque não é com você

- Acredite, eu já tomei diversas vacinas e tirei mais sangue do que pode imaginar – me aproximo da cadeira, mas ele se afasta de novo – Vince!

- Não vou tomar e pronto – ele faz uma careta e coloca a mão em torno dos olhos – Estou até me sentindo meio tonto, isso é culpa sua

- Se você me deixasse aplicar a injeção não estaria passando mal

- Uma ova que não

Suspiro cansada e olho ao redor do quarto, ainda com a injeção na mão eu olho para Vince de novo e tenho uma ideia.

Ele iria me deixar aplicar nem que fosse forçado

- Tudo bem, que tal assim – pauso e começo a colocar as coisas dentro da maleta bem devagar – Eu faço isso mais tarde, quando você estiver desmaiado.

- Desmaiado? – ele diz e eu aceno séria.

- Sim, porque essa injeção é importante para você conseguir passar o dia sem dores e tudo mais – guardo um frasquinho e vejo com o canto do olho ele me observar desconfiado – Mas tudo bem, daqui a algumas horas eu volto.

- Você está mentindo

- Eu queria estar Vince, mas infelizmente não estou – eu falo e fecho a maleta com um clique silencioso – Bom, eu acho que vou organizar os seus remédios e....

- Aplique logo

- O que disse? – eu falo e ele bufa raivoso

- Aplique logo

Dou um sorriso e tiro a injeção de dentro da maleta junto com o algodão com álcool. Passo de leve e antes que ele se esquive eu aplico, e não posso deixar de sorrir quando o vejo fazer uma careta dramática.

- Viu? Nem sentiu

- Senti sim, não estou morto

- Verdade? – eu falo e começo a guardar de verdade as coisas – Então vou ligar para cancelar o caixão.

- Você é uma moça muito malvada. Não sei como admitiram você como enfermeira

- Do mesmo jeito que você me contratou. Na força do ódio

Ele estreita os olhos e eu sorrio terminando de guardar. Olho de novo para o quarto e faço uma careta para as cortinas ainda fechadas, mesmo sendo quase dez da manhã, o quarto ainda parece meio escuro e mórbido.

- O que? – ele pergunta e eu resolvo falar apontando para as cortinas

- Porque não abre essas cortinas?

- Não sei

Fico confusa e olho de novo para ele. Vince era um senhor bem durão para a sua idade (setenta e nove), mas ele não gosta muito que digam em voz alta. Cabelos brancos, olhos escuros e pele morena, e não vamos nos esquecer que ele tem uma postura de alguém que poderia se levantar a qualquer minuto e te dar um soco no nariz.

- Como assim você não sabe?

- O último medico veio e fechou as cortinas – ele pisca os olhos lentamente e aponta para a janela – Disse que tenho olhos frágeis e que não suportam muita luz

Dou risada e ele faz uma careta chateado.

- Olhos frágeis? Está brincando? – me aproximo da janela e olho como faço para abrir – Se tem alguém frágil nesse quarto sou eu, você é no mínimo delicado.

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