6 | Strange Encounter

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" Tu não podes acordar, isto não é um sonho

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" Tu não podes acordar, isto não é um sonho."

- Gasoline

"Ei, podes agora contar-me o que é que estava naqueles documentos?"

O céu estava escuro e nublado, contudo as poças que o trio tinha de se desviar enquanto percorriam as estreitas ruas da cidade mostravam a chuva que tinha caído durante o dia. Apesar dos esforços, tanto as banhas do vestido de Annie, como as da Katherina estavam repletas de sujidade por embarrarem no chão batido.
    
"O senhor Wilson foi bastante específico quando me disse que queria que questionasses os habitantes primeiro. Tem esperança que consigas ver algo que passaria despercebido aos olhos de alguém com o conhecimento todo."
    
E dizia a verdade. Quando aceitou o dinheiro, o senhor Wilson sussurrara-lhe a hora e o local para lhe contar os pormenores e mostrar-lhe os tão falados documentos. Annie passara a maior parte do dia de olho em Katherina, insatisfeita com o rumo da situação, no entanto quando a jovem saiu para se encontrar com o inspetor ninguém a perseguiu.
   
Na verdade, Katherina se arrependera da sua decisão enquanto estava sentada em frente do Mr. Wilson tentando o seu máximo para manter a sua postura. No início estava animada com toda a informação, não havia muito que mostrar, no entanto o que existia era intrigante, aumentando a sua curiosidade, contudo, ao longo do tempo o inspetor foi-se desviando do assunto, passando a seguinte hora a contar-lhe sobre as suas teorias, os suspeitos, a honra de pertencer à Scotland-Yard, o seu poder, a sua família, as suas tristezas... e a lista continuava.
   
"Quanto queres? Pago-te mais que eles. Fácil."
   
Desta vez Katherina parou e olhou para a dama que caminhava uns passos atrás dela. "Não existe uma forma 'fácil' ou como queira chamar. Aceite que este foi um dos seus pedidos e eu que vou cumpri-lo até que seja implicitamente necessário o contrário."
   
Com estas palavras a jovem continuou o seu caminho, agora num passo mais acelerado por entre as sombrias ruas vazias onde o único som audível era os gritos de animação proveniente de um bordel.
   
"Acho que a chateei um pouco." Annie deixou um suspiro sair-lhe pelos lábios puxando mais para si a sua capa de forma a se guardar do frio. "Vais continuar com esse sorriso estúpido?" O seu olhar voltou-se para o rapaz mais velho que andava ao seu lado. Estava vestido nas suas roupas habituais de mordomo, mas por cima usava um longo casaco negro.
   
"Está a incomodar-lhe?"
   
"Sim, porque isto é culpa tua. Nada disto estaria a acontecer se me tivesses deixado ir atrás dela."
   
"Alguma vez as minhas intervenções não a beneficiaram?"
   
Annie não precisou de usar palavras para o responder, neste caso apenas o encarou com uma sobrancelha arqueada e os olhos sérios, prontos para dar vários exemplos.
   
"Deixe-me reformular. Alguma vez as minhas intervenções que a prejudicaram por um bom tempo, não fizeram sentido e a beneficiaram no fim?"
   
Desta vez a jovem apenas suspirou alto. "Se tu o dizes."
   
A conversa cessou no momento em que o par se cruzou com Katherina. Estava a encarar uma casa em específico, escura de sujidade e sem qualquer janela, contudo a porta abria-se repetidas vezes com a entrada e saída de homens e mulheres alegres.
   
"Se querem saber alguma coisa sobre este caso o melhor é perguntarem àqueles que se afogam na bebida para não pensarem."
   
O olhar do trio voltou-se novamente para a porta quando esta se abriu repentinamente. Um homem saia tropeçando nos seus próprios pés, por momentos pareceu ter reparado no grupo, mas antes que pudesse realmente dizer alguma coisa vergou-se, vomitando o pouco que provavelmente comera.

"Tem um bom tempo lá dentro, Jungkook."
   
Com esta afirmação Katherina pareceu ficar surpreendida.
    
"Não vai entrar?"
   
"Seria apenas energia desperdiçada."
   
Antes que o Jungkook pudesse dar mais um passo em direção à porta, Annie impediu-lhe agarrando-lhe pelo braço com força puxando o seu corpo para perto do dela.
   
Num movimento suave a jovem colocou-se de bicos de pé de forma a atingir o ouvido do mordomo sussurrando, contudo Katherina não conseguira ouvir nenhuma das palavras.
   
Após Annie o libertar ele fez uma vénia educada e sem dizer nada entrou na taberna, deixando Annie e Katherina no meio daquela fria noite.

.......

    Longos minutos tinham passado, mas nenhuma das jovens tinha proferido qualquer palavra. Estavam sentadas num pequeno banco que ficava do outro lado da rua do estabelecimento onde o mordomo tinha entrado. Durante todo esse tempo Katherina parecia estar no seu próprio mundo, os seus olhos negros fixos no candeeiro mais próximo enquanto as chamas lá dentro faziam de tudo para ficar em pé.
   
Annie, por sua vez, estava distraída com os aneis em seus dedos, não olhava para nada em específico, mas a sua mente parecia igualmente ocupada.
   
A rua estava vazia sendo a única exceção um ou outro visitante do estabelecimento.
   
"Sabes que havia formas mais discretas de me esconderem a vossa investigação, certo?" A voz de Katherina pareceu ecoar pelas ruas, contudo o seu olhar não deixara a chama.
   
"Parece que fui apanhada."  Um sorriso fechado brincava nos lábios de Annie, o seu olhar deixara as peças em suas mãos e fixava-se agora na sua companheira. Quando Katherina deixou a sua visão desviar-se para a dama a sua expressão se modificara, olhava-a agora com uma certa curiosidade, como se a estivesse a olhá-la verdadeiramente pela primeira vez. "Sabes, habitualmente é bastante fácil aperceber-me das intenções dos outros, no entanto, por mais que penso não consigo perceber porquê que aceitaste fazer o trabalho chato do Mr. Wilson."
   
"Dinheiro. Não é esse o motivo de todos?"
   
"Contudo não aceitaste o meu, o que demonstra que há uma intenção por trás."
   
"Ter dinheiro de forma justa?"
   
Katherina recusava-se a recuar o olhar do de Annie, mas a cada palavra que a jovem proferia parecia que estes invadiam o espaço com a sua intensidade, ela não parecia apenas olhar para ela, para o seu exterior, não parecia apenas ver.
   
"Podemos acreditar nisso." Com essa frase, a dama desviou o seu olhar, no entanto o sorriso voltara aos seus lábios como se apenas a olhando tivesse lido um longo livro e aprofundando-se em cada esconderijo. Sem mesmo perceber Katherina deixou um pequeno riso seco sair, talvez se rira dos seus próprios pensamentos ou talvez apenas pela forma como a única conversa feita se tornara um tanto constrangedora.
   
Pelo canto do olho, Katherina voltou a observar a jovem. Diferente da noite em que chegara o seu cabelo estava preso num embaralhado de tranças complicadas fazendo com que a sua atenção caísse, pela primeira vez, nas marcas vermelhas no seu pescoço.
   
Qualquer um que olhasse para qualquer uma delas naquele momento não acharia nada de invulgar, porém nas suas mentes sombras dançavam de formas diferentes.
   
No entanto, tal como o silêncio dominara novamente a noite, um grito foi capaz de o quebrar e fazer as duas raparigas levantarem-se num só movimento. No estabelecimento à sua frente as pessoas começavam a sair assustadas e as suas vozes invadiam a rua.
   
"O que-"
   
Antes que Katherina pudesse assimilar o seu espanto, o seu corpo foi agarrado por uma das senhoras. Os seus olhos refletiam desespero e as suas mãos ásperas suavam. As palavras saíam pelos seus lábios numa confusão e os seus braços fortes tentavam puxá-la para a direção oposta.
   
"Senhora."
   
Os seus murmúrios continuavam apesar das tentativas de Katherina de se tentar libertar, todavia tornavam-se mais claros, sendo possível reconhecer palavras como "morrer", "louco" e "sozinha". O cheiro a álcool era claro.
   
"Senhora!" desta vez a jovem aumentou a sua voz, fazendo a mulher acordar do seu transe e a soltar. Por momentos o seu olhar pareceu surpreso, no entanto não demorou muito para uma certa raiva surgir no seu rosto e esta começasse a disparar mais palavras sem sentido.
   
Katherina não deu atenção desta vez, afastava-se enquanto os seus olhos percorriam o lugar. Mais ninguém saia pela porta do estabelecimento e as suas conversas entrelaçavam-se fazendo impossível distinguir uma única palavra, todavia uma vestimenta demasiado cara comparada com os demais ganhou a sua atenção. Annie entrava pelo estabelecimento adentro, evitando cada um que a tentava impedir.
   
Sem mesmo racionar, Katherina correu na mesma direção, desviando-se também de quem a tentasse travar, ainda assim ouvia as suas palavras de alerta, "a próxima" era a expressão que todos repetiam com os seus olhares assustados.
   
Quando entrou no lugar as suas narinas foram invadidas por um cheiro forte, uma mistura estranha entre álcool e algo podre, a sala à sua frente estava vazia, mas o chão estava sujo, preenchido por cacos de vidro de alguns copos que caíram. No canto do compartimento, Annie apoiava-se em uma das paredes, pálida e vergada com a mão em seu estômago, já Jungkook olhava para dentro de uma outra sala que parecia afundada nas sombras.
   
Como que reparando na presença de Katherina, o rapaz virou-se na sua direção, fazendo com o que estava ofuscado pelo seu corpo fosse, agora, revelado, permitindo o seu olhar fixar-se nos vidrados do homem estendido no chão.

Covenant | jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora